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Ninguém esquece um bom artilheiro. Bem por isso, o apelido Toto é bem lembrado pelo Brasil a fora, mas especialmente em Jaraguá do Sul, 20 anos depois de Sandro Schmitt ter encerrado carreira no futebol. Desde então, a paixão pelos campos foi substituída por outra: a vocação familiar para lidar com couro.
Foi entre os maquinários do reconhecido e centenário Curtume Arnoldo Schmitt, fundado pelo avô, que Sandro cresceu. Até os 17, 18 anos, ele estava diariamente na empresa, que hoje é administrada pelo pai, Guido Francisco Schmitt.
“Foi uma coisa que eu me identificava na época, mas como eu parti para jogar futebol, eu deixei um pouco de lado essa paixão que eu tinha pelo couro”, conta.
Desde o ponto final da carreira, com 30 para 31 anos, o futebol não teve mais papel profissional na vida de Sandro. Ele segue acompanhando os times locais e jogando, claro, mas sem grandes exigências com o esporte.
Mas nesse retorno para casa, veio o resgate. Sandro abriu uma empresa de confecção de artefatos em couro artesanais que tem clientes em todo Sul do país.
“Eu nasci no meio do couro e me apaixonei”, comenta e destaca o orgulho de ver a empresa do avô ainda de portas abertas, sendo tocada por seu Guido, que está com 82 anos. O Curtume inclusive, é um dos fornecedores de Sandro.
De jogador a empresário
Hoje Sandro Schmitt está bem firmado como empresário, mas o momento de deixar a vida esportiva foi uma grande ruptura, mas necessária.
O jaraguaense acredita que foi o momento certo para parar, pois ele não suportava mais os treinamentos por conta de um rompimento do ligamento cruzado sofrido em 1994, atuando pelo Paraná Clube.
“O que me deixou bastante comprometido com meu joelho e isso fez com que eu encerrasse a carreira precocemente. E não me arrependo por ter tomado essa decisão, pois eu já não aguentava mais, as dores eram muito grandes, com joelho inchado a todo treino, todo jogo”, relembra.
Mas parar de jogar futebol para um atleta profissional é complicado, afirma Toto. Não existe mais a rotina de treinamentos, os grandes jogos, mudam os horários, o ritmo de vida. É uma outra realidade. Mas com o tempo, as peças voltam ao lugar.
“Quando eu parei de jogar futebol todos me perguntaram porque eu não queria ser treinador ou me envolver com futebol. Eu acho que não faz muito parte de mim. Eu não tenho muito essa característica para ser um treinador”, diz.
Mesmo fora do envolvimento profissional, Toto conta que está sempre dando apoio para as equipes locais, sempre presente nos jogos. Às segundas e quintas-feiras era dia de pelada no Clube Beira Rio – isso antes da pandemia.
E o futebol também acompanha ele de outras formas. Das amizades mantidas em grupos do Whatsapp (alguns como Campeões do Brasileiro de 92), às lições fixadas na mente: “O companheirismo, a convivência em grupo. Você saber que você não é o único salvador da pátria, que existem outras pessoas que você precisa ter para poder formar uma equipe boa”, revela.
Como tudo começou
Como acontece com muitas crianças, a aptidão pelo esporte estava ali desde os primeiros anos de vida e foi bem nutrida aqui na cidade mesmo.
Toto começou jogando futebol amador em Jaraguá do Sul por times como o Cruz de Malta e Botafogo nos campeonatos de primeira divisão.
“Geralmente nesses campeonatos eu me destacava, sendo artilheiro, melhor jogador. Nessa época coincidiu que o Juventus ia voltar para a segunda divisão [do Catarinense] e eles fizeram uma consulta e selecionaram alguns jogadores”, lembra.
Junto dele, ele cita jogadores como Moa Garcia, Joça e Renatão que foram escalados para reativar a equipe.
Ali já começou a experiência de ser jogador. Sandro lembra que era um regime semi-profissional. Ele jogava e treinava em um período, no outro trabalhava na empresa do pai e a noite fazia faculdade de Ciências Contábeis em Blumenau.
“Ai coisas aconteceram. Fui muito feliz naquele ano de 90 e dali, como subimos [para a primeira divisão do Catarinense], existia a possibilidade de seguir na carreira ou seguir meus estudos, me formar e seguir uma carreira normal”, relembra.
Sandro conta que a decisão exigiu uma reunião em sua casa, com o pai, que como grande incentivador da carreira do filho, acertou que ele faria uma experiência de um ano no futebol profissional.
Naquele ano, o Juventus ficou em quinto colocado, Sandro foi artilheiro do campeonato e convocado para a Seleção Catarinense de Futebol – para um campeonato brasileiro de seleções que existia na época.
Todo esse destaque durante o ano despertou o interesse de equipes como Flamengo, São Paulo e Corinthians. Foram muitas negociações.
“Fui vendido para o empresário Léo Rabello e emprestado ao Flamengo por 6 meses. Na época, em 1991, eu como jogador profissional fui a maior transação do futebol catarinense naquele ano”, relembra.
Pés no Maracanã
Daquele ano em diante a carreira de Toto começou a brilhar. Foram muito momentos marcantes, muitos jogos memoráveis, incríveis histórias de bastidores… Mas, de pronto, ele afirma: “O momento mais marcante da minha carreira, sem dúvida, foi quando eu coloquei os meus pés pela primeira vez no Maracanã”.
Entrar no estádio para disputar uma partida com a camisa do Flamengo, time de coração da família, foi uma emoção impossível de descrever. Só que melhorou ainda mais porque Sandro marcou 3 gols entre jogos que disputou lá.
“Vocês não tem noção, é uma coisa fora do comum. Jogar um Fla-Flu no Maracanã com quase 80, 90 mil pessoas, é coisa fora do normal. Só quem está lá dentro para saber o que é. Hoje a gente tem o Filipe [Luís] que está lá, ele tem noção e fala disso”, ressalta.
Daí em diante foram vários títulos na carreira: artilheiro do campeonato Mineiro, Campeão da Copa do Brasil, campeão da Supercopa da Libertadores e por aí vai.
“Foram títulos que de 91, 92, 93, até 94, foram épocas marcantes da minha carreira. Tive oportunidade de jogar com inúmeros craques, entre eles Ronaldo Fenômeno. Tenho histórias que meus amigos até riem, eu levava Ronaldo para o treino e trazia várias vezes, a gente chegava no nosso flat em BH [Belo Horizonte] e o nosso lanche era fritar pão com ovo e Nescau”, conta, rindo.
Lições do futebol
Jogador de futebol no Brasil é estrela de Hollywood. Reconhecido, ovacionado por uma legião de torcedores – ainda mais grandes times do Brasil.
Mas para isso, existe uma rigorosa vida de treinamentos para refletir em bons resultados no gramado: que é o que todo mundo espera, e cobra do atleta.
“Não vá pensar que a vida de jogador de futebol é só glamour, só alegria. Existem críticas, existe jornal, os comentaristas. Nem sempre você joga uma partida boa, nem sempre você é o cara, então você tem que aprender e ter um psicológico muito bom”, comenta.
Toto lembra que duas, três partidas sem marcar, já eram suficientes para a torcida pegar no pé. E essa pressão muitas vezes atrapalhava, fazia o gol demorar ainda mais para chegar. O maior desafio da carreira é ter equilíbrio.
“Os 11 anos de carreira foram, não digo todos eles, mas foram maravilhosos”, afirma. “Foram momentos únicos e fantásticos. Guardo isso com muito amor dentro do meu coração”.
Mas como ele mesmo diz, o momento de deixar a carreira foi acertado e abriu a possibilidade de viver planamente uma segunda paixão. Futebol, por hora, só mesmo por diversão.
Sobre o artigo que você leu
“Como vai você?” é uma série sobre o reencontro com personagens que se tornaram conhecidos em nossa região. São pessoas de quem lembramos vez ou outra, e agora queremos chamar para bater um papo e saber como estão. Você tem um nome para sugerir?
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