“Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar. Em cada despedida eu vou te amar, desesperadamente eu sei que vou te amar.” O trecho da canção de Vinicius de Moraes e Tom Jobim é a trilha sonora ideal para a história que será contada a seguir. Um amor que atravessou os percalços da vida e permanece forte há 70 anos.
Quando Simão Mannes e Christina Maria Tomaselli Mannes uniram seus destinos ao decidirem se casar no dia 9 de junho de 1954, ainda não podiam prever que o amor os conduziria por uma jornada de sete décadas. Hoje, aos 91 e 93 anos, eles não apenas compartilham uma vida, mas simbolizam uma história enriquecida por amor inabalável, dedicação profunda e uma parceria que transcende o tempo.
Lado a lado, eles revisitam os momentos dessa jornada extraordinária. Embora o passar dos anos tenha suavizado algumas lembranças, cada um resgata com carinho fragmentos dessa narrativa que começou a se desenhar em 1952, quando seus caminhos se cruzaram pela primeira vez.
Assinantes de longa data do jornal OCP, marido e mulher celebraram em junho um feito impressionante em suas vidas: a comemoração de 70 anos de casamento, marco conhecido como Bodas de Vinho. Esse casamento não só resistiu ao teste do tempo, mas floresceu com amor, dedicação e uma parceria sólida que serve de inspiração para todos ao redor deles.
Amor à primeira vista
A jovem Christina morava em Schroeder, na Vila Tomaselli, mas estava passando um tempo em Guaramirim, na casa do irmão, quando viu pela primeira vez o futuro marido. Ela lembra que naquela época, quando ouvia-se o apito do trem, era comum ir até as janelas das casas para ver a locomotiva passar com os chamados milicos, como eram conhecidos os militares do Exército. Foi assim que ela avistou Simão e foi amor à primeira vista, lá em 1952.
No começo, eles apenas se olhavam, sem trocar uma palavra sequer. Tudo mudou durante a tradicional festa de Bom Jesus, que ocorreu em um domingo. Foi quando Simão perguntou a Christina se ela gostaria de namorar com ele, e logo ele já estava conhecendo os pais dela, em Schroeder, na Vila Tomaselli.
A partir desse momento, o romance floresceu e o namoro começou. Christina relembra que Simão pedalava 20 quilômetros para vê-la, pois naquela época, não havia ônibus nem outros meios de transporte disponíveis como hoje em dia e a bicicleta era o meio de transporte mais usado.
A união e o crescimento da família
Foram dois anos de namoro até o casamento, que aconteceu no dia 9 de junho de 1954. Depois da união, o casal foi morar em Guaramirim, onde os pais de Simão tinham um pequeno sítio. Eles passaram a trabalhar com agricultura, compraram o sítio dos pais dele e logo a família cresceu.
“A emoção mais bonita que já tivemos foi quando nasceu nossa primeira filha, após de dois anos de casados. Depois vieram também cinco rapazes”, relembra dona Christina. Hoje em dia, além dos filhos, o casal tem nove netos e cinco bisnetos.
Com o passar do tempo, os filhos foram crescendo e sempre gostaram muito de estudar, por isso o casal resolveu se mudar para Jaraguá do Sul, onde as oportunidades de estudo eram melhores. “Vendemos o sítio e viemos morar aqui. Depois os filhos se casaram e ficamos só nós dois”, conta o casal.
As lembranças de infância dos filhos estão sempre presentes no coração de cada um. “De manhã cedo o rádio sempre ficava ligado no canto da nossa cozinha simples. A gente mal via o pai sair para trabalhar, pois ele saía cedo, trabalhava em Guaramirim. Ele tomava café escutando o rádio e ia trabalhar”, relembra um dos filhos do casal, Anibal.
A vida do casal foi de muito trabalho e esforço, mas também de momentos de passeios e descontração. Eles frequentaram por 25 anos o Clube de Idosos Afonso Piazera, onde participavam de diversas atividades, como dança e coral.
Companheirismo é a chave de tudo
Em meio a altos e baixos, Simão e Christina encontraram muitas alegrias ao longo dos anos. Eles compartilham algumas dicas valiosas para os mais jovens que desejam manter um relacionamento duradouro e feliz: ter fé em Deus e trabalhar muito são essenciais. “O ponto mais importante é confiar um no outro, ter humildade e bastante fé em Deus”, resume Simão.
A história de amor dos dois é marcada pela ausência de vícios e pelo companheirismo constante. “Ele não fuma, não bebe e sempre gostou de trabalhar. Ele não sai se eu não saio, eu não saio se ele não sair, estamos sempre juntos. Não temos ciúmes um do outro”, conta Christina.
Simão destaca a inovação e a dedicação de Christina ao longo dos anos. “Esse tempo todo a gente sempre inovou. Muito criativa também, ela fazia conserva, pão, tinha muita dedicação e cuidado com os filhos. Foi uma vida trabalhosa, mas com muito amor. Com muito amor e dedicação chegamos a ter essa longevidade”, revela Simão.
Christina, além de cuidar dos filhos, também ajudava na horta que mantinham em casa. A família sempre esteve presente, com filhos e netos saudáveis e no bom caminho. “Nossos filhos sempre vêm nos visitar, estão presentes, mesmo estando longe”, afirma o casal.
Para manter o romance vivo, Simão destaca a parceria e o companheirismo. “Foi uma união de muita parceria, fomos companheiros de tudo”, diz ele. Essa união se refletia no cuidado com o lar, onde o casal sempre cultivou um jardim e uma horta. “Eles sempre tiveram um jardim e uma horta na parte de trás de casa. O pai sempre trazia flores para a mãe, para deixar a casa mais alegre”, relembra o filho Anibal.
O costume de ter flores na mesa é uma tradição que sempre alegrou o ambiente e simboliza o carinho entre eles. Enquanto Simão trabalhava na agricultura, Christina cuidava da casa e ajudava na horta sempre que possível, demonstrando que a parceria e a dedicação são os alicerces de um relacionamento duradouro e feliz.
Ternura e tradição
A família celebrou com alegria as Bodas de Vinho em uma bela festa no Restaurante Tio Patinhas, reunindo cerca de 90 pessoas. “Chegar aos 70 anos de casados é motivo de grande felicidade para nós. Foi muito trabalho, mas valeu a pena. Missão cumprida”, comemorou o patriarca da família.
A tradição de reunir a família nos aniversários de casamento de Simão e Christina é sagrada. É quando filhos, netos e bisnetos se encontram para celebrar. A frase familiar, “agora o pai beija a mãe”, se tornou tão querida que foi até estampada em camisetas, e todos a repetem com carinho nas fotos das comemorações.
Com o tempo, essa frase foi adaptada: “Agora o vô beija a vó” e mais recentemente “agora o biso beija a bisa”. Para toda a família, a união do casal representa inúmeras virtudes essenciais para a construção de uma vida a dois. “Eles sempre foram um exemplo para nós, em tudo: religiosidade, honestidade e determinação. Tudo o que conquistaram foi com muito esforço e dignidade”, conta emocionado o filho Anibal.
Como o vinho que envelhece e se torna mais refinado com o tempo, o casamento de Simão e Christina é uma celebração da profundidade e da complexidade que o amor verdadeiro pode alcançar. Cada ano vivido juntos representa uma história compartilhada e o compromisso de enfrentar desafios e celebrar conquistas lado a lado.
Projeto “Boa Notícia”
Em meio a notícias muitas vezes desanimadoras, encontrar motivos para celebrar pode parecer uma tarefa difícil. O projeto “Boa Notícia”, lançamento do OCP, quer ajudar a mudar essa narrativa e espalhar um pouco de luz e esperança para as pessoas de Jaraguá do Sul e região, através de relatos e histórias da própria comunidade.
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