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Matéria escrita por Serginho de Almeida, atualizada em agosto de 2019
Foi-se o tempo em que “sebo” era lugar de coisas velhas, muitas vezes danificadas e que sortudo era quem encontrava uma raridade em bom estado de conservação. Graças ao cuidado com os produtos e um atendimento super atencioso, a Livraria Sebu’s, que hoje fica ali, na Avenida Marechal Deodoro, fincou raiz em Jaraguá do Sul e se estabeleceu como um ponto de referência na cidade.
A loja já está aí há mais de 25 anos, e isso se deve principalmente aos protagonistas desta história, Nelso da Silva e Gildete Anderle da Silva, donos de grande perseverança e um enorme carinho na condução do negócio.
De gestos tranqüilos e voz suave e pausada, Gildete é a cara metade de Nelso que, aos 54 anos, é agitado e falante – uma união onde o resultado é o equilíbrio. É com estas personalidades que eles carregam o espírito da Sebu’s.
O início em Taió
Negociante por natureza e gosto, Nelso conta que no início dos anos 80, comprava e revendia revólveres, em Taió, sua cidade natal, numa época em que não havia impedimentos para esse tipo de comércio. Ele lembra que a escolha do sebo como negócio não veio por acaso. Ele seguiu os passos de um irmão que já está no ramo há mais de 30 anos, em Blumenau. “Achamos uma boa idéia e montamos um na nossa cidade natal”, destaca.
Em 1983, ele e Gildete abriram a loja Auto Som, em Taió, que vendia aparelho de som usado, violão, capacete, fogão… De tudo um pouco. O negócio durou três anos, até que chegou um ponto em que a cidade não oferecia mais condições de prosperidade…
Vinda para Jaraguá do Sul foi “por acaso”
A vinda do casal para Jaraguá do Sul, segundo Nelso e Gildete, aconteceu por acaso. “Foi um anjo que pegou a gente pela mão e trouxe para cá”, brinca Nelso. Ele conta que estavam em Itapema ajudando um cunhado que tinha um restaurante e ele decidiu ir a Joinville. “Um dia de manhã eu peguei o nosso Fusca e disse para a minha mulher que ia a Joinville ver uma sala para montar um sebo lá”, relata. Mas, no caminho, uma placa com o nome de Jaraguá do Sul mudou o destino da viagem e a vida dos dois.
“Quando cheguei ao trevo da BR-101, olhei a placa: Jaraguá do Sul… Pensei: nunca fui a Jaraguá do Sul, vou lá conhecer. Entrei aqui e na mesma manhã já aluguei a sala”, relata, divertidamente, o dono da Sebus.
A necessidade de fiadores para a locação foi resolvida com a ajuda de um conterrâneo que tinha joalheria em Jaraguá do Sul. E assim a Livraria Sebus se estabeleceu na Rua Domingos da Nova, em prédio hoje demolido, que antes abrigava o Restaurante Lehmann’s.
Começo difícil e aposta na qualidade
Nelso lembra que eles “penaram” no inicio. “Na época, chegava a criar capim no meio da rua de tão pouco carro que passava ali”, relata. Não fosse a ajuda da esposa, que trabalhava como recreadora em uma escola do município, a livraria poderia não ter alavancado. “Na época em que a gente veio para cá, ele trabalhava na loja e eu na Prefeitura como recreadora. Trabalhei quase cinco anos em escola e ajudava ele”, conta Gildete.
“Ela injetava o dinheiro no negócio, segurou as pontas por anos. Foram os anos mais difíceis da loja”, descreve Nelson.
Quem lembra dessas prateleiras?
No início, segundo Gildete, houve certo preconceito. Diferentemente de outros centros, como Curitiba, as pessoas pensavam: “o que eles vão fazer com livros velhos”. Hoje, diz Gildete, estas mesmas pessoas são clientes assíduas e grandes amigos da loja.
Cidade ensinou a fazer um sebo melhor
Para Gildete, Jaraguá do Sul os ensinou a fazer um sebo melhor. O público foi exigente e forçou o negócio a um alto patamar de qualidade. “Hoje nós temos clientes que são de fora… Curitiba, Salvador, Portugal, Mato Grosso, e eles sempre voltam elogiando”, diz.
A meta permanente de ambos é trabalhar para ser um sebo diferente, e para isso, o diferencial é o atendimento e a qualidade dos produtos. E é essa a orientação que eles passam para o filho Mateus, que há pouco começou a trabalhar na loja: “Você deve por uma mercadoria na prateleira como você gostaria de escolher ela”. E esse carinho Nelso e Gildete, podem ter certeza, o público de Jaraguá do Sul reconhece.
Algumas curiosidades
Relembrando fatos insólitos na trajetória da Sebus, Nelso conta que uns 15 anos trás havia a dificuldade em conseguir CDs, principalmente de música gauchesca. Ele lembra que ficou quase um ano tentando contato com o representante de uma gravadora no Rio Grande Sul e ele nunca veio visitar a loja. Aí decidiu ir a Porto Alegre comprar os discos, pagando à vista. Nelso e um primo compraram mais de 1.800 discos na ocasião, o que alguns dias depois, resultou na visita do dono da própria gravadora à loja, que estava curioso com o destino da aquisição feita.
Para Gildete, uma das coisas que chama a atenção é que os clientes da Sebus nem sempre vão para comprar. Às vezes, diz, há quem visite a loja apenas para desestressar circulando entre as prateleiras. “E o cliente pode até não comprar, mas ver ele ali, mexendo, é gratificante”, diz ela, lembrando que sempre há mais de uma forma de manter relacionamento com o consumidor.
A preferência de leitura de Gildete está direcionada para relatos de viagem, mas conta que já se apaixonou por romances e livros de auto-ajuda. Já, na música, tudo depende do momento.
Quando dá tempo, Nelso prefere ler Tex (revista em quadrinhos de faroeste) e turma da Mônica. A leitura rápida ainda compete com suas aulas de gaita, o que não torna difícil entender que prefere a música tradicionalista gaúcha e a sertaneja.”A de raiz, não a universitária”, como faz questão de destacar.
De cada mil discos de vinil que Nelso compra, só cerca de 50 vão para as prateleiras. O resto, ou está riscado ou com a capa danificada. Esses descartes viram quadros que ele mesmo faz – assim como as prateleiras da loja.
Segundo Nelso, a palavra “sebo”, que define o seu negócio, surgiu na época dos castelos medievais, quando os livros eram lidos à luz de velas feitas de sebo. E de tanto ficarem expostos a esse material, sendo manuseados, os livros ficavam, literalmente, “ensebados”. Daí a palavra para definir estabelecimentos de livros usados.
Os produtos que não tem giro na livraria vão para uma sala. Quando a quantidade atinge duas toneladas, o material é vendido para reciclagem. Os recursos obtidos são doados para entidades assistenciais.
Sobre o artigo que você leu
“Quem são esses jaraguaenses?” é uma série que sempre vai trazer uma personalidade da nossa cidade para conhecermos melhor (e também nos inspirar). Sabe de alguém que tem uma bela história para contar?
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