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Não foi um “larguei tudo” para Daiane Lodi, 27 anos, e João Paulo Alves, 28 anos. Na verdade, eles nem gostam de usar essa expressão. Se tratou de parar, respirar fundo, olhar para a vida e tomar a decisão de priorizar o que verdadeiramente importa.
Esse caminho levou o casal de Jaraguá do Sul a viajar por quase um ano vivendo em um carro e, agora, abrir as portas de um camping de experiência em Bom Retiro, Serra Catarinense, no sítio que estão construindo.
Mas calma aí, está faltando um personagem muito importante dessa história, responsável por fazer Daia e João decidirem, definitivamente, seguirem seus sonhos de vida. Foi o nascimento do Antônio, que está com 3 anos, que movimentou essa história.
Hoje, a rotina é puxada e exigente para manter o camping – ainda mais porque os dois seguem a filosofia de aprender a fazer tudo, desde construir a cultivar alimentos – e alimentar as redes sociais da Família X Primitive, onde compartilham essas aventuras. Mas os pais vivem as experiencia lado a lado com o filho.
“É óbvio que eu considerava isso, porque foi um dos motivos que fez eu decidir ter uma vida mais próxima a ele, mas eu não tinha noção do quanto isso seria importante, sabe, eu fui descobrindo isso e hoje eu vejo que foi uma decisão tão assertiva. Essa proximidade, tanto minha, quanto da Daia, com o Antonio foi fundamental para os nossos laços de família, convivência, dos nossos objetivos, dos nosso planos…”, destaca João.
Chamado pra mudança
João nasceu em Blumenau, Daia em Capitão Leonidas Marques, no Paraná. Por coincidência, ambos se mudaram a Jaraguá do Sul aos 3 anos e cresceram na cidade.
Ainda no ensino médio os dois começaram a namorar. Terminada a escola, seguiram para a faculdade. Ela no curso de psicologia, ele de engenharia. Aquele caminho tradicional, dentro das áreas em que cada um se reconhecia.
Mas os dois já nutriam a bastante tempo a vontade de viajar o mundo fazendo um mochilão, amavam estar próximos da natureza e nutriam conceitos de sustentabilidade no estilo de vida, mesmo na rotina frenética do meio urbano.
Enquanto Daiane seguia na profissão, João começou a avançar na área de empreendedorismo e viu uma oportunidade de negócio na área de alimentos. Junto com um sócio criou a empresa Voitila em 2012 – que fabricava batatas recheadas artesanalmente e as vendia congelada.
“Me vi em um momento da minha vida de muita oportunidade de crescimento profissional, de ganhar dinheiro e construir uma empresa”, relembra.
Nesse meio tempo, os dois se casaram e o filho estava a caminho. Antônio nasceu em junho de 2016, em um parto natural em casa.
João conta que estava empreendendo há 8 anos quando começou a observar melhor o caminho que estava percorrendo e os conceitos ao redor daquela empreitada.
“Olhei as pessoas que estavam ao meu redor, os outros empresários, outros profissionais, as pessoas que, entre aspas, têm sucesso e observei que aquele sucesso, só o dinheiro, não era o que era importante”, relembra.
O trabalho exigia muitas viagens e, naturalmente, ele ficava muito tempo fora de casa e perdia momentos do crescimento do filho.
“Eu percebi que o sucesso não está relacionado a quanto dinheiro você ganha. Me espelhando nas outras pessoas eu comecei a ver que elas estavam só trabalhando em busca do dinheiro, não tinham propósito”, comenta. “Não era isso que eu queria isso para a minha vida”.
Nova casa e nova vida
Com o filho recém nascido nos braços e a vontade de mudança aflorando no João, a natureza aventureira da Daia falou mais alto. Ela então partiu com a ideia de fazer essa grande viagem.
“Mas não foi aquela coisa largou tudo e foi. No início do namoro a gente já tinha o sonho de viajar dessa maneira, vivendo dentro do carro. Com a vinda do Antônio esse desejo não sumiu”, destaca Daia.
Quando o João decidiu encerrar as atividades da empresa, buscar essa mudança na vida, eles já tinham as ferramentas em mãos para começar a jornada: um carro amplo e um projeto. A coragem foi a pitada final para eles seguirem o sonho.
Conexão com a natureza
A família, acompanhada pelos dois cachorros, partiu dentro da Land Rover Discovery 1, que foi totalmente adaptada para funcionar como uma motorhome. Foi quase um ano na estrada.
Como o objetivo era viver viajando, a ideia era preparar alimentos e vender nas paradas. Mas a tarefa se tornou muito difícil com uma criança pequena, cachorro e tudo tendo que acontecer dentro do carro.
“Partimos para o lado de foto e filmagem com drone, que foi como a gente conseguiu tornar a viagem autossustentável. O que pegava era que a gente queria continuar com a produção de conteúdo, produzindo os vídeos e trabalhando para ter uma fonte de renda. Hoje o YouTube traz uma renda para nós, antes não dava nenhuma”, comenta João.
Atualmente, o canal Família X Primitive tem mais de 73 mil inscritos e os vídeos mais assistidos passam das 270 mil visualizações. A objetivo de compartilhar conteúdo era incentivar e inspirar as pessoas a terem uma experiência de vida diferente do padrão.
“Essa experiência de viver dentro de um carro, ela foi muito significativa porque apesar de a gente já levar uma vida mais minimalista, mais simples, o carro fez a gente entender o que de fato tem importância no nosso dia a dia”, comenta João.
E os ambientes que estavam explorando importavam mais do que qualquer propriedade, qualquer objeto. Estar inseridos na natureza é a grande paixão deles.
“No início não foi fácil, porque é toda uma adaptação. A gente saiu, morava numa casa, no centro da cidade, para ir viver dentro de uma carro na estrada. Todo começo é difícil, mas é fundamental para o crescimento”, reflete.
Bebê a bordo
Quando a família partiu em viagem, o Antônio estava com um ano. Passada a fase da adaptação aos novos espaços, o casal ressalta o quando essa proximidade com a natureza foi positiva para o bebê.
Noção de espaço, entendimento sobre as características de cada ambiente, relação com os animais e a possibilidade constante de novas descobertas foram alguns desses ganhos.
“Mesmo ele tendo mais brinquedos – porque ele ganha muitos das pessoas que vem aqui [no camping], dos avós que vem visitar – ele acaba brincando no início e depois deixa de lado. A gente ouve isso dos pais que vem aqui, o fato de estar no interior não muda, a criança acaba se interessando mais por pote, por folha, por pedra do que pelo brinquedo pronto”, destaca Daia.
Um camping para chamar de lar
Viajar ou se mudar para o interior. Eram esses os sonhos de vida que Daia e João nutriam lá no começo da história. Depois desse tempo todo na estrada, eles perceberam que era hora de parar, isso na metade do ano passado. Esse sentimento se aflorou quando encontraram aquele lugar encantado, que tinha tudo que eles buscavam.
“A gente viu que poderia empreender aqui, porque afinal de contas temos uma canal de comunicação com uma gama de pessoas e possíveis clientes que fazem todo sentido com o nosso propósito. A gente alinhou a vontade de viver no interior, de criar nosso filho mais próximo a natureza, e um local mais sustentável, onde conseguisse plantar o próprio alimento, tendo aqui uma base, um refúgio”, comenta.
A região é super turística para quem busca aventura e a inserção de Daia e João com o local contribui com essa experiência de conexão.
O casal busca construir tudo que for possível com as próprias mãos, porque eles estão começando o sítio do zero. Desde o plantio de alimentos a criar animais como galinhas e peixes.
Daia destaca a importância que eles vêem em entender de tudo um pouco, e coloca como o principal conhecimento a capacidade de lidar com a terra, de saber produzir alimentos.
“O local começamos com uma estrutura mínima de camping para, aos poucos, conforme o andar da carruagem, a gente possa ir investindo e crescendo junto com os feedbacks das pessoas que passam por aqui”, comenta João.
O que é importante?
Muitas pessoas não sabem responder exatamente o que desejam. Muitas vezes o sonho de vida fica abafado pela vontade de ter um carro novo, ser promovido, reconhecido…
A quem se sente assim, sobrecarregado, é preciso parar e pensar com profundidade no caminho que está trilhando, como o João e a Daia fizeram.
“A gente costuma fazer uma pergunta: se você pudesse escolher um lugar, uma forma de vida e um trabalho ideal, do jeito que você gostaria, que não dependesse exclusivamente de dinheiro e você conseguisse ter o trabalho que você gostasse de verdade, como seria isso?”, questiona.
Para os dois, entender de fato como você deseja que a sua vida seja, aquele ímpeto que vem do coração, ajuda a desencadear o entendimento sobre o propósito.
“Quando você faz as coisas com um propósito, você arruma um meio de ganhar dinheiro com isso, que acho que a maior preocupação das pessoas é com isso. ‘Mas como eu vou sobreviver?’”, comenta João.
Viver na estrada, estar no interior, poder passar os dias com o filho, é algo que faz muito sentido para esses dois. Mas para eles, está longe de ser uma receita pronta. O casal acredita que viver com simplicidade é ressignificar o que é importante.
E não se trata apenas “viver com pouco”, mas de ter apenas o que realmente tem sentido. Seja um trabalho, seja um carro, ou uma casa. Aquilo que é ideal e necessário para o seu estilo de vida.
“Hoje o nosso guarda-roupa cabe em cima de uma mesa. O meu, do João e do Antônio. O fato de ter uma guarda-roupa pequeno, com coisas que a gente gosta realmente, faz com que eu perca menos tempo da minha vida tendo que escolher a roupa preferida, sendo que agora eu tenho todas as roupas que eu gosto. Me sobra tempo para ter novas ideias, fazer novas coisas e realmente me preocupar com aquilo que eu quero”, completa Daia.
E para chegar nesse ponto de entendimento, ela ressalta que foi uma jornada profunda de autoconhecimento, que levou tempo. Por isso não existe um “largar tudo”.
O principal para a família é estar priorizando aquilo que eles realmente sentem que é importante, aprendendo coisas novas, sabendo como se autossustentar e tendo tempo para estarem juntos.
“O importante é jornada de fato, e as pessoas normalmente se arrependem das coisas que não fizeram. As coisas que você faz você pode melhorar, pode corrigir com o tempo. Mas se você não faz algo, aí você se arrepende de não ter feito, porque não tem como voltar atrás”, finaliza João.
Sobre o artigo que você leu
“Larguei tudo para…” é uma série que conta as histórias de pessoas que tomaram a iniciativa de deixar um caminho seguro para perseguir um sonho. Aqui vamos compartilhar muita inspiração, experiências, perspectivas interessantes e disrupção. Conhece alguém com uma história legal?
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