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O doce sabor das frutas, a criatividade nas artes e o amor pela natureza embalam Flávia Bampi, 30 anos, e Tiago Locks, 33. Agir com propósito e caminhar rumo a uma vida mais sustentável é objetivo dessa caminhada de transformações do casal, que começou há uns 7 anos.
Mudança de hábitos, apesar de difícil, não é vista com pesar por eles, que se alegram em compartilhar um pouco de uma estilo de vida mais harmônico com o planeta. Foram muitas transições e cada pequeno passo impulsionou o próximo.
Hoje o apartamento em que moram em Jaraguá do Sul tem a bancada cheia de frutas e legumes – afinal 90% da alimentação deles é frugívora. Nos lixeiros os saquinhos plásticos viraram de papel. Nas prateleiras, os produtos de higiene e limpeza são naturais. Poucos itens pelas prateleiras e guarda-roupas.
A motivação é perceber a degradação que a ação humana causa no meio ambiente.
“Depois que você descobre, para mim que me tocou forte no coração, então isso é prioridade, esses são meus valores e eu vou tentar viver de acordo com isso. Mas realmente é desafiador”, comenta Flávia.
Ela destaca que o questionamento e aprendizagem é constante: de que forma eu posso encontrar mais harmonia, viver mais alinhada com a natureza? Mas num contexto geral, ainda se tem barreiras para falar do assunto.
Primeiro eu mudo, depois o mundo
As transformações pessoas foram muitas nesses anos. Flávia veio para Jaraguá do Sul aos 17 anos para a faculdade. Tinha vontade de cursar ciências ambientais, mas aqui acabou se formando em moda por ter a matéria de fotografia, sua outra paixão.
Ela trabalhou por 7 anos na indústria têxtil até que vários questionamentos começaram a surgir. Não se sentia realizada e começou a ler sobre mudanças de carreira.
Mais ou menos nessa época, veio a vontade de sair de casa, ter o próprio canto, uma vontade que na busca por lugares se manifestou no Tiago também. No fim, os dois começaram a vida juntos e viram um universo de possibilidades.
“Eu comecei a sentir que meu trabalho não era mais suficiente, eu não era mais feliz trabalhando lá. Eu acabei saindo e montei um atelier de produtos de decoração para casa”, comenta Flávia. “Quando eu comecei a descobrir e estudar e perceber o quando as nossas atitudes diárias e costumes causam no planeta, o sofrimento animal e a gente foi mudando, alterando coisas na nossa vida”.
O mesmo foi acontecendo com Tiago. Desde menino ele tocava em uma banda da família, mas aos poucos tocar em bailes parou de fazer sentido. Mas o laço tornou esse desligamento uma árdua tarefa emocional.
“Eu fiquei 5 anos nesse processo de autoconhecimento e me desligar desse vínculo. Eu olhei e pensei que não dava mais”, diz. “Mas mudei e migrei para essa área do Sound Healing, que é utilizar os sons para diminuição dos níveis de estresse, relaxamento, entre outras coisas que o som pode proporcionar”, conta Tiago.
Boas vibrações do som
Assistir a uma apresentação do Tiago com seu hang drum é perceber como a música pode elevar os sentimentos. Ele conta que sentia vontade de levar a música para auxiliar as pessoas, ou mesmo para apresentar outra forma de som.
Foi aqui que se conectou com o Sound Healing – uma forma de ver a música de forma terapêutica. Depois de um curso, foi criando seu repertório de instrumentos e o projeto Jornada Sonora.
Muitas vezes o Sound Healing é usado em atendimentos individuais, mas a proposta de Tiago são apresentações abertas ao grande público – para que chegue sempre a mais pessoas.
Ele utiliza flautas, o hang drum, tambor oceânico, tambor Lakota, kalimba e outros de seu set. As apresentações são sempre intuitivas.
“Cada instrumento te leva para um elemento do teu organismo, e os sons vão ativar esses pontos”, explica. O hang drum tem um som relacionado ao ar, enquanto o tambor, à terra, por exemplo.
Criações mais sustentáveis
Da criação de itens decorativos, seu primeiro negócio ao sair do mercado formal, Flávia foi aprimorando seu trabalho criativo para se alinhar, cada vez mais, com essa construção de um mundo mais sustentável.
“Começaram a vir outros questionamentos, que mensagem eu quero passar?”, relembra.
Foi aí que a sementinha do projeto Camomila Eco Lab começou a brotar. Ela começou a produzir artesanalmente alguns itens que pudessem levar sua mensagem.
“Se você tem um produto na mão, as pessoas vêm e começam a conversar, a se questionar. Se eu tiver um saquinho para comprar a granel, não preciso usar plástico, tenho uma ecobag para ir no supermercado, ou as bolsas de crochê de resíduos de fio da indústria têxtil”, conta.
O laboratório ecológico de Flávia deve expandir, com site e lojinha on-line em breve. Atualmente o trabalho é levado em eventos por aí.
A integração da criatividade de Tiago e Flávia também deu origem ao projeto Universo Camomila, que tem como casa uma Kombi que eles usam para percorrer feirinhas, apresentações musicais, para viajar, até para acampar. E, claro, é o meio de locomoção deles.
Viver de frutas e vegetais
Mudar a alimentação foi um grande passo dessa jornada do casal. Primeiro, a percepção do impacto que a indústria do leite e da carne causa no planeta levou eles a uma alimentação vegana.
Nas voltas que o mundo dá, eles acabaram descobrindo o frugivorismo. “Que são frutas, vegetais e oleaginosas, onde também a gente viu nisso uma verdade para a gente”, conta Tiago.
Ele conta que essa forma de alimentar observa aquilo que pode ser ingerido naturalmente pelo ser humano, sem necessidade de preparo.
“Se colocar feijão, arroz, uma batata, uma banana e um coelho aberto. Qual você vai comer? A banana. Os outros, sem cozinhar, vai quebrar seus dentes e se fosse carnívoro, no caso, come a carne do jeito que está. Como o animal carnívoro come”, pontua.
Além disso, é uma dieta que não produz resíduos depois do consumo – as cascas vão todas para a composteira.
Manter uma dieta 100% vegana, apesar de muitos insumos para plantio ainda terem origem animal indiretamente, também é uma forma de conscientizar. “É uma forma de comunicar sobre o direito dos animais. A gente não segue 100% uma alimentação frugi, porque no inverno dá vontade de comer um sopinha, uma abóbora cozida, que são coisas que tem na nossa região”, comenta.
Para quem quiser saber mais, eles indicam conhecer o nutricionista Eduardo Corassa e ler o livro “80/10/10”, de Doug Graham.
6 atitudes para uma rotina mais sustentável, por Flávia e Tiago
- Questionar hábitos de consumo e estilo de vida
- Repensar e reduzir o consumo de carne e derivados animal
- Preferir produtos a granel, sem embalagens e naturais
- Optar por alimentos orgânicos e agroecológicos locais sempre que possível
- Recusar descartáveis, separar seu lixo e compostar seus resíduos orgânicos
- Lutar por uma sociedade do Bem Viver, livre de exploração, opressões e destruição do planeta.
Rotina e estilo de vida
Fazer mudanças em meio a um mundo corrido – muitas pessoas acham impossível. Paralelo a todos esses projetos, Flávia faz freelas como designer e Tiago trabalha em uma empresa na área de Tecnologia da Informação.
“É desafiador sim porque você está quebrando crenças, culturas que você trouxe, vários hábitos familiares, no almoço de domingo você vai ter que preparar a sua comida. Você tem que sair da zona de conforto totalmente”, comenta Flávia.
Mas no mesmo passo, cresce a sensação de sentido de vida. “Você vai encontrando leveza, vai vendo que simplificar, que minimizar, torna a vida muito mais simples e fácil. É mais fácil ter menos coisa pra pagar porque você não precisa trabalhar tanto. A gente está nesse processo, a gente está se compreendendo”, complementa.
A mudança conjunta também facilitou. Como casal, eles conseguem se apoiar e manter o estilo de vida com mais harmonia.
E para eles, vai muito mais do que algo pessoal – o sentimento é que essa consciência de sustentabilidade faz bem para todo a sociedade e que é preciso seguir falando sobre o assunto.
“Está todo mundo nesse planeta. Todo mundo é irmão de todo mundo, não há divisões, a gente que criou”, acredita Tiago. “É olhar com esse olhar de que a gente está numa casa, a gente precisa cuidar do que está aqui, e todo mundo se ajudar nesse processo. Aí ninguém vai deixar o outro na mão, vamos se ajudar, se unir, dar as mãos”.
Para os dois, a transformação começa no interior, para assim o mundo fica cada vez melhor. E os aprendizados não param nunca. “Tem tanta coisa pra gente aprender e isso é tão legal”, diz Flávia, com empolgação.
Sobre o artigo que você leu
“Larguei tudo para…” é uma série que conta as histórias de pessoas que tomaram a iniciativa de deixar um caminho seguro para perseguir um sonho. Aqui vamos compartilhar muita inspiração, experiências, perspectivas interessantes e disrupção. Conhece alguém com uma história legal?
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