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Um bloco de argila vira pratos, canecas, vasos, esculturas; qualquer peça que a imaginação criar. A cerâmica é, em essência, transformação. Assim como as mãos que transformam a terra, a terra transforma quem põe as mãos nela, ensinando sobre tempo, resiliência, paciência e singularidade. Uma arte milenar que vem ganhando novo fôlego com artesãos jaraguaenses que buscam resgatar a beleza do que é feito à mão.
Atuando a mais de 20 anos com cerâmica, Rogério Hreczuck percebeu uma mudança no perfil dos alunos que buscam aulas no atelier.
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“Os meus alunos sempre foram por hobbie, de dois anos para cá eu tive 5 ou 6 alunas que montaram suas oficinas e estão trabalhando na cidade com a sua cerâmica, e ganhando com a sua cerâmica”, comenta.
Reconhecido por seu trabalho artístico – Rogério já expôs até no Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) -, ele ressalta que esse movimento atual está resgatando o feitio de peças utilitárias.
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As pessoas querem fazer o próprio copo, caneca, prato de cerâmica. Que é basicamente como as peças começaram a ser produzidas, para as demandas do dia a dia. Há uma, duas gerações, muitas famílias contavam com peças artesanais.
Muitos restaurantes locais, percebendo que a experiência gastronômica começa com a mesa sendo posta, começaram a buscar louças artesanais.
Uma aluna de Rogério, inclusive, vai às aulas semanais para criar peças para o próprio restaurante. Algo que, segundo o instrutor, é culturalmente comum em países como o Japão. Uma cultura que agora chega a Jaraguá do Sul.
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“Eu percebo isso ao longo de alguns anos, que está sendo valorizado o feito à mão, essa fuga do industrial. As pessoas estão começando a valorizar até pela questão ambiental, se polui menos, se aproveita mais o que se tem”, ressalta, comentando que esse mesmo movimento tem acontecido em outras áreas.
Virando profissão
A fuga do industrial aconteceu em todos os sentidos na vida profissional de Fábia Bona. A cerâmica foi um hobbie e uma terapia por cerca de 3 anos. Na rotina de viagens constantes no trabalho como estilista de sourcing, o refúgio era às segundas-feiras, no atelier do Rogério.
Com a pandemia de Covid-19, sua atuação dentro da empresa ficou impossibilitada já que as viagens não eram viáveis. Fábia foi demitida.
“Eu fiquei 4 meses em casa. Eu fazia cerâmica em casa, queimava lá no Zeio, e tive a oportunidade de voltar para a indústria”, comenta, ressaltando que a pausa a fez repensar o que queria para a vida.
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A cerâmica, que era seu grande prazer, virou uma possibilidade de negócio. Ela resolveu empreender com apoio da família, e montou o próprio atêlier.
O espaço é tomado por peças únicas. Fábia gosta de produzir itens utilitários, que as pessoas possam usar no dia a dia. As vendas começaram no círculo de amigos, conhecidos e foi se expandindo – ela já chegou a enviar encomendas a São Paulo.
A ideia é buscar crescimento, mas sem perder o artesanal. A empreendedora planeja a criação de um site onde as pessoas poderão personalizar as peças que desejam comprar.
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Sentido
Além disso, Fábia tem se descoberto dando pequenas oficinas para pessoas que desejam ter a experiência de botar a mão na massa.
“É um retorno às origens, à brincadeira de criança, de brincar com o barro. Traz paz, tu te concentra naquilo, é um momento que tu se desliga. A gente nem vive em um grande centro, mas ou é shopping, ou é comércio, tu não sai muito disso no dia a dia”, reforça.
A empreendedora também evoca o poder terapêutico de lidar com o artesanal.
“A cerâmica me ajudou a trabalhar com a imperfeição”, diz. “Ela te ensina a paciência, o desapego, a concentração, faz muito bem pra cabeça”.
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Feito com intenção
Fábia conta que o contato com cada pessoa que passa pelas oficinas, com os clientes, e os aprendizados com o barro vão transformando e aperfeiçoando os produtos criados por ela. É uma evolução que transpassa ela mesma.
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Nessa impressão tão pessoal fica o grande valor do artesanal, comenta Rogério.
“Tudo aquilo que você coloca tempo, amor e dedicação é tão valorizado. E tem que ser valorizado mesmo”, pontua. “Uma cerâmica feita à mão é afetiva, acolhedora. Você oferece um produto feito por você é um carinho ao teu público, a tua visita”.
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