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“Imagina como começou a WEG”, diz Reiner Modro, colocando em cima da mesa de centro um instrumento difícil de decifrar.
“É uma régua de cálculo. Isso é a calculadora técnica dos anos 60, e esse é o livro de cálculos, vê como está usado, que a gente usava no começo”, comenta. “A gente não acredita como a WEG conseguiu chegar nesse nível de tecnologia, isso aqui era a base da nossa tecnologia. Isso aqui era tecnologia da WEG”.
Na memória deste jaraguaense está não somente este fato curioso, mas muitas histórias sobre os primeiros capítulos de desenvolvimento da multinacional. E para os episódios que não for capaz de lembrar, um valioso acervo com as edições do jornal institucional da empresa foi mantido, da edição número 1 até 1988.
As lembranças valiosas do consultor empresarial, hoje com 75 anos, acompanham a trajetória da fundação junto com Werner Voigt, Eggon João da Silva e Geraldo Werninghaus. Não poderia ser diferente, Modro começou na WEG em 1962, quando a empresa estava completando o primeiro ano.
Vocação para os desafios
Reiner Modro entrou na empresa sem nenhuma experiência, aos 16 anos de idade, e saiu como diretor superintendente da WEG Máquinas. Foram 26 anos de trajetória em que a vontade de buscar novidades e encontrar desafios fez toda a diferença.
Nas horas de folga, buscava aprender outras funções dentro da empresa, como o aprendizado com o torno absorvido pedindo orientação de Onório Pradi, um dos sócios dos fundadores na época.
“Foi um fato histórico para mim, pois estava descobrindo os segredos da mecânica”, relembra.
Modro conta que nesses primeiros anos fazia de tudo para aprender o que era possível, fazia horas extras e nesta época comprou seu manual guardado até hoje, mesmo manchado de graxa. “Se trata do livro Máquinas de A.L. CAstillas’, uma enciclopédia em mecânica naqueles tempos”.
Outro mentor que despertou conhecimentos, conta ele, foi Wilhelm Werninghaus, pai de Geraldo.
“Era aquele profissional de sete instrumentos, cominava a teoria e a prática. Com ele aprendi desde forjar ferramentas de aço rápido até cálculos de matemática, geometria, e me motivou a comprar livros técnicos alemães que muito me auxiliaram nos anos seguintes”.
As histórias são muitas e detalhadas, capazes de render um livro. Ano a ano Modro seguia se desenvolvendo tecnologicamente junto com a WEG e se encarregando de encontrar soluções mais complexas para ajudar a modernizar a produção.
Um desses momentos ímpares, relatados até no livro da história de Werner Voigt, foi a criação da primeira ferramenta progressiva, um sonho do fundador.
“Sempre que tinha uma oportunidade me visitava na ferramentaria para discutir a possibilidade, inclusive com recortes de reportagens técnicas do exterior a respeito, pois sabia que sem conseguir realizar este objetivo a WEG não alcançaria a tecnologia a nível mundial”, relata.
O êxito nesta tarefa, lembra Modro, tirou diversos operadores de prensa, aumentou a produção de motores, reduziu o lead time de entrega e melhorou a qualidade dos estatores – uma peça do motor que tem função de conduzir o fluxo magnético.
Nos anos seguintes, Modro foi encarregado de orientar a construção de ferramentas progressivas para toda essa produção.
Uma operação de transferência tecnológica
Outro momento ímpar aconteceu em 1970. Reiner Modro recebeu a missão de ir trabalhar alguns meses em uma empresa alemã, a Blum-Enz-Vaigen, para observar processos de produção de componentes para motores elétricos.
Na fábrica ele colocou a mão na massa, aprendendo com atenção e reproduzindo croquis de tudo que observava.
Mas, no fim das contas, foi também seu relacionamento pessoal, após tomar café com a principal executiva da empresa, chamada por ele de Frau Blum, que rendeu a façanha de trazer cópias dos projetos técnicos para Jaraguá do Sul.
Foi numa festa oferecida a técnicos de vários países que estagiaram na empresa, convidado por ela, que arriscou esse audacioso pedido.
“Eu já estava me preparando para receber o convite de alguém para me levar ao hotel, quando a Frau Blum se aproximou, sentou-se do meu lado, me perguntando se o estágio tinha sido de bom proveito”, conta.
Modro agradeceu a oportunidade de aprender tanta coisa na empresa, mas afirmou que gostaria de ter conseguido desenhar tudo que observou. Foi quando ela perguntou se poderia ajudar de alguma forma.
“Neste momento disse a ela que, para a minha carreira profissional, seria uma ajuda imensurável se ela me permitisse fazer algumas cópias de alguns projetos”, comenta. “Pronto, a sorte estava lançada”.
A resposta prometida para o dia seguinte, último de Modro na Alemanha, foi positiva. Em uma papel especial, vieram na mala dele mais de oito quilos de projetos e especificações.
O livro de 25 da WEG descreve o feito de Modro: “Foi assim que a WEG – e o Brasil – conseguiu ‘importar’ quase meio século de desenvolvimento tecnológico alemão na produção de ferramentas para indústria elétrica”.
Um acervo histórico
Era setembro de 1969 quando saia a primeira edição do “Notícias WEG”, um jornal que circulava nas fábricas trazendo informações sobre a empresa, novidades relacionada ao mundo empresarial e fatos que mexiam com o cotidiano.
Modro guardou cada uma das edições publicadas enquanto esteve como funcionário da empresa, isso até 1988. Alguns foram cuidadosamente encadernados para manter a ordem cronológica e conservação.
Ampliações da empresa, o início do Centroweg, atividades esportivas da Arweg, fatos sobre Jaraguá do Sul. Uma infinidade de acontecimentos espalhados por milhares de páginas.
“Foi um capricho que eu tive desde o início de organizar e guardar, então eu fui guardando e guardando até o último dia que eu fiquei na WEG”, comenta Modro.
Ele comenta que nunca pensou que estaria formando um acervo histórico, mas celebra poder compartilhar esse material.
Inclusive, ele mesmo aparece nas páginas, sendo citado pela primeira vez na edição de outubro de 1969, na página 4, uma entrevista chamada de “Operário Moderno”.
Anos de experiência e atualização constante
Desde que saiu da WEG, Reiner Modro foi em busca de novos desafios e participou na reestruturação e organização de grandes empresas, além de ter atuado na comunidade na fundação e gestão de várias entidades.
Atualmente, utiliza essa sabedoria acumulada ao longo dos anos para atuar como consultor empresarial.
Não somente na área técnica, como um bom apaixonado pela tecnologia, mas também em gestão, inovação e vendas, afinal, tudo anda junto.
“Ano que vem eu vou fazer 60 anos de atividades ininterruptas, isso sem contar os anos antes da WEG, em que eu trabalhei em um fábrica de brinquedos, e os anos de roça, desde pequeno”, comenta.
A relevância dos anos trabalhados fez ele, agora, se permitir trabalhar metade do mês e dedicar a outra metade ao lazer, música e amigos – a grande roda da Mesa 7 do Giassi.
Sempre atualizado
Falando de sua vocação para novidades, comenta que está fazendo um curso de inovação pelo Sebrae e se preparava para em breve trocar de computador – como programador que também é, gosta de ter os equipamentos de última linha.
Mas não é só trabalho. Essa vertente tecnológica também caminha nas horas de lazer. “Tenho mais de 10 milhões de visualizações no Youtube, eles já me colocam como influencer”, comenta, bem humorado.
Na internet não estão palestras ou aulas, mas sim música. Comandando o acordeon, Modro grava vídeos com os membros da banda Musical JS e amigos.
Flores, entre outras tantas histórias impossíveis de serem contadas em poucas páginas.
Seu principal feito é recuperar muitas músicas antigas da cultura alemã. Com orgulho, conta das cantigas entoadas pela mãe que conseguiu memorizar e tocar no instrumento. Mas também tem versões em português de músicas alemãs e até uma autoral.
Músico, especialista em diversas áreas e com uma contundente atuação, ele celebra manter na memória capítulos da fundação da WEG, da faculdade, do Lar das
“Eu tive uma vida muito intensa. Eu nasci com Jaraguá e participei de tudo”, resume Modro.
Sobre o artigo que você leu
“Avós de Jaraguá” é uma série sobre o que podem contar e inspirar pessoas idosas de Jaraguá do Sul que seguem na ativa, sendo realizando sonhos, se mantendo ativos na profissão, exercendo algum trabalho voluntário, ou até mesmo encontrando novas paixões. Conhece algum vovô ou vovó cuja atitude provoca admiração?
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