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Domingo de manhã é dia de dormir até mais tarde, tomar aquele café caprichado sem pressa, ficar estirado no sofá…
Pode ser assim que muitas pessoas decidem aproveitar o começo desse dia, mas para os 39 membros do grupo Doutores Sementinhas, para o domingo ser bom de verdade, é preciso dedicar as primeiras horas dele para a alegria do próximo.
Cara pintada, roupa espalhafatosa e, claro, nariz vermelho. Pessoas comuns, aquelas que você encontra no shopping ou no supermercado, viram perfeitos palhaços. É aí que começa a magia.
Faz exatamente 10 anos que os primeiros membros começaram esse movimento de levar amor e alegria para os corredores do Hospital e Maternidade Jaraguá – e hoje se expande a abrigos e eventos especiais.
Mas o que move tantas pessoas diferentes nessa mesma vontade de despertar sorrisos e gargalhadas? Em diversos pontos os membros, que vão dos 18 aos 60 anos de idade, se alinham, mas a principal motivação vai além das palavras, é espiritual.
“O nosso grupo ele é cristão, é isso que nos une também”, comenta o voluntário e analista de PCP, Valmor dos Santos Loli, 29 anos. “A gente sempre busca mostrar quem foi Jesus, o que Jesus é, o amor que ele transmite para a gente e o que ele pediu para a gente: amai-vos uns aos outros”.
E daí surge o lema “amor ao próximo” que sintoniza diferentes perfis na mesma frequência. “A gente não prega religião nenhuma. Cada um é livre. A gente leva Cristo, leva Jesus sem influência de forma religiosa”, comenta Rafael Bandeira, 27 anos.
Aquilo que faltava
Se dedicar a um trabalho voluntário significa estar à disposição. Mas os Doutores Sementinhas afirmam que dedicar essas horas à essa missão de alegrar foi um complemento para a vida.
A estilista Juceli Fochesato, 32 anos, e a profissional de Recursos Humanos, Beatriz Nunes de Souza, 21 anos, entraram no grupo neste ano entre mais de 200 inscritos. Elas são unânimes em descrever esse sentimento de profunda integração.
“Foi tudo que eu sempre desejei no meu coração. O que eu posso fazer para ajudar o próximo? O que a gente pode fazer é doar nosso bem mais especial que é o nosso tempo”, reflete. “Eu não posso mudar o mundo, mas eu posso começar por aqui, fazer diferente”.
Para Beatriz, a motivação é a mesma, ainda mais porque ela viveu uma situação crítica com o filho e presenciou o trabalho de um outro grupo que ajudou muito no processo.
“Eu fiquei pensando, se na recuperação do meu filho eles fazem isso, porque eu não posso fazer para a recuperação de outras crianças? Mas eu sempre fui muito fechada, muito na minha, até pela minha profissão”, diz. “Eu fui encarei, quando eu vi, eu era uma palhaça mesmo”, completa
Um nariz que transforma
Atuar com crianças é a missão especial do grupo, destaca Rafael, mas isso não acontece fora de contexto. Os pais, médicos e enfermeiros, no hospital, e os funcionários, no caso do Abrigo de Guaramirim, onde estão presentes duas vezes por mês, também são foco – afinal, todo mundo está passando junto por momentos desafiadores.
É com a alegria contagiante do palhaço que esses momentos ficam leves e divertidos. E cada voluntário acaba encontrando o seu eu cômico.
“A gente fala que nós nos transformamos com o nariz. Porque assim a gente é meio sério. Colocou o nariz a gente se entrega de corpo e alma”, destaca a profissional da área financeira, Rhayssa Izidoro, 22 anos.
E com o passar os plantões, cada um vai encontrando o próprio ritmo para as palhaçadas. Rafael, por exemplo, deixa aqueles defeitinhos que no cotidiano o incomodam virem à tona para virarem motivo de gargalhada.
“Eu não gosto que as pessoas riam da minha voz, o meu palhaço apresenta isso de outra maneira… Pode rir mesmo”, comenta.
Valmor também destaca o quanto o trabalho em equipe faz com que as interações fiquem ainda mais engraçadas. Por isso, as equipes de plantão são semestrais, assim cada um pode aprender a interagir melhor com os colegas.
“O palhaço é uma troca. Um palhaço sozinho é complicado, a partir do momento que tem um palhaço contigo, você deixa o seu lado inocente, puro, seu lado criança mesmo. Não é interpretar, a gente conversa com a criança cara a cara e a gente também é uma criança, e isso permite ela não ter medo, vergonha e querer brincar com a gente”, explica.
Voluntários do amor
Levar as lições de Jesus de forma lúdica e divertida é o grande propósito dos Doutores Sementinhas. São pessoas que sonham em criar um mundo melhor, mais harmônico e amoroso. Mas para conseguir espalhar “a palavra”, eles destacam a importância de viver ela.
“A gente têm que se amar dentro do grupo para que isso transcenda nossos limites como pessoas e através de uma visita no hospital, num abrigo, em um lar de idosos, as pessoas sintam isso”, comenta Valmor.
“Para a gente transmitir alguma coisa, a gente precisa viver isso entre nós. Eu não vou conseguir trabalhar dentro de um hospital com ela [colega] de maneira legal e harmoniosa se eu e ela não tivermos uma harmonia”, ressalta Rafael.
E depois dessa harmonização entre os membros, levar uma mensagem de amor fica mais fácil. Valmor comenta que o grupo começou justamente para expandir as fronteiras da igreja, tendo sido fundado dentro de um grupo de jovens de uma igreja evangélica. Com o tempo passou a se desvincular da religião, unindo no propósito.
Crescimento e missão coletiva
Nesses 10 anos de jornada, o grupo Doutores Sementinhas cresceu. Ganhou membros e, especialmente, uma agenda lotada. Além dos plantões fixos, aparecem muitos projetos e eventos.
Nem sempre é possível atender tamanha demanda, especialmente quando surgem nos dias de semana, já que todos os voluntários trabalham e têm suas atividades cotidianas.
“O nosso alicerce é Deus e graças a ele o nosso grupo tem essa proporção. Nós estamos aqui a serviços de Deus e isso que queremos mostrar para as pessoas, o que a gente pode fazer seguindo a Deus e Jesus.”, pontua Valmor.
Todo mundo pode ajudar
Por enquanto, o grupo Doutores Sementinhas se alegra em receber centenas de inscrições, mas é preciso crescer aos poucos, mantendo a organização, identidade e dedicação do trabalho.
Mas Valmor destaca que a ideia não é que o grupo seja o único realizando trabalhos como esse, sempre há espaço para novas iniciativas nascerem.
O voluntário aconselha quem tem vontade de realizar algum trabalho voluntário, quem vê algo na sociedade que precisa ser transformado.
“Tem que fazer. Se você não fizer, ninguém vai fazer. ‘Mas só tem eu, o que eu vou fazer sozinho?’ Começa. Dá o primeiro passo”, afirma.
Nesse espírito de irmandade e partilha, Rafael conta que uma uma pessoa de Três Barras participou de uma integração para conhecer melhor e levar o projeto para a cidade dela. “Tem outros grupos, existem diversos trabalhos voluntários que levam o amor, que praticam o amor”, completa.
Sobre o artigo que você leu
“Quem são esses jaraguaenses?” é uma série que sempre vai trazer uma personalidade da nossa cidade para conhecermos melhor (e também nos inspirar). Sabe de alguém que tem uma bela história para contar?
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