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Muitas pessoas lembram com água na boca das delícias degustadas neste lugar. O Sorvetão deixou saudades em Jaraguá do Sul pelos sucos fresquinhos e criativos, sorvetes artesanais e taças que faziam qualquer um babar, sem contar as outras novidades trazidas por Ana Maria e Julmir Rozza.
Até hoje, mais de 20 anos desde que eles se afastaram do negócio, as pessoas ainda pedem pela volta da sorveteria.
Mas o casal já está em outra, seguindo outras profissões e vivendo desde o começo do ano em Balneário Camboriú.
Ana e Julmir são uníssonos ao dizer o quanto a rotina foi exaustiva e levou a esse momento do “adeus”. O negócio foi aberto em 1986 e eles tocaram por cerca de 10 anos.
“Paramos porque estávamos cansados… A jornada de trabalho era de muitas horas e também incluindo finais de semana. Então decidimos que era o momento de optar por outros caminhos”, comenta Ana.
Depois, o irmão de Ana, Robilson, assumiu a gestão e Julmir seguiu produzindo os sorvetes por mais 6 anos. Dali então a marca Sorvetão foi vendida, o ponto mudou para a Reinoldo Rau e fechou anos mais tarde.
Sem rotina e na estrada
Ana era a vendedora nata do Sorvetão, destaca Julmir. Tanto é que atualmente ela atua como representante comercial e passa de segunda a sexta-feira na estrada, fazendo os atendimentos.
“É realmente vender está no meu sangue, desde pequena estive neste meio. Minha família tinha loja de calçados e desde então sempre gostei muito deste contato com pessoas”, afirma.
Ana gosta da vida sem muita rotina, de viajar e de poder acompanhar o crescimento dos personagens para quem vende.
“Atender os clientes podendo ser uma ponte para o sucesso deles é um desafio maravilhoso”, ressalta. “Todos os dias em cidades diferentes, conversando com outras pessoas é o combustível que me move para continuar nesta vida”, destaca.
Ana é formada em economia e é especializada em gestão empresarial. Antes de abrir o Sorvetão ela trabalhava na Duas Rodas.
Foi justamente lá que ela encontrou em contato com clientes que eram proprietários de fábricas de sorvete dada a cartela de produtos da empresa.
“Às vezes trocava ideias com eles, e acabei me encantando por este segmento”, relembra.
Quando a sorveteria ficou a cargo do irmão, Ana voltou para a Duas Rodas e depois começou a atuar como representante.
Uma ponte para a cozinha
Com a mesma formação de Ana, Julmir foi funcionário do IBGE e atuou em uma empresa de artefatos de borracha antes do Sorvetão.
Um pouco do que descobriu na sorveteria, alguns dotes culinários e a capacidade de estar aberto a mudanças levou ele a virar chefe de cozinha aos 45 anos, profissão que segue atualmente, aos 60 anos.
Julmir conta que começou a montar saladas e as pessoas elogiavam, ele foi se aprimorando como autodidata por uns 7 anos, até que sentiu vontade de aprofundar o conhecimento e voltou para a faculdade. “Nem esperava que ia virar uma profissão. Tudo foi assim, acontecendo”, comenta.
Mas Julmir gosta de cozinhar com liberdade, então virou um requisitado chefe para eventos – normalmente atendendo a encontros de amigos, família. Os pratos vão aonde a imaginação do cliente quiser, da comida mexicana, árabe a risotos e frutos do mar.
Ele também abastece cerca de oito restaurantes de Jaraguá do Sul com petit gateau, o bolinho cremoso servido com sorvete como sobremesa.
Atualmente ele ainda faz sorvetes, mas apenas para agradar os amigos que pedem.
“Como dizem, menos é melhor, eu não quero saber de muita loucura não”, ressalta.
Construindo uma marca
Dezembro de 1986. Abria as portas na Marechal Deodoro da Fonseca uma nova sorveteria. A ideia foi de Ana, que nas Duas Rodas teve acesso ao conhecimento de como usar a matéria-prima da empresa para produzir boas receitas.
Na época, Julmir ainda trabalhava e nas horas que não estava na empresa se juntava a esposa para atender os clientes e fabricar os sorvetes e preparar os sucos.
Com o movimento crescendo, dois anos depois ele deixou o emprego para se dedicar integralmente ao novo negócio – 1988, ano em que nasceu Gustavo, o filho do casal que, como diz Julmir, foi criado na sorveteria.
O lugar tinha todo um charme numa época em que a cidade carecia de boas opções. Além do sorvete artesanal, o casal apostou de cara em preparar sucos diferentes, que aprenderam com uma prima de Julmir.
“A gente conhecia aqui dois, três tipos de sucos”, conta. “Eu acredito que no começo a gente vendia até mais sucos do que sorvetes. Era muita coisa”.
Mamolanja, moraxi, laranxi, e assim seguida a lista com umas 30 combinações diferentes de frutas fresquinhas.
No buffet de sorvetes tinham os tradicionais creme, morango e chocolate, que saiam mais, eram acompanhados de mini chicletes, marta rocha, chocolate branco, cereja, maracujá e uva feito com a fruta, doce de leite com ingrediente da Argentina, e por aí vai.
Mas o cardápio do Sorvetão ia além. Tinha, claro, a série de taças especiais de sorvete. Das tradicionais banana split, sundae e colegial, a outras que só se via em filme.
Todas servidas – bem rápido, para não derreter – com enfeites, cobertura, cereja e tubetes em taças de vidro trazidas de fora da cidade.
Eles vendiam torta de sorvete, panetone recheado com sorvete, sanduíche de sorvete e sorvete frito – coisas que nem se vê mais por ai.
A inovação também se dava na vitrine de salgados. O beirute servido no ponto é lembrado até hoje pelos consumidores.
“Sempre fomos muito ligados nas novidades do mercado. Procurávamos nos atualizar com o que tinha de melhor, fazendo cursos e indo a encontros nacionais de sorveteiros”, relembra Ana.
Julmir explica que muitos cursos eram patrocinados por empresas que produziam maquinário para fábricas de sorvete, normalmente italianas, e muitas dessas ideias vinham da Europa. E o casal não tinha medo de apostar.
“A gente não pensava em como ia funcionar, não tinha nenhum planejamento, era assim: vamos comprar esse ano 25 freezers, aí saia para colocar nos pontos. No outro ano, vamos comprar mais 30”, conta.
Bons momentos
Além da alegria de poder servir produtos bem diferenciados para época, haviam momentos especiais. Mais ainda quando o Sorvetão estava cheio.
Julmir lembra de quando colocava a máquina de sorvete expresso na calçada para receber os colégios no Dia das Crianças.
Também recorda dos dias que a sorveteria bombava: 7 de setembro e a partir do mês de outubro até o Carnaval.
“É muito gratificante saber que marcamos a vida de uma geração. Pessoas que tinham o Sorvetão como um ponto de encontro e como um local de muitos sabores deliciosos”, ressalta Ana.
Anos de muito trabalho
O Sorvetão era praticamente a casa de Ana e Julmir. Os dois chegaram a ter uma equipe de 16 funcionários que se revezavam para manter tudo funcionando, mas os dois estavam diariamente ali. Fosse para atender, fosse para produzir na fábrica que ficava nos fundos da sorveteria.
“Era muito trabalho. Só tinha um horário, de levantar e começar. Se fosse só fabricar o sorvete tudo bem. Mas aí nós tínhamos a sorveteria, que ia até no mínimo 10h30, 11h30, meia noite. E abria todo dia”, comenta Julmir.
O negócio também driblava as quedas de vendas no inverno, onde o consumo de sorvetes e sucos era menor, promovendo cafés coloniais e servindo lanches.
Com o crescimento da demanda e do reconhecimento, também começou a expansão levando o produto para mais pontos, o que exigiu um aumento na produção.
“Chegou um período em que a gente já estava 10 anos assim e estávamos cansados do comércio. Cansaço físico, estresse. O meu cunhado resolveu comprar e eu fiquei só fabricando sorvete mais uns 6 anos. E depois ele também vendeu e eu comecei a migrar para o lado da gastronomia, fui mudando. Foi naturalmente”, destaca.
Sobre o artigo que você leu
“Como vai você?” é uma série sobre o reencontro com personagens que se tornaram conhecidos em nossa região. São pessoas de quem lembramos vez ou outra, e agora queremos chamar para bater um papo e saber como estão. Você tem um nome para sugerir?
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