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Vinte e cinco anos e muitas histórias foram suficientes para transformar uma peruana, natural da capital Lima, em uma primorosa jaraguaense.
A recém chegada Pilar Diaz achava Jaraguá do Sul de 1996 muito pacata, sentindo falta da metrópole onde nasceu e de Santiago, capital do Chile, onde havia vivido alguns anos. Mas, hoje, não consegue se imaginar em nenhum outro lugar do mundo.
“Era acostumada com gente na rua, correia, mas tanto tempo se passou que ano passado fui ao Peru com meu irmão e em cada esquina tinha muita gente, vai e vem; não, já não me acostumo mais”, comenta. “Daqui ninguém me tira”.
Já bem ambientada, Pilar hoje está rodeada pela família. Ela conta que fez a mudança por causa do pai, que se mudou por causa do tio que já vivia aqui. Aos poucos vieram os três irmãos e, por último, a mãe.
E claro, o que também faz Pilar estar tão bem ambientada à região são os amigos caninos. Brincando, ela diz que deve ter sido cachorro em outra vida, por ser tão apaixonada pelos amigos de quatro patas.
La profesora
Antes de virar jaraguaense, se adaptar a uma cidade pequena foi um desafio para Pilar. Não havia shopping, as lojas do Calçadão fechavam cedo: faltava aquele movimento tão familiar.
O que ajudou muito nesse processo foi um convite inusitado, que a fez realmente integrar a comunidade.
“Como era nativa do Espanhol, me chamaram para dar aula. O primeiro foi na Wizard, depois na Wisdom, Senac, Ferj”, comenta, lembrando ainda das turmas em Corupá e na escola Sid, onde lecionou por 7 anos seguidos.
No começo, Pilar não queria aceitar por não ter nenhuma experiência como professora. Mas seu espanhol era precioso e a escola estava disposta a oferecer alguns cursos de preparação.
O primeiro dia de aula ficou gravado na mente da peruana. Ela lembra que chegou para dar aula, com seu cadernino, e nem tinha parado para imaginar ou perguntar sobre a turma. Tudo que sabia é que seriam pessoas familiarizadas com o espanhol – já que ela mal entendia português.
“Quando abre a porta era como 15 engenheiros da WEG. Meu Deus, eu olhei para a secretária, ela fechou a porta e fiquei com todos lá dentro”, relembra sobre a insegurança que bateu. “Eu queria que la tierra me trague naquele momento”.
Mas o que parecia um teste de fogo, acabou fluindo muito bem. A curiosidade dos alunos de saber sobre o Peru, saber palavrões em espanhol, quebrou o gelo e fez Pilar virar professora por muitos anos.
“Foi difícil no começo, coisas em português que não entendia. Aprendi muito com eles também”.
Pilar conta com satisfação que na época pedia que a família enviasse jornais ou revistas em espanhol, dado que sem internet era difícil encontrar materiais. Nas aulas incentivava os alunos a levarem instrumentos para cantar músicas e fazia aulas com preparo de pratos típicos.
A rotina nas salas de aula só deixou de fazer parte da sua vida quando decidiu, por amor, se mudar ao Rio Grande do Sul. Mas ela não se adaptou ao lugar e o relacionamento também chegou ao fim. Pilar decidiu voltar pra cá.
- Comida de outro mundo
A culinária do Peru é mundialmente conhecida por sua qualidade. A variedade gastronômica do país vem da junção da cultura milenar andina, com a influência de imigrantes espanhóis, franceses, entre outros.
Na metrópole Lima, se encontra boa comida por todo lado. E lá, conta Pilar, se encontram delícias como ceviches únicos.
A variedade de pratos é bastante grande, mas outro que a peruana cita como especial e um dos que sente saudades é a papa a la huancaína.
Moda de gente, moda de cachorro
Quando a peruna retornou, sentiu que era hora de mudar de ares e decidiu abrir uma loja com roupas femininas. Foram muitos anos com as portas da Pilar Modas abertas.
Ela conta que gostava muito da rotina, de ir para São Paulo trazer novidades, do contato com as clientes. Assim seguiu, até que um a perda de seu cachorrinho, Joy, despertou definitivamente esse amor pelos caninos.
Pilar relembra que o animalzinho morreu dentro de um pet shop. Havia sido deixado para um banho e pediu que examinassem o bichinho, que estava meio adoentado.
Sem a autorização dela, ele foi anestesiado e morreu em decorrência do procedimento. Isso deixou Pilar devastada e ao mesmo tempo muito indignada com a irresponsabilidade cometida com o pequeno Joy.
“Foi muita tristeza. Por um tempo não queria saber mais de cachorrinhos”, comenta, mas logo o coração amoleceu. Ainda mais pela insistência do pai, que segundo Pilar também é “cachorreiro”. Foi assim que chegou o segundo Joy.
Mas Pilar conta que queria muito honrar a memória do primeiro cachorro – e assim começou a saga de fazer ele ser conhecido. Primeiro surgiu a marca Mundo Fashion do Joy, trazendo inspirações dos grandes pet centers que ela via em São Paulo para serem reproduzidos por costureiras daqui.
De repente, Pilar se viu entre roupas para humanos, e roupinhas para cachorros.
Com o trauma de deixar seu animal sob cuidado de outras pessoas, ela contratava uma moça para fazer as tosas dele em sua casa. Foi aí que o pai dela deu a ideia de montar o próprio pet shop: aí surgiu o Pet Joy.
A decisão foi seguir o coração e optar pelos clientes caninos. “Por mais que eu era conhecida com loja de roupas, não foi fácil com o pet shop. Mas eu não tiro a toalha rápido, vou até quando não dá mesmo”.
- Costa, serra e selva
O Peru é um país com uma geografia muito diversa. Segundo Pilar, você pode ser da costa, da serra e da selva, e cada região tem seus pratos típicos de acordo com a abundância de alimentos em cada biodiversidade.
Ah, mas além disso o país ainda tem um deserto, considerado um dos mais secos do mundo – até mais que o Saara.
Uma protetora obstinada
Toca o telefone. Um número desconhecido e do outro lado da linha alguém avisa que existe um cachorrinho perdido ou sendo maltratado. Pilar não pensa duas vezes. Pega o carro e vai até o local.
Tem momentos que essa tarefa interminável cansa. É tempo para retirar os bichinhos da rua e buscar um novo tutor, e dinheiro para dar banho ou até mesmo castrar.
Mas ela não consegue deixar um animal abandonado – até mesmo relutante nos finais de semana, ela sai ao resgate.
A paixão pelos caninos sempre esteve presente em sua vida. Ela lembra que sempre haviam muitos cães na casa, no Peru.
“Eu e um irmão gostamos muito, ele diz que somos doentes, pode até ser. Mas eu sinto pelos cachorrinhos”, revela.
Atualmente ela atua com outras 5 pessoas, tirando do próprio bolso para ajudar os animais abandonados pelas ruas. “Minha vida é só cachorro”.
Uma vida tranquila
Com tantas raízes criadas por aqui, Pilar conta que não está nos planos voltar à terra natal. Foi conquistada pela tranquilidade de viver em uma pequena cidade que, como diz, tem suas coisinhas de cidade grande.
Se no começo o movimento fazia falta, agora sabe apreciar a beleza de estar em uma cidade mais pacata. Poder andar com tranquilidade na rua, encontrar conhecidos pelo Calçadão.
“É uma coisa bonita Jaraguá, espero que continue assim”, define.
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