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Era uma terça-feira, 1º de dezembro de 1936 em uma Jaraguá do Sul de poucas ruas de paralelepípedo e muitas de chão batido. Nas primeiras horas da manhã vindo do leste, um gigante prateado cortava o céus: o dirigível alemão Hindenburg.
O fato produziu uma imagens na cidade até hoje despertam a curiosidade: o objeto futurista planando entre as casas coloniais e a Igreja Luterana Apóstolo Pedro, visto da avenida Getúlio Vargas. Mas o que um zepelim fazia por aqui?
Os dirigíveis alemães no Brasil
Na data em que o gigante prateado sobrevoou Jaraguá do Sul e diversas cidades da região, como Joinville, Blumenau e Indaial, já faziam 6 anos que os dirigíveis faziam viagens constantes, para a época, entre Brasil e Alemanha.
O primeiro foi em março de 1930. O Graf Zeppelin D-LZ127, proveniente da base de Friedrichshafen, na Alemanha, chegou em Recife depois de um voo direto desde Sevilha, na Espanha. A aeronave tinha autonomia para percorrer 12 mil quilômetros.
Na época, o governo Getúlio Vargas firmou parceria com a empresa de dirigíveis Luftschiffbau-Zeppelin GmbH e construiu em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, o Aeroporto Bartolomeu de Gusmão – era considerado o maior do mundo e apenas Alemanha e Brasil tinham infraestrutura aeroportuária apropriada para a operação segura de dirigíveis.
Existem relatos de que o Graf Zeppelin sobrevoou várias cidades, como Joinville, Blumenau e Indaial a caminho de uma viagem para Buenos Aires, no final de junho de 1934.
- Por que se chama zeppelin?
Seja chamado zeppelin, ou zepelim na versão abrasileirada, os dirigíveis acabaram ganhando nome pela marca. Ferdinand von Zeppelin foi um nobre e militar, general alemão, fundador da companhia Luftschiffbau-Zeppelin GmbH.
Várias pessoas se dedicavam a construção de dirigíveis, incluindo Santos Dumont na época, mas o conde Zeppelin quem levou a história mais longe.
O Zeppelin LZ1 foi o primeiro dirigível experimental de sucesso, que decolou de um hangar flutuante no Lago de Constança, próximo a Friedrichshafen, sul da Alemanha, em 1900.
A maior nave da história
O dirigível Hindenburg, que cruzou o céu jaraguaense em 1936, detém até hoje o título de maior aeronave a voar – era parte dos esforços de avanço tecnológico da Alemanha Nazista, controlada pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães a partir de 1933.
Em 1936, exatamente 3 anos antes da Segunda Guerra Mundial estourar, o poderio era observado apenas com desconfiança por muitos países – a ideologia nazista ainda avançava ao extremismo que culminaria no genocídio de milhões em campos de concentração.
Para os cidadãos comuns, o dirigível era uma máquina incrível nos céus – algo totalmente inimaginável. Assim, o Hindenburg voava sem pudor estampando a suástica nazista na cauda – com seus 245 metros de comprimento e quase 42 metros de diâmetro.
O dirigível realizou 7 vôos para o Brasil naquele ano. As viagens chegaram a durar quatro dias. Seu interior tinha quartos, salões públicos, salas de jantar, de leitura, fumódromos e salões de festas.
Imagens mostram a estrutura interna da grandiosa aeronave. Fotos: Smithsonian's National Postal Museum
E foi na última viagem realizada em 1936 que a tripulação do enorme dirigível teria feito uma “tour” para percorrer uma rota que sobrevoaria pequenas cidades fundadas a menos de um século por imigrantes alemães, em Santa Catarina. Foi aí que a cidade entrou na rota.
A passagem por Jaraguá
Vários relatos apontam que a população de Blumenau, por exemplo, sabia da passagem do zepelim e muitos estavam esperando com ansiedade.
Por aqui, segundo a historiadora do Arquivo Histórico de Jaraguá do Sul, Silvia Kita, o dirigível foi uma surpresa e teria surgido no céu pela manhã, bem cedo.
Além das duas fotos, uma mostrando a cidade e outra que se voltou ao céu para registrar o dirigível de baixo, o jornal O Correio do Povo do dia 5 de dezembro de 1936 relatou o fato na coluna em alemão de fatos “locais”.
“Terça de manhã – o que revira o ar? Lá, um rugido, um grito de entusiasmo: “O Hindenburg, o Hindenburg”. E de lá vimos nós, viajando de leste a oeste, ao extremo sul…”, ressalta um trecho da nota que ainda exalta o trabalho executado pela “antiga pátria”.
O desastre
Poucos meses depois, o Hindenburg deixaria de existir. O desastre aconteceu em 6 de maio de 1937, em Lakehurst, Nova Jersey, Estados Unidos. O dirigível alemão pegou fogo e foi destruído durante a sua tentativa de atracar. A bordo estavam 97 pessoas e 36 morreram.
O acidente acabou levantando suspeitas sobre a segurança dos dirigíveis, ainda mais por serem sustentados no ar por hidrogênio, gás inflamável, ao invés de hélio, não inflamável, mas que era muito mais caro.
Nos anos seguintes, as tensões mundiais levaram a uma deterioração das relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha, o que pôs fim na concessão para os voos entre Europa e Brasil.
Em 1942, toda a área do Aeroporto Bartolomeu de Gusmão foi para a aeronáutica e se transformou na Base Aérea de Santa Cruz.
Sobre o artigo que você leu
“Antigamente em Jaraguá do Sul” é uma série que investiga, resgata e preserva a memória de histórias, rotinas, pessoas e fatos que moldaram a identidade de nossa cidade. Tem alguma curiosidade ou dica que queira compartilhar com a gente?
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