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Era maio de 2013. Logo se espalhou por Jaraguá do Sul a novidade de um bar, num porão, com cerveja artesanal e comida boa. Um pub. Um pub ao melhor modelo europeu.
Não demorou muito para as filas se formarem nas noites do Calçadão da Marechal. Quem não sabia onde era o tal de Stannis seguia o movimento, que foi tão grande que deu conta de acabar com os estoques em menos de duas semanas.
Sem cerveja Stannis, bar de portas fechadas. Mas quem é maluco de fechar um bar recém inaugurado? Os mesmos que decidiram produzir bebida e vender num pub próprio sem ter um tostão no banco: Denis Torizani e Jorge Braier.
Um quê de aventura acompanha a história desses dois empreendedores jaraguaenses. Denis “jaraguaense da gema”, como o mesmo brinca, e Jorge “de coração” – nascido em Curitiba, mas criado aqui.
É da mistura de características comuns aos dois, especialmente a extrema vontade e um ímpeto de acreditar numa ideia, que deu origem ao Stannis – que na prática são três pubs e uma cervejaria, mas eles definem mesmo como um organismo vivo, com personalidade capaz de contagiar quem está por perto.
Parte 1 - Onde tudo começou
Quando tem aventura, tem história. E a desses dois começa muito antes de cerveja, pub, fermentação, porão, empreendedorismo serem palavras da rotina. Tudo começou onde a maioria dos pais e mães acha que tudo vai acabar: música e festa.
Lá por 2008, Jorge já trilhava um caminho profissional como designer gráfico e era guitarrista e vocalista da banda Al Diaz.
Show pra cá e pra lá, logo se cruzou com o Denis, mais conhecido então como China, que estava na área produzindo noitadas roqueiras.
Logo a Al Diaz estava nos eventos promovidos pela ChinaBird Produções. E dali uma admiração mútua a amizade começou a rolar.
Denis conta que as produções começaram a evoluir. Com o passar de uns anos ele estava trazendo bandas “gringas”. Logo a necessidade aprender inglês rápido surgiu.
O intercâmbio veio como opção e ele mirou para a Irlanda – lá, passava horas nos pubs que abrem cedo, trocando ideia com quem passava para colocar o idioma em prática.
Parte 2 - A hora das mudanças
Enquanto isso, do lado de cá do hemisfério, Jorge começou a sentir a vontade de mudar de área, seguindo um dom das matriarcas da família.
“Minha mãe cozinha muito bem, minha vó cozinha muito bem. Eu pensei, vou partir pra essa também. Deve estar no sangue”, conta.
Estudou gastronomia em Curitiba, voltou pra cá e viu que a área não era exatamente aquilo que o encantava. As coincidências se encarregaram de mostrar o caminho.
Como ainda era reconhecido como designer e estava dando conta das contas com freelas, surgiu um trabalho para criar o rótulo para a cerveja de um amigo que estava produzindo em casa e dali a ideia de aprender.
“Ele me ensinou com as panelas dele. E acabei me encantando mais com esse tipo de cozinha”, relembra.
Então os experimentos começaram e Jorge lembrou de conferir com o Denis sobre as cervejas consumidas na Irlanda, famosa pela cultura cervejeira. Foi então fabricada uma Irish Red Ale.
Era fim de 2011, China estava de volta do intercâmbio de seis meses a tempo de experimentar o esboço da primeira cerveja Stannis.
Parte 3 - O despertar do Stannis
A ideia da produção de cervejas artesanais e abertura de um local surgiu toda na cabeça do Jorge, super inspirado na vontade de criar novos sabores da bebida. Mas ele queria uma coisa: um parceiro.
“Essa história toda virou vontade de virar negócio. Só que é muita coisa, produto, vender, administrar, eu precisava de alguém para me ajudar”, conta Jorge.
China, ambientado em organizar eventos e vindo de uma temporada intensa em pubs, era a pessoa perfeita. Só que ele estava pensando numa volta tranquila, para a estabilidade de um emprego e retorno à faculdade de administração. Mas a proposta foi mais do que ele poderia esperar.
“Nesse meio tempo vem o Jorge, diz que está pensando em fazer um negócio, que antes de fazer a cervejaria ter um ponto de venda é mais viável. Eu falei: legal, se precisar de ideias para fazer um bar, na Irlanda eu tirei várias fotos, tenho várias referências”, conta. “Na lata ele falou: eu não preciso de foto, eu preciso de um sócio.”
Dali, os dois começaram a tocar o projeto juntos. Mas faltava dim-dim para poder materializar tudo que estava no papel.
Enquanto isso o Jorge produzia cerveja na casa da mãe do China, dona Amélia, que durante o dia estava no emprego.
“A gente pensava que levando o plano de negócios nos banco, conseguiríamos um empréstimo com facilidade. Só que não foi assim que aconteceu, a gente não teve acesso a crédito”, destaca Denis sobre a burocracia e juros altos no país.
Parte 4 - A burocracia contra-ataca
Foi aí o teste de resiliência dos dois. Não teve voltar atrás, eles seguiram acreditando. Jorge aprimorando as receitas para as degustações em bares e com amigos. Denis falando com “deus e o mundo” para movimentar o projeto, já negociando com o dono do porão.
Assistindo um programa de domingo a noite que os dois viram o modelo de investidores anjos dentro das startups e tiveram a ideia de buscar pessoas que apostassem no projeto.
“Em Jaraguá buscamos a corretora de investimentos, a Patrimono, fui falar com o Leandro [Correa], um dos sócios. Eu sabia que o Leandro trabalhava com dinheiro, e eu precisava de dinheiro”, comenta China. “Você não precisa saber de tudo, mas você pode perguntar pras pessoas, e a partir disso surgem as oportunidades”.
O sócio da corretora, sabendo da produção de cerveja, ouviu o China, mas não botou muita fé.
A coisa mudou num piscar de olhos, quando na sala de espera uma mulher – até hoje ninguém sabe quem foi a anjinha da guarda – reconhece o Denis de um evento de degustação e elogia o sabor da cerveja “satanis”.
“Ali deu um estalo no Leandro. Ele até pensou que era uma amiga, minha prima, que era um combinado. Ele disse: ‘o que tu me falou agora não tem muito sentido, mas o que ela falou resume tudo’. Ter um produto, ter interesse”, pontua Denis.
Foi aberto o caminho para que o primeiro investidor da Stannis chegasse: Denis de Souza, da empresa Artelaje.
“Eu e o Jorge, naquela época, a gente não tinha a experiência que a gente tem hoje. E se a gente tivesse a experiência que a gente tem hoje, a gente nem começaria”, destaca.
Parte 5 - Acreditar leva mais longe
Quem vê a Stannis hoje com o pub de Jaraguá do Sul, Itajaí e Blumenau e a cervejaria própria não sabe os perrengues que os dois passaram.
Mas Jorge e Denis ressaltam que tudo que veio depois de o pub abrir as portas, época de maior escassez, foi fácil por terem o um belo front. A equipe cresceu 100% – dos seis integrantes, junto ao sócio da época Tiago Klein, para os atuais 60.
Para os dois, o ponto principal foi acreditar infinitamente e estar atento a tudo que acontecia. Acumular conhecimento prático, empírico.
“Igual no início, a gente apostou. A gente errou em algumas coisas, mas a gente aprendeu com aquilo. A gente se levantou, apostou de novo e não cometeu os mesmos erros, mas cometeu outros, e foi na base do acreditar mesmo”, ressalta Jorge.
As últimas grandes inaugurações foram do Stannis Pub Blumenau e da cervejaria – possibilitados por uma nova rodada de investimentos que trouxe um empresário de peso, Eduardo Werninghaus.
“E não foi só o dinheiro. A experiência dele como administrador também nos ajudou bastante a traçar metas”, destaca Denis.
Parte 6 - Ao infinito e além
Da ideia inicial até agora se foram 8 anos, e do outro lado do balcão está um Denis mais ambientado a gestão e um Jorge mais afinado com a produção criteriosa.
Mas em síntese, são os mesmo conceitos que movem os dois. Eles querem mais do que clientes.
Não é vender bebida, é fazer um bar para receber os amigos com o melhor pint possível, oferecendo uma experiência – por isso a ideia de Stannis na prateleira foi abandonada, afirmam.
“Foi o ano que conseguimos materializar o nosso grande propósito que é criar momentos incríveis na vida das pessoas. E o que que é isso? É estar do lado delas. A gente decidiu que a nossa forma de escalar não vai ser através de distribuição em massa, a gente não vê essa coisa louca de crescer por crescer. A gente quer crescer com sentido”, resume China.
A sacada do momento é apostar na abertura de tap houses, modelos de franquia que irão vender cerveja Stannis levando um pouco do pub junto. O primeiro projeto já foi aplicado em Jaraguá do Sul mesmo e vai abrir na Reinoldo Rau.
“A nossa sorte é que a ideia se auto contagia. Não tem que fazer força para convencer as pessoas do quanto o Stannis é bom pra gente e pra todo mundo. Porque parece que rola uma identificação imediata. Eles compram a ideia e tratam como se fosse deles”, revela Jorge.
Neste ano, comemorado por eles por essa definição, além de avanços na gestão da Stannis, os dois também botaram no mundo o chamado alter-ego Insannisfest – que é meio uma volta às origens dentro do momento atual.
Um festival roqueiro, como aqueles em que China e Jorge se conheceram, com muita cerveja Stannis. A primeira edição teve 3 mil pessoas e no ano que vem deve crescer.
“A gente é meio maluco porque com a experiência que tem hoje, não teria feito tudo isso. Mas um pouco da nossa ingenuidade e confiança na gente, a gente preserva hoje. Especialmente para fazer alguns movimentos. Vamos lá e vai”, define China.
Sobre o artigo que você leu
“Quem são esses jaraguaenses?” é uma série que sempre vai trazer uma personalidade da nossa cidade para conhecermos melhor (e também nos inspirar). Sabe de alguém que tem uma bela história para contar?
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