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Nos meses de novembro e dezembro, uma figura transpassa o imaginário coletivo e pode ser avistada em escolas, lojas, supermercados e shopping centers. É a época em que o Papai Noel ganha vida. São pessoas como Tarcísio Espíndola, 47 anos, que emprestam seu corpo e alma para manter essa tradição viva.
De plantão há quase um mês cercado por enfeites e luzes no Jaraguá do Sul Park Shopping, ele se sente em casa sentado no trono do Bom Velhinho. É muito mais do que um emprego de fim de ano. É uma realização pessoal.
“Papai Noel eu sou desde os 17 anos, mais ou menos, mas antes eu fazia com a barba falsa”, brinca. “De um três anos para cá começou a ser profissional, me engajei nesse ramo”, comenta sobre a aventura de sair do emprego fixo para levar a sério o plano de ser Noel.
Tarcísio estava certo sobre a escolha. Ele sempre gostou da figura e tem um carinho especial por crianças. Na empresa, dificilmente conseguiria dois meses de férias para poder atuar nos meses de fim de ano.
Na época a esposa, Tuanne Espíndola, 27 anos, estava a alguns anos sendo “Noelete” em um shopping de Blumenau – onde o casal vive. O Papai Noel de lá, com 14 anos de estrada, deu dicas e incentivou Tarcísio a concretizar essa vontade.
“Ele me deu a primeira muda de roupa. Aí que eu gostei mais ainda, ganhei a roupa de um Papai-Noel de verdade”, conta com empolgação. “Eu tenho essa em casa guardada”.
Além disso, o mentor também indicou a Tarcísio várias leituras sobre São Nicolau – santidade histórica que teria dado origem ao Papai Noel. “Eu já li a história de cabo a rabo”.
47 dias de Noel
Tarcísio e Tuanne vêm diariamente de Blumenau para encantar as crianças, alguns adolescentes e adultos que passeiam pelo shopping jaraguaense. Ele vive o Bom Velhinho, ela deixou o posto de “Noelete” para registrar o trabalho com fotos.
O Papai Noel está de plantão de segunda a segunda para conversar, tirar uma foto e ler as cartinhas deixadas no local. E a satisfação é tanta que não tem espaço para cansaço.
“Eu não quero folga, esses dias eu quero aproveitar todos. Do dia 9 [de novembro] ao dia 24, quero aproveitar todos eles. Porque chega janeiro, fevereiro, eu saio na estrada, ninguém me conhece, ninguém tá nem aí para mim”, diz Tarcísio, com bom humor.
Isso inclui também passar a noite de Natal de uma forma bem diferente: levar os presentes durante a ceia de uma família que contrata os serviços.
“O melhor dia que tem é o dia 24. É muito gratificante”, comenta sobre ver o encantamento das crianças ao receberem o Noel em casa para a noite Natal.
“Três anos que nós não temos Natal em família. A gente está lá, mas no finzinho”, comenta Tuanne. “O legal é isso, a gente acaba participando de vários natais, deixa o nosso um pouquinho de lado e participa de outros”.
Dia a dia no shopping
Mesmo à paisana, quem vê Tarcísio andando por aí suspeita de suas atividades. Barba branca comprida, camiseta e bandana vermelha. É o perfeito Papai Noel disfarçado.
É assim que ele chega para trabalhar. O único detalhe na aparência, para dar aquele toque “noelesco”, é a barriga falsa. Depois vem a roupa bem engomada e alinhada, gorro, botas pretas e óculos redondinho.
A transformação acontece em uma sala no setor administrativo do shopping. De lá, Tarcísio desce, acompanhado da ajudante do Papai-Noel, ou melhor, uma elfa ajudante, como Victoria Nascimento prefere se apresentar.
Desse momento em diante, todo mundo entra no clima de magia. O grupo passa pelo corredor dos elevadores para encobrir a chegada até o espaço montado para receber as crianças, próximo da Praça de Alimentação.
Quando eles surgem à vista, duas menininhas que observavam a decoração arregalam os olhos. Uma cutuca a outra e diz: “Rafaela do céu”, em tom surpreso. As duas saem correndo na outra direção sem saber o que fazer ao ver o Papai Noel.
O trono é ocupado, a ajudante arruma as vestes, abre o espaço e começa a organizar a fila. No início da tarde, às 14 horas, o movimento não é tão intenso quanto a noite, mas o Bom Velhinho não fica sozinho por muito tempo.
Logo chega a primeira criança, com olhar para a baixo, mexendo nas mãos. A conversa vai fluindo e a timidez vai passando. É assim com as próximas crianças também.
Os mais pequenos não resistem muito, os maiores ficam na dúvida ao se aproximar. Entre três crianças de uns 10 anos que passam, uma corre para falar com o Noel, enquanto as outras duas ficam se entreolhando – estou muito crescida para isso? Papai Noel? Mas logo a segunda decide dar uma chance para a magia do Natal.
Jogo de cintura
Encontrar crianças de tantas idades e perfis diferentes desafia, mas em síntese é o que move Tarcísio. Ele não pensa duas vezes ao ser questionado sobre o que mais gosta nesse trabalho: “A sinceridade das crianças”.
Por isso, é preciso compreender, aponta ele, que cada criança é diferente e vai ter uma reação única ao ver o Noel.
Tem aquelas que correm para abraçar, outras chegam de mansinho. Algumas conversam fácil, outras exigem mais tempo para se abrir. Tem quem abre o berreiro. Os jovens que querem só uma foto, meio na brincadeira, naquele limbo entre infância e maior idade.
Tem também os questionadores. Tarcísio conta de um menino que, há algumas semanas, falou na lata: “Eu não acredito. Você não é o Papai-Noel, é um homem que estão pagando para ficar sentado”.
Bom, um grande pedaço de Tarcísio é de Papai-Noel, então foi sua missão mudar a opinião do menino, naquela vontade de encantar. Primeiro ele puxou a barba, para provar que era verdadeira, e depois seguiu conversando até descobrir que o menino gostava de computadores.
“Eu disse para ele consultar na internet a vida do São Nicolau, como se originou, como era… Esses dias voltou ele e o irmãozinho dele”, destaca.
Mantendo a magia
Uma das clássicas missões da figura do Papai-Noel é incentivar o bom comportamento das crianças.
“Primeira coisa, você tem comer salada, tem que dormir cedo, dormir sozinha, tomar banho, acordar cedo para ir para a escola, tem que ajudar em casa…”, enumera as condições.
Mas Tarcísio conta que é preciso saber com quais crianças ter essa abordagem, algumas vezes na chegada os pais dão a dica, na outras vai pela conversa.
Quando são coloca as condições, quem não costuma as cumprir questiona como o Noel sabe de tudo isso. Mais uma vez, é hora de trazer a magia: são os duendes informantes que contam tudo.
E assim, os olhos saem brilhantes depois da conversa. Até os mais retraídos ficam saltitantes. Fátima Maia levou o pequeno Pedro Eduardo, de 6 anos, para ver o Bom Velhinho e, ao observar o filho, seu rosto emanava alegria.
“A gente cresceu com isso. Meu pai era o Papai Noel lá de casa, claro que eu não sabia disso. Na época não tinha onde ir assim, mas era uma festa. A gente tenta passar isso para eles”, comenta a mãe.
Pedro ficou encantado e decretou que esse era o Noel de verdade – o que foi na escola tinha barba de mentira, então não deveria ser o genuíno, mas, para ele, o do shopping era legítimo.
Com emoção
Viver o Papai Noel é a atividade profissional de Tarcísio no fim de ano. Nos demais meses, ele a esposa se dedicam ao negócio próprio: uma empresa de caixas de presente. Sim, esse Papai Noel fabrica caixas de presente.
É um trabalho, aponta ele, mas vai muito além disso. “O dinheiro ajuda, mas não é isso que dá a alegria. É chegar, olhar uma criança, ela vem, conversa…”, comenta. Até os puxões na barba são encarados na boa.
E manter esse fascínio exige atenção e dedicação com cada um que chega, com cada conversa e reação.
“Eu sou descendente de alemão, tenho a cara fechada, mas fico me corrigindo para ficar sorrindo para as crianças, independente do que aconteceu, do que não aconteceu”, ressalta.
Mas sentado no trono, sorrir não parece um desafio tão grande assim para ele, que responde com alegria aos visitantes. E os momentos de comoção acontecem rapidinho.
Entre as cartinhas que a elfa ajudante e o Papai-Noel abrem para ler, uma chama a atenção, com aquela letra grande e espaçada de criança: “Neste Natal quero pedir por todas as crianças que estão precisando de família, educação, roupas, comida…”.
Nessa hora, todos os olhos já estão cheios de lágrimas. O pedido também pede emprego para os pais dessas crianças e, só no final, a menina pede por uma “mochila de escamas de sereia” para ela.
Assim, mais crianças passam de um lado para o outro, nenhuma sem dar pelo menos um tchauzinho.
E tem horas surpreendentes em que os adolescentes vem com seriedade, realmente para ter um momento com o Noel. Um deles sai feliz com a foto impressa.
Tarcísio não esconde a alegria de encantar até quem parece ter passado da fase de gostar do Papai-Noel. “Cada dia esse trabalho surpreende a gente”.
Adote uma cartinha!
Quem quiser ser o Papai-Noel de uma criança nesse Natal pode fazer parte de uma ação promovida pelo shopping. Basta ir até a sala da administração, que fica em cima do Espaço Ecumênico e buscar uma carta. Além disso, tem a campanha Natal Solidário, com a ONG SOL (Grupo de Solidariede), em que você pode doar um brinquedo para uma criança carente.
- Serviço
- O quê: Papai-Noel no Jaraguá do Sul Park Shopping
- Quando: de segunda à sábado, das 14h às 17h e das 18h às 22h. Domingo, das 13h às 16h30 e das 17h30 às 20h. Na véspera de Natal, dia 24, das 10h às 13h e das 13h40 às 16h
- Onde: no segundo piso do Jaraguá do Sul Park Shopping
- Quanto: Gratuito
Sobre o artigo que você leu
“Na Minha Pele” é uma série que vai te levar a sentir as principais dificuldades e vantagens de exercer determinadas profissões em Jaraguá do Sul. Conheça e entenda aqui o que passam pessoas que estão direta ou indiretamente presentes na sua vida.
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