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Percorrer antigos caminhos deixados de lado pela praticidade das rodovias é um ensaio para meditação. Estar presente, atento aos cenários que aparecem atrás de cada curva, conectado com o momento. Pura contemplação. Passar pela Estrada Rio do Júlio é viajar dentro de si e apreciar com profundidade a natureza – não tem atrativos, tudo é atrativo.
Esse caminho fica no extremo norte de Schroeder, ligando a pequena cidade à Serra Dona Francisca. São cerca de 28 quilômetros de subida em meio à Mata Atlântica, maior parte do trajeto fica no território de Joinville.
Como chegar
A viagem pode começar de um extremo ou de outro. Como nossa base é Jaraguá do Sul, a partida foi do centro de Schroeder, percorrendo a Marechal Castelo Branco.
Para referência, passando da Prefeitura do município, são quase 7 quilômetros até a primeira entrada à esquerda, quando uma placa começa a indicar o trajeto.
Depois, são 3 quilômetros pela Rua 23 de Março até a próxima conversão, dessa vez à direita, também sinalizada por uma placa. Dali, é reto Serra acima.
Desfrute o caminho
A Estrada Rio do Júlio é destino recorrente de ciclistas bem preparados – é preciso bom condicionamento para aguentar a subida que ultrapassa 800 metros acima do nível do mar. Mas o passeio de carro ou moto, com paciência e atenção, pode ser tão prazeroso quanto.
Para um motorista experiente em estradas de terra, as condições estavam boas. Mas como é um trajeto de subidas e curvas, precisa ter aquele costume para percorrer com tranquilidade.
Levamos duas horas no passeio, terminando na Serra Dona Francisca. Isso com um carro andando tranquilo e fazendo pausas, afinal, descobrir uma cascatinha na beira da estrada, ver uma majestosa árvore, observar flores, pássaros e borboletas era o objetivo.
Logo na primeira subida, já é possível ver a civilização ficando para trás – as áreas abertas e com residências vão virando pano de fundo e a mata vai se fechando ao redor da rua.
Alguns minutos acima, a Prefeitura de Schroeder criou um local de parada, seguro para estacionar o carro, chamado de mirante. Mas a vista mesmo não é bem nesse ponto, precisa descer um pouco.
Uma clareira se abre e é possível ver ao fundo os dutos da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Bracinho, conhecida carinhosamente como Usina do Bracinho, e a Estação de Tratamento de Água da cidade.
Entre os cenários, muito verde, insetos e pássaros voando de um lado para outro. Fora o barulho do carro, o resto é puro som da natureza.
A cada curva, muita vegetação. E de vez em quando se ergue uma árvore mais imponente, uma velha senhora que encontra nesse lugar espaço para crescer por anos e anos e presentear os olhos atentos com toda sua beleza.
As águas do vale
Se tem morro e água preservada, certamente vai ter água rolando em algum ponto. Toda a água que abastece a cidade de Schroeder é oriunda do Vale Rio do Júlio. É possível perceber isso em alguns pontos.
O primeiro deles é o Rio Macaquinho que atravessa o caminho sem cerimônia. Uma base de pedras da estrada faz o carro passar sem qualquer problema e há espaço em frente para uma parada.
A água cristina e fresquinha corre entre as rochas e desce para a grota. Adentrando um pouco se encontra uma queda onde dá pra se refrescar um pouco.
Seguida a rota, a água se faz presente numa cascatinha ao lado da rua.
Na sequência, um córrego aparece e começa a margear: atenção porque logo a frente fica uma linda parada, batizada de Poça do Xaxim.
Uma escadinha foi cavada no barranco e sustentada com madeira para facilitar o acesso a essa clareira, onde a queda da água vem do meio de um verde intenso e se abre em uma piscininha, dá até para mergulhar.
O lugar tem até espaço para fogueira, tudo construído por quem frequenta o local, certamente. Ponto triste é que havia bastante lixo deixado ali – como se fosse sumir sozinho. Levar seus resíduos com você é dever, obrigação.
Ainda tem outro ponto, esse mais amplo e ideal para ir com mais amigos para um piquenique ou até mesmo acampar – claro que não tem banheiro ou eletricidade por perto.
É um espaço aberto entre árvores e bambus, com um curso d’água calminho e relaxante correndo ao fundo. Dá pra esticar uma rede, uma manta no chão, levar cadeiras de praia e relaxar.
Território joinvilense
O caminho segue com suas surpresas naturais e mais para frente, totalizando os primeiros 10 quilômetros de percurso, se atravessa o limite entre Schroeder e Joinville.
Os postes ao lado da estrada começam a aparecer, seguido de casinhas naquele típico cenário rural. A parte joinvilense do Rio do Júlio é mais habitada, afinal, segundo o historiador Ademir Pfiffer, a estrada começou a ser construída a partir da Serra Dona Francisca, no final do século 19, ganhando os primeiros moradores.
E assim, entre o verde, começam a surgir alguns detalhes em madeira, de tijolo à vista, numa construção de destaque.
A estrada começa a ser adornada por uma cerca e arbustos de hortênsias, que não estão em época de floração, mas a imaginação dá conta de borboletear sobre as cores que teriam ali.
Os encantadores adornos fazem parte do Hotel Vale das Hortências, inserido bem no meio da região. Existem quartos e chalés disponíveis na propriedade rural, minuciosamente cuidada.
Os hóspedes são recebidos apenas nos fins de semana. De segunda a sexta, é feita a manutenção do local, que têm lagoa, pedalinho, piscina, jacuzzi e outros atrativos. Em uma quinta-feira, quem aproveitava o gramado calmamente era um filhote de ovelha.
Subida segue e o próximo ponto que se apresenta é a barragem de acumulação Rio do Júlio, que faz parte de todo complexo de geração de energia elétrica da Usina do Bracinho.
O imenso paredão de concreto cria um lindo lago rodeado por árvores, ao fundo um patinho nada calmamente pelo local. A área é toda cercada e a entrada requer uma autorização.
Com vista para esse local, ao lado esquerdo da estrada, os viajantes vão encontrar uma área mais elevada, ampla e sombreada por pinheiros, muito convidativa para um piquenique.
A igrejinha das hotênsias
Quem pesquisa na internet sobre a Estrada Rio do Júlio encontra muitas fotos dessa igrejinha de madeira, colocada delicadamente no topo de um morro preenchido de hortências. Parece uma pintura.
E mesmo não estando na época de floração, que acontece em novembro, a igrejinha no morrinho na beira da estrada forma um cenário muito encantador. O caminho entre os arbustos precisa ser feito a pé para chegar até a construção de madeira.
Daqui em diante o viajante ainda vai encontrar outras casinhas e fazendas encantadoras, um moinho desativado, muitas áreas convidativas a uma parada e algumas prainhas junto ao ribeirão que acompanha a estrada.
A viagem termina chegando a 5 quilômetros da Serra Dona Francisca, em Joinville, que encerra o passeio com sua vista maravilhosa, e também diversas opções pra tomar um caldo de cana gelado ou comer um pastel até a chegada à BR-101. Também é possível, claro, voltar pelo menos caminho.
- Um pouco da história
O historiador Ademir Pfiffer conta que a Estrada Rio do Júlio é centenária e começou a ser aberta no fim do século 19 com o assentamento de povos vindos do Domínio Dona Francisca.
A partir do Vale do Itapocu, a ocupação da região começou pelo caminho Schroeder Straße na primeira década do século 20.
Pfiffer conta que o nome da estrada é uma referência Julius Albrecht, um imigrante alemão que tinha terras na região e trabalhava na agricultura, se estabelecendo na região por volta de 1902. Ele está enterrado no cemitério da região do Bracinho.
Projetos turísticos
De acordo com o diretor de Turismo da Prefeitura de Schroeder, Ivanio Laube, o objetivo do poder público é dar infraestrutura para receber visitantes e turistas em pontos de grande potencial natural.
Existem pelo menos dois projetos estruturados para aproveitar o potencial natural dessa área, que foram apresentados ao governo federal.
Tem a construção de um mirante com pórtico na estrada. O pórtico contempla mirante suspenso medindo mais de 160 metros quadrados com iluminação e área para estacionamento. O investimento previsto é de R$ 881 mil.
“Já existe o mirante natural, sem nenhuma estrutura, então a gente criou essa base mais moderno, inclusive, para ter esse contato com a natureza”, comenta. “Hoje quem vai ao rio do Júlio não tem como chegar a esse ponto para ter essa visão mais privilegiada. Essa projeção vai dar uma visão melhor ainda do Vale do Bracinho, do centro de Schroeder”.
Outro projeto é um ponte coberta, em estilo enxaimel, sobre as corredeiras do Rio Bracinho, que fica situado junto a Serra Rio do Júlio, próximo a Estação de Tratamento de Água – já ocorrem no local campeonatos de canoagem, preparação e treinos periódicos para atletas do município e região do caminho dos príncipes.
Sobre o artigo que você leu
“Descobrindo a Região” é uma série sobre aquelas pérolas pouco conhecidas do turismo regional. Refúgios, roteiros, paisagens, restaurantes legais, eventos típicos etc. Aqui sempre vai ter algo que possa te inspirar a um passeio que não exija ir muito longe.
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