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Para Clemildo Machado dos Santos, 27 anos, acordar cedo para trabalhar é motivo de alegria. É com um entusiasmo legítimo que ele executa as tarefas da rotina e ainda busca novas ideias para o local de trabalho – afinal de contas, os motivos para inspiração e energia não faltam, tem sinfonia de passarinhos, muita mata e belezas naturais.
Não é exagero afirmar que Clemildo tem um dos melhores “escritórios” de toda Jaraguá do Sul: dia sim, dia não, ele explora todos os cantinhos do Parque Malwee executando o serviço de vigilante.
“Para ter uma noção, eu saio do serviço, vou dar uma corridinha, uma caminhada ao redor do parque. Saio para correr dentro do trabalho, isso que é legal”, comenta Clemildo. “A maioria dos trabalhos a pessoa fica lá olhando o relógio, aqui quando você percebe os teus colegas estão chegando e você nem reparou a hora”.
É nessa sintonia total com o espaço que ele passa 12 horas de turno orientando visitantes que chegam, cuidando do trânsito, vistoriando os caminhos do parque e mantendo a organização para que todos possam desfrutar de um bom passeio.
Jornadas de lá pra cá
O turno de Clemildo começa sempre às 6 horas da manhã junto com outro vigilante. Ele, que mora em Guaramirim, costuma chegar 15 minutos antes para trocar informações com os guardas do turno anterior.
As cancelas internas e os portões do parque são abertos às 7 horas para receber os primeiros visitantes – normalmente pessoas que querem dar um exercitada, correndo, caminhando ou pedalando.
Durante todo o dia, os vigilantes se revezam em rondas para ver se não tem ninguém vandalizando a estrutura e também para cuidar das pessoas.
“O parque tem 1 milhão e meio de metros quadrados. É muito grande, muitas vezes as pessoas se perdem. E aí você está ali para orientar as pessoas”, destaca.
Essas rondas levam em torno de 45 minutos e são feitas de moto. Clemildo explica que é preciso passar nos caminhos ao redor da lagoa e nas trilhas – existem mais de 6 quilômetros em meio a mata.
“Em um dia se faz umas 5 vezes o trajeto. Chega a rodar aqui dentro 50, 60 quilômetros em um dia”.
Um parque para todos
Durante a semana o público não é tão massivo, mas nos fins de semana costumam circular entre 3 e 5 mil pessoas pelo Parque Malwee.
Especialmente nesses dias de maior movimentação, o trabalho dos vigilantes é garantir que todas as pessoas possam aproveitar o espaço da melhor forma possível, em harmonia. “O parque é livre mas tem essas regrinhas”, comenta.
Os problemas normalmente são carros estacionados de forma incorreta e música muito alta. Coisas que acabam afetando a experiência dos outros visitantes e, no caso do som, os vizinhos do parque.
“Na verdade é tudo um jogo de cintura. Aqui você tem que trabalhar com o psicológico, tem que saber abordar a pessoa. Você tem que impor respeito e ao mesmo tempo não pode desacatar a pessoa”, destaca Clemildo.
Ele conta que faz essa abordagens com bastante tranquilidade, tentando orientar porque a atitude está errada. E o vigilante sempre tem uma dose extra de paciência para voltar ao mesmo local quando as pessoas não seguem a orientação.
Só good vibes
Clemildo trabalha desde março como vigilante do Parque Malwee, mas está há 6 anos nessa profissão. Ele começou na área atraído pelo admiração pelos policiais e também pela ideia de trabalhar armado, garantindo a segurança de outras pessoas.
Mas hoje, não precisar da arma para executar esse papel de protetor tem um impacto positivo em sua vida.
“Antes eu trabalhava em evento, ou em banco, e acaba tendo o psicológico de ver qualquer pessoas e considerar como uma ameaça. Aqui não. Depois que comecei a trabalhar aqui, você se sente, dorme melhor. Porque não tem ameaças”, ressalta. “Aqui você faz amizade com as pessoas. Isso que é legal”.
E é nesse aspecto que Clemildo realmente se satisfaz. Na portaria do parque, recebe cada pessoa com um sorriso largo e um olhar direto – segundo ele, não tem “bom dia” de robozinho, cada saudação tem real intenção.
E na saída, é a chance de saber o que a pessoa achou do tempo que passou dentro do parque.
“Tem pessoas que trocam ideia com a gente ali na portaria e eles acham legal o atendimento que a gente tem. Eles voltam mais vezes. Você dá uma importância para a pessoa, pergunta ideias que podem melhorar o passeio”, conta.
Mais do que um vigia
Da mesma forma que Clemildo, a maioria dos profissionais que atuam dentro do Parque Malwee sentem essa alegria de estar inseridos em um ambiente com natureza abundante.
O vigilante ressalta que se formou uma grande família e todo mundo, independente do cargo na carteira de trabalho, atua para fazer com que o espaço fique sempre melhor.
Clemildo, por exemplo, criou dois projetos junto com a museóloga Elaine Cristina Blick. As duas ideias foram apresentadas e agora estão sendo estruturadas dentro do orçamento.
Uma é a construção de uma academia ao ar livre tendo como foco a grande quantidade de pessoas que usam o parque para se exercitar. E o outro propõe a construção de um mirante logo acima do letreiro do Parque Malwee.
“Eles estão sempre incentivando essa pró-atividade na gente”, ressalta Elaine.
Natureza preservada e belas estruturas fazem o local ter cenários encantadores. Fotos: Natália Trentini e @jeansempreviajando, @jaraguacty e @sil_ateliedavida
Melhor guia
Como todos os vigilantes, Clemildo conhece o Parque Malwee como a palma da mão. Sabe de cada trilha, cada espaço disponível para um churrasco e naturalmente, acaba notando espaços com potencial.
“Eu trago as pessoas aqui para conhecer o que eu conheço, porque a pessoa vem sozinha e não consegue ver tudo em um dia”, comenta.
Quando não está de uniforme, Clemildo não deixa de vir ao parque para poder realmente aproveitar cada pedacinho, sem o olhar de vigilante. Ele gosta especialmente das trilhas mais imersas na natureza.
“Dentro do parque você tem uma visão, do outro lado do parque você está mais no meio da natureza ainda. São estradas de chão batido, trilha ecológica, e você literalmente se sente naquele silêncio, observando a natureza, desde as árvores, os passarinhos. Você vai indo devagar, apreciando, é muito show”, destaca.
Onde ele gosta de estar
É um trabalho que não é trabalho, afinal de contas, Clemildo destaca que não sente aquele peso negativo que muitas vezes vem acompanhado da palavra.
Por conta do ambiente e especialmente das pessoas ao redor, ele se sente sempre muito bem e por consequência desempenha a função muito bem.
Tanto é que quando a terceirizada de segurança do Parque Malwee mudou, a diretoria da empresa questionou se ele gostaria de continuar no posto e garantiu a vaga dela com a nova empresa.
“Eles vieram me questionaram se eu queria permanecer no parque, e quem vai querer sair daqui?”, relembra.
“Eu amo trabalhar aqui. Eu acho que não tem serviço melhor pra mim. Você está em meio à natureza, você está livre, não está preso em uma portaria, travado. Aqui você tem mais contato com as pessoas, está sempre orientando, conhecendo pessoas novas”, finaliza.
Sobre o artigo que você leu
“Na Minha Pele” é uma série que vai te levar a sentir as principais dificuldades e vantagens de exercer determinadas profissões em Jaraguá do Sul. Conheça e entenda aqui o que passam pessoas que estão direta ou indiretamente presentes na sua vida.
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