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Quem conhece o jaraguaense de coração Jean Andrighi, 40 anos, acompanha os aparentes extremos de sua vida. No meio da semana, com roupas leves e claras conduz uma harmoniosa e silenciosa meditação. Dias depois, canta a plenos pulmões o enérgico grindcore. À noite, guia aulas na universidade.
A complementaridade das duas atividades, que para quem aplica estereótipos parece tão confusa, está justamente na capacidade de Jean abrir espaço para o novo em sua vida.
“Eu sou eu. Tanto é que as pessoas me perguntam: como você tem uma banda de rock e medita? Eu penso: mas qual o problema? O que que te incomoda?”, questiona.
No caso dele, o roqueiro e o professor universitário cederam espaço para a yoga no final de 2015. As práticas começaram em casa, só com as posturas mesmo, os chamados assanas.
Era uma necessidade física de botar o corpo em movimento que se tornou muito mais. Algo que no fundo tinha uma motivação emocional.
“Eu precisava trabalhar fisicamente o meu corpo, não queria uma coisa que me estressasse tanto. Eu fui para a yoga para perceber que eu precisava aquietar a minha mente”, comenta. “Porque um tempo atrás eu tinha passado por uma síndrome de ansiedade, esse processo mental foi acontecendo e eu fui percebendo também que eu precisava buscar coisas que me acalmassem”.
Dada essa nova dimensão, a vontade de praticar a yoga só crescia. Encontrou espaço para praticar uma vez por semana e logo já estava frequentando todos os dias.
Foi quando recebeu incentivo para participar de uma formação de Sivananda Yoga Vedanta, um curso bem clássico que aconteceu no Centro de Yoga Montanha Encantada, em Garopaba. Foi um mês de imersão.
“Eu fui para melhorar a minha prática, não para ser professor, não estava na minha cabeça isso”, diz. “E quando eu voltei, elas começaram a me instigar. Comecei com uma aula por semana. Foi uma coisa mais tranquila, não foi uma mudança brusca na minha vida”.
Mas essa simples abertura para uma prática mais intensa contagiou os demais lugares que Jean frequentava.
Hoje ele dá aulas de yoga e meditação na Católica de Santa Catarina, onde é professor no curso de design, e para funcionários da Cervejaria Stannis, levado pelo sócio e companheiro na banda Al Diaz, Jorge Braier.
Novas dimensões do ser
Desde jovem, Jean conta que a yoga dava as caras por sua vida como pelo encantamento pela figura de Krishna, do hinduísmo, que se relaciona com a prática muito fortemente na Índia.
“Pratiquei yoga no parque em Curitiba também, mas nunca fui a fundo nisso, tava lá, de vez em quando aparecia alguém que falava alguma coisa, mas eu não dei muita importância”, relembra.
Apesar de ter iniciado pela prática física, foi na dimensão mental que Jean realmente se conectou.
“E aí entra o yoga de verdade, que é quando a gente medita, quando a gente pratica outras coisas, não só a parte física. São outros elementos, energias que a gente vai trabalhando”, acredita.
Simplesmente parar, respirar e observar a mente. E aos pouquinhos ir inserindo técnicas para conseguir se auto observar sem reagir à mente. Uma forma poderosa de desconstruir muitos padrões negativos, como a própria ansiedade.
“Eu melhorei muito, eu não era uma pessoa com raiva, mas o yoga mudou muita coisa. Eu sou muito mais tranquilo para lidar com as coisas, muito mais calmo. Não sinto a necessidade de agredir, de revidar, ficou muito mais fácil pedir desculpa para as pessoas”, reflete Jean.
Compreensões
Com a yoga em sua vida, Jean abriu espaços de observação que foram muito além de dominar aqueles belos movimentos da prática. Uma aproximação muito leve com se permitir viver, mas atento a como aos hábitos influenciam no estado físico e mental.
“Tem coisas que são naturais e outras que eu estou gerando para mim mesmo. A gente sempre fala que precisamos de exercício adequado, alimentação adequada, respirar adequadamente e pensamento elevado”, enumera.
Jean comenta que muitas pessoas buscam em práticas como a yoga uma fórmula mágica para resolver problemas, especialmente por mistificar a prática. Se existe um segredo, seria a soma de atitudes diárias equilibradas.
“Acho que isso sim te eleva. Não é alguém te tocar. É uma jornada do dia a dia”, revela.
Muitos caminhos
Jean é enfático ao dizer que existem inúmeras formas de se reconectar consigo mesmo, reduzir estresse, nervosismo, ansiedade e outros males que afetam tanto o ser humano na sociedade atual. O que para alguém é bom, para outra pessoa pode não ser.
No caso dos episódios severos de ansiedade, Jean também conta que buscou terapia com psicólogo para acessar uma maior compreensão sobre ele mesmo.
“Na ansiedade, você pensa, porque eu estou tendo isso? Eu lembro que na época eu falava para minha mãe: parece que não sou eu. Porque você está em um nível tão grande de ansiedade, de querer prever o futuro, que você realmente acaba não sendo você”, relembra.
A interiorização com a meditação veio para completar essa jornada, para entender melhor os pensamentos e os processos mentais.
“Eu fui me interiorizar para isso. Para acabar com esse elemento, acabar com essas coisas que a vida foi construindo em mim. Que vieram da minha casa, da sociedade e de mim mesmo. Você começa a gerar muitas reações dentro de você”, comenta.
Iluminação que nada!
Mais fluidez, menos cobrança, mais equilíbrio, menos ansiedade. Se conectar com a yoga transformou Jean em muitos aspectos. Mas para ele, foi uma construção, nada mágico ou instantâneo. Foi uma construção que exige atenção, cuidado e tempo.
Além dessa entrevista, Jean, apesar de ter recebido convites para falar sobre essa jornada com a prática, recusa.
“Eu prefiro que as pessoas venham e pratiquem e pela experiência delas mesmas sintam as coisas. É muito fácil montar uma história”, avalia. “Eu quero que as pessoas experimentem, pratiquem”, enfatiza.
Até porque trazer as pessoas para a prática também desfaz um misticismo que acaba rotulando a yoga inalcançável ou restritiva – algo para poucos.
“Se você é uma pessoa do yoga, tem que ser incrível, maravilhosa, calma o tempo inteiro”, contesta Jean. “Eu não quero que as pessoas pensem, que incrível, que pessoa iluminada… sabe? Me assusta um pouco isso”.
Por hora, ele ressalta que a yoga pode trazer benefícios para qualquer pessoa e as transformações serão naturais e sem cobranças – não precisa virar monge. E até alguns mestres iluminados, garante Jean, comem batata-frita e assistem filme hollywoodiano de vez em quando – pelo menos é o que contam algumas histórias.
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