Receber o diagnóstico de um câncer de mama não é fácil e se manter forte e lutar pela recuperação em uma situação como essa é um exemplo de fé e superação. Karla Marció lutou contra a doença e hoje está curada, sendo uma prova viva de que vale a pena acreditar no processo de recuperação.
Ela descobriu o câncer em maio de 2020, aos 37 anos, pois suspeitou que algo não estava bem quando passou a mão e sentiu um nódulo.
“Estava no sofá comendo pipoca com o meu marido quando uma caiu sobre o meu colo, passei a mão para tirar o doce que havia ficado na minha roupa e senti algo meio duro, mostrei para ele e ele também achou estranho”, conta.
Antes de descobrir a doença, ela já costumava fazer acompanhamento anual para saber se a saúde ia bem, e no fim de março do mesmo ano havia ido em uma consulta ginecológica, onde recebeu requisições para fazer exames de rotina, quando a situação da pandemia estivesse mais regular. “Em março, a médica mesmo fez o exame e não tinha nada. Como eu tinha as requisições em casa, depois do episódio da pipoca eu já consegui marcar o ultrassom e fui encaminhada para a biópsia.”
O resultado da biópsia veio já na semana seguinte: câncer de mama carcinoma HER 2+, um tipo de câncer que tende a crescer e se disseminar mais rapidamente do que outros tipos de câncer de mama, mas é muito mais propenso a responder ao tratamento com medicamentos específicos que têm como alvo a proteína HER2.
A partir disso, ela passou por seis sessões de quimioterapia, cirurgia, radioterapia e depois outra cirurgia de reconstrução. O tratamento não traz só efeitos colaterais físicos, mas também psicológicos. A queda do cabelo costuma abalar muito a autoestima da mulher.
“Tentei de tudo para não perder o cabelo, fiz meu tratamento em Itajaí, pois lá tinha um aparelho que poderia ter a possibilidade de não cair todo o cabelo. Era muito apegada ao meu cabelo, sempre gostei e cuidei muito dele, então quando via todos aqueles fios pela casa me fazia muito mal. Mas sempre focava em melhorar e que isso seria só mais uma etapa.”
Na luta contra o câncer de mama, é fundamental que as mulheres possam contar com uma ampla rede de apoio para ajudá-las com as questões emocionais e práticas da rotina. Karla contou com a presença constante de pessoas essenciais para a sua recuperação, apesar de ter ficado doente na pandemia, quando não era possível receber muitas visitas. Família, amigos e equipe de trabalho estiveram com ela em toda a luta contra a doença.
Ela explica que os pais estiveram com ela durante todo o período de tratamento, em que quase não saíam de casa, além do marido, que tirou uma licença de seis meses do trabalho para se dedicar exclusivamente aos cuidados dela, que só saía para ir ao médico.
“Sempre me sentia muito amada, não tinha uma semana que não recebia uma mensagem, uma ligação, uma flor, um presentinho para me lembrar o quanto também era importante na vida de outras pessoas.”, relata Karla.
Apesar de ser uma doença complicada, ela em nenhum momento pensou no pior e enfrentou a adversidade como todas as outras da vida. “Pensava muito nos meus sobrinhos, principalmente na minha irmã mais nova que estava grávida e me convidou para ser madrinha da minha sobrinha. Eu precisava estar forte e saudável para brincar e me divertir muito com eles, além de me mostrar forte para os meus pais, que sempre estiveram ao meu lado.”
Os relatos de experiências pessoais positivas de diferentes mulheres sobre a doença encorajam mais mulheres a se engajarem na prevenção, diagnóstico precoce e melhor tratamento. Para Karla, a sensação de superação é uma vitória e a vida passou a ter mais sentido depois da doença.
“Dificilmente desligo o telefone sem dizer que amo as pessoas da minha família, aqueles amigos especiais. Já não era muito de fazer coisas para agradar ou me adequar a alguém ou a um cenário e agora acredito que menos ainda. Faço aquilo que tenho vontade, dou mais valor a pequenas coisas, e pequenos gestos. Valorizo ainda mais estar com aquelas pessoas que eu amo realmente, pessoas que me agregam e me fazem bem”, diz.
O câncer de mama no Brasil
A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é que 2022 registre quase 66 mil novos casos de câncer de mama diagnosticados. Quanto mais precoce for a descoberta, maiores as chances de cura, por isso, mulheres de todas as idades devem fazer o autoexame da mama pelo menos uma vez por mês. A partir dos 40 anos, é indicada uma mamografia anual. Em caso de qualquer alteração, um médico especializado deve ser consultado.
Por muitos anos, o estigma do tratamento mutilador empregado no início do século passado fez com que muitas mulheres não procurassem ajuda em tempo hábil e realizassem o diagnóstico em fases mais avançadas, mas hoje a disseminação da informação facilita muito a luta de quem enfrenta a doença.
Na luta contra qualquer tipo de câncer, além de tecnologia e informação, é essencial que se tenha amparo e carinho nos momentos difíceis. Exemplos de superação como o de Karla ajudam as pessoas que iniciaram a jornada do tratamento a vencerem as etapas do tratamento. Para quem está passando por isso e precisa de palavras de apoio, ela manda um recado:
“Ergue a cabeça e vamos em frente, que isso vai passar e você vai melhorar. O cabelo vai cair, você pode se olhar no espelho hoje e não se reconhecer, mas isso tudo não é nada, é passageiro. A vida vai continuar, você vai melhorar, vai ter sua aparência de volta. E acima de tudo você vai estar viva para ter novas experiências, conhecer novos lugares, viajar, ter novos planos na sua vida”, finaliza.