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Cores, sons, aromas e sabores, muitos sabores. O Nordeste brasileiro é cheio de particularidades que motiva muita gente a pegar um avião nas férias para conhecer essas belezas. Mas a verdade é que o tempero nordestino já está bem presente em Jaraguá do Sul – nós é que não sabemos.
Estima-se que existam cerca de 8 mil pessoas nascidas no Nordeste vivendo na região. E não precisa ir muito longe para encontrar um conterrâneo de Ariano Suassuna.
Todas as manhãs, a concorrida mesa 7 para o cafezinho do dia, no térreo do supermercado Giassi, é encabeçada por João Andrade. Nascido em Recife, Pernambuco, o radialista, produtor e marqueteiro vive há 15 anos na cidade.
Quem já cruzou nessa vida com Pedro Bial e Cazuza trabalhando na TV Globo no Rio de Janeiro, esteve na organização do primeiro Rock In Rio, fez campanha política em várias capitais, entre outras jornadas, parou por aqui por um dos dois fatores possíveis, segundo ele elenca.
“Para Jaraguá você vem por dois motivos: ou pela WEG, ou por uma jaraguaense. Eu vim pela jaraguaense”, comenta Andrade. O casamento terminou, mas trouxe a filha Ághata, da qual é fã de carteirinha e exibe orgulhosamente em uma camiseta.
Com raízes locais por esse laço familiar, Andrade lembra que buscou por muito tempo encontrar um pouquinho da alegria e do ritmo da terra natal por aqui.
Para a surpresa dele, essa mesma saudade havia batido anos antes em Ioneide Araújo da Costa, a Neide, – e atualmente está materializada em um lugar, como diriam, “arretado de bom”.
“Eu encontro um casal, Ponto do Chioquinho. Quando eu olhei aquilo ali eu pensei: tem isso aqui?”, relembra Andrade.
- O Nordeste
O Nordeste brasileiro é composto pelos seguintes estados: Maranhão, Alagoas, Bahia, Ceará, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Um pedacinho de lá
Ioneide e Francisco Araújo da Costa chegaram na cidade em 1985. Vieram pelo segundo motivo possível: trabalhar na WEG.
Na verdade, quem veio primeiro foi o irmão de Francisco, uns 10 anos antes. Na época, esse irmão trabalhava como vendedor ambulante, parou na cidade, conheceu uma “polaca” e por aqui ficou, sem conseguir dar notícias para a família.
Um dia, ele voltou para Várzea Alegre, no Ceará, levando a esposa e falando desse lugar onde estava vivendo. Na volta, trouxe os irmãos em busca dessa “terra prometida”.
Neide conheceu Chiquinho quando ele tirou férias e foi do Sul para casa. Ela trabalhava em Recife nessa época, mas ambos eram da mesma cidade.
“Nos encontramos no Ceará e começamos a namorar”, conta. “Ele veio para cá, eu voltei para Recife e a gente ficou se comunicando… até a aliança foi pelo Correio!”, lembra.
Com a bênção da mãe e o pedido de casamento aceito, ela veio para Jaraguá do Sul onde começou a trabalhar na Marisol.
Neide hoje se considera jaraguaense de coração, mas conta que na época sentia muita falta de qualquer referência do seu nordeste. Tinha que mandar trazer fita cassete para ouvir um forró e não encontrava por aqui nenhum prato parecido com os sabores de lá.
De barraquinha à restaurante temático
Se questionando sobre a falta de opções gastronômicas nordestinas, a empreendedora decidiu fazer tapiocas para vender – mas a princípio não foram bem aceitas, porque ninguém conhecia. Foi só quando passou na TV sobre os benefícios do prato para a dieta que Neide começou a fazer sucesso.
A cearense então aproveitava tudo quanto é evento, até a Schützenfest, para fazer suas tapiocas e também crepes. O dinheiro ia todo para a poupança.
Comprou um bom terreno de esquina na rua principal da Tifa Martins com a venda de uma casa na lateral e foi morar de aluguel bem em frente – economizando e sonhando com seu espaço.
Foram anos e anos de trabalho para construir o lugar. Primeiro, quem abriu as portas foi Francisco, com o bar e cancha de bocha – que até hoje tem torneio só entre nordestinos.
Mas Neide não se dava por satisfeita. Ela queria um espaço totalmente dedicado para servir delícias da sua terra Natal.
E, aos poucos, junto da tapioca veio o acarajé, baião de dois, mungunzá, escondidinho e outros pratos elaborado e lanches com toque típico – como os famosos X-Arreégua e X-jegue.
“Deu muito trabalho para eu explicar para o pessoal que era bom. Eu comecei a criar a Noite Gastronômica Nordestina, isso faz sete anos”, comenta. “As pessoas ficavam com medo de pedir e não gostar. Nessa noite coloco tudo que é prato, você vai experimentar e vai identificando”.
Foi a partir daí que os sabores foram ganhando o paladar dos clientes e cada vez mais pessoas foram conhecendo o Ponto do Chiquinho.
Hoje, 20 anos depois, Neide sente o reconhecimento. Algo que foi difícil porque muitas pessoas não acreditavam que um restaurante nordestino pudesse dar certo em Jaraguá do Sul.
“Era eu e carregar todo mundo junto para fazer dar certo. Então saber que vem gente de Itajaí para comer meu acarajé, nossa, não tem preço”, conta.
Integração de tradições
Como na época da colonização que chegaram os primeiros imigrantes com sua bagagem cultural, Jaraguá do Sul, com seus estimados 180 mil habitantes, foi ganhando novas misturas a cada década.
Quando Andrade encontrou Neide e Chiquinho, o baú de ideias começou a aflorar. O Ponto do Chiquinho virou então o Centro de Tradições Nordestinas – assim como existe em São Paulo – para agraciar os milhares de conterrâneos e apresentar e oferecer a alegria dessa cultura para quem sempre viveu aqui.
“Queremos fazer essa aproximação. Dançar, mostrar a gastronomia, música, arte”, destaca Andrade. Isso, comenta, será impulsionado ainda mais com a promoção de uma festa de Carnaval para a família inspirada no famoso bloco Galo da Madrugada, que aqui virou Marreco da Madrugada, e uma festa de São João.
Mas Andrade ressalta que a ideia não é importar um evento pronto, mas construir com a comunidade, misturando a essência dessas festividades com as tradições locais.
Christian ressalta que a maioria das pessoas cresce com a noção de que é melhor matar uma cobra quando se deparar com ela. O que é compreensível, lembra o biólogo, sendo que antigamente não existia acesso fácil a hospitais, postos de saúde e informação sobre as serpentes.
“É a mistura da hackepecker e rapadura”, brinca ele. “A inspiração veio de lá, mas o Marreco é jaraguaense”, ressalta falando sobre os projetos para criar frevos em alemão e outras combinações.
Para Neide, há sempre espaço para novidade e novos projetos. E como ela mesmo provou na sua trajetória, tem lugar da diversidade cultural em Jaraguá do Sul – de uma venda de tapioca, hoje o restaurante é totalmente temático e atrai até turistas.
Para a empreendedora, as delícias gastronômicas, a liberdade e o ritmo nordestino podem trazer mais uma opção de diversão e união para a população.
Afinal, alegria é o que não falta e ninguém vai recusar uma oportunidade de aproveitar as grandes festas do Nordeste sem precisar embarcar em um avião.
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