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Foi durante as férias de janeiro de 2014 que Helena Forster sentiu o corpo pedir socorro pela primeira vez. Parou no hospital com uma alergia severa, com uma erupção de sintomas. A crise aconteceu no período de descanso porque, como ela própria reconhece, não havia tempo para adoecer na rotina louca de trabalho que levava.
Atualmente, aos 31 anos, a jaraguaense atende em uma salinha nos fundos da casa, com som de uma fonte de água corrente e um canteiro de lavandas na porta de entrada. Um ambiente que simboliza uma trajetória de transformações.
Helena conta que na época vivia um momento profissional muito almejado. Era o sonho da menina de 14 anos que já dava aula em uma série de cursos, virar professora universitária. Mais tarde na carreira, sonhava em se tornar coordenadora de cursos.
Mas em reflexo à maratona de estudos e especializações que somava – formada em marketing, gestão de projetos e gestão estratégica de negócios -, aos 23 anos Helena conseguiu passar em um processo seletivo onde conquistou o posto projetado para o futuro. Era a coordenadora mais jovem do estado na instituição.
O cargo acabou a desafiando ainda mais a manter a perfeição do trabalho, especialmente por estar entre docentes com mais tempo de carreira.
“Eu sempre trabalhei muito, muito, muito e aí eu fiquei doente. Eu estudava demais, trabalhava demais, eu tinha uma vida, assim, louca desde os meus 14 anos”, comenta. “Mas todas as outras profissões que eu tive antes não me desgastaram tanto assim, não tinha uma responsabilidade tão grande”.
Helena começou na função coordenando dois cursos, mas chegou a ser responsável por 23 turmas, e uma equipe de quase 50 professores, tendo auxílio de uma assistente.
Uma carga grande. Necessidade de estar disponível a qualquer hora para resolver problemas. Trabalhos aos fins de semana que impossibilitaram viagens. Com dois anos na função, começou a sentir os efeitos.
SOS
A crise que levou Helena ao hospital a fez voltar o olhar para si mesma. Depois de uma investigação a respeito das alergias, descobriu intolerância à lactose e ao cobalto, corante usado em maquiagens.
“Eu, trabalhando na faculdade, precisava estar bem arrumada, mas não podia mais usar maquiagem. Bateu literalmente uma depressão porque eu não me reconhecia mais, me sentia feia porque desde muito nova sempre usava maquiagem e salto alto, e agora essa não era mais eu. Foi um baque bem forte, emocional”, relembra.
Além disso, precisou fazer uma mudança total na alimentação para retirar todos os derivados de leite. Mas no dia a dia, ainda precisava ir a coffee breaks e jantares onde muitas vezes não havia opção desses alimentos.
“Eu fui definhando, emagrecendo, emagrecendo, e eu estava cada vez pior. Eu estava com muito trabalho, me sentindo feia”.
Alguns meses depois, um check up completo de saúde levou a descobrir a doença celíaca – uma doença autoimune que causa uma reação imunológica severa no corpo diante de qualquer traço de glúten nos alimentos, cosméticos e no próprio ambiente quando há exposição. A partir de então, as restrições foram ainda maiores.
Ayurveda?
A primeira vez que Helena ouviu falar sobre a medicina indiana foi por uma amiga que a aconselhou a buscar um tratamento com um médico em Curitiba.
“Eu busquei o ayurveda sem nem saber o que era ao certo, sem nem ter muita base. Eu estava tão desesperada por algum tratamento que me ajudasse que quando me disseram que era natural eu senti que era o caminho”.
O tratamento trouxe uma proposta de desintoxicação do organismo com alimentos, especiarias e chás. Dali em diante, ela conta que começou a sentir melhora no corpo.
O resultado em apenas uma consulta foi tão motivador que fez Helena se interessar ainda mais pela ayurveda.
Como eu sou muito estudiosa, quando acontece uma coisa dessas a gente também quer estudar e ir atrás para entender como isso funciona”.
“A gente queria ter filhos e intolerância a lactose é hereditária, a doença celíaca é hereditária, eu pensei: se for para ter um filho, vou primeiro estudar, para cuidar um pouquinho em casa”.
Foi então que descobriu um curso de formação que iria acontecer em Santa Catarina um fim de semana por mês.
Mas a rotina na faculdade não permitia. Helena firmou os pés, organizou sua agenda e comunicou as datas que estaria fora durante todo curso e começou.
Nesse meio do caminho, foi tendo melhora nos problemas antigos, mas enquanto vasculhava sua saúde, ia descobrindo novos distúrbios. Teve diagnóstico de Tireoidite de Hashimoto e ovário policístico. “Doenças autoimunes geralmente vem acompanhadas, geram outras doenças”, comenta.
“Deu um baque gigantesco porque caiu a real: eu não vou mais ser mãe, porque eu estou cheia de problemas de saúde, meu corpo não vai mais se replicar. Para o ayurveda a gente só tem um filho quando a gente está saudável”.
Foi nesse momento que Helena começou a rever pela primeira vez sua carreira. Ela conta que sonhava em ser mãe desde pequena e tinha, inclusive, escolhido o nome do primeiro filho – o Henrique.
Apesar de estar promovendo tantas mudanças, era na rotina profissional que estava o maior desequilíbrio. O médico chegou a prescrever uma carta alertando a instituição sobre os prejuízos da carga de trabalho à saúde de Helena.
Entre uma crise e outra, ela conta que repentinamente recebeu férias. Tudo parecia muito estranho e percebeu que poderia ser um indício de sua demissão.
Passou um mês aproveitando muito ao lado do marido Marcelo. Não recebeu ligações, e-mails, nenhuma demanda. “Cheguei [das férias], e me deram a conta. E isso foi muito bom, me senti aliviada”.
- Mas o que é ayurveda?
É um sistema milenar indiano de prevenção e cura de doenças. Palavra em sânscrito, ayu significa vida e veda, conhecimento. O conhecimento da vida integra corpo, mente e espírito em busca do equilíbrio. O tratamento é personalizado, realizado de acordo com as características individuais de cada pessoa identificando os doshas que são comportamentos dos elementos (agua, terra, fogo,ar e espaço), no qual incluem ajustes no estilo de vida, ajustes na alimentação e uso de preparados do Ayurveda aplicados externamente com técnicas específicas. As terapias ayurvédicas também são famosas por promoverem a beleza, além de um profundo relaxamento e bem-estar.
Resultados
Passadas algumas semanas, Helena descobriu que estava grávida. Os tratamentos com ayurveda para o problema de ovário e tireóide autoimune haviam trazido uma resposta que nada na medicina tradicional poderia oferecer.
Henrique estava a caminho e a mamãe estava vivendo uma nova rotina, que a possibilitava estar bem para todo o processo de gestação.
Nesse mesmo passo, a ayurveda foi florescendo em sua vida. Parentes que viam a nítida melhora física queriam saber mais. “Tem alguma coisa para tratar isso? Tem alguma coisa para tratar aquilo?”, questionavam.Helena passou a atender em casa – e logo começaram a aparecer amigos e vizinhos dos parentes, conforme as terapias apresentavam resultados.
Com o aumento na demanda, se juntou ao consultório da prima para receber as pessoas. Depois, passou a atuar junto a Inspire, hoje Gomus.
Uma casa ayurveda
O caminho de autoconhecimento e cura dos problemas de saúde levou Helena a virar uma terapeuta ayurveda, hoje também com especialização em fitoterapia. Mas esse nunca foi o objetivo principal, aconteceu naturalmente.
A motivação de equilibrar a saúde e formar a família foi cumprida. Hoje, com o Henrique, 4 anos, e o bebê Otto, de 1 ano, Helena e Marcelo vivem a ayurveda dentro de casa, inspirando saúde.
Helena também é professora do Instituto Ayurveda Brasil, que forma terapeutas nas principais capitais do país, com previsão de turmasem Jaraguá do Sul.
Segundo Helena, o conhecimento ayurvedico, apesar de ser originado na Índia traz um olhar para trabalhar com alimentos e plantas daqui, brasileiros, que trazem os benefícios almejados.
Olhando a fundo, ela comenta que fica visível porque a ayurveda é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como a mãe de todas as medicinas: é um conhecimento que serviu de fonte.
“Todas as medicinas são baseadas na medicina ayurveda. A Alemanha por exemplo que tem uma das medicinas mais avançadas e respeitadas do mundo, é o pais que mais atua com ayurveda depois da Índia, sediando inclusive o segundo maior congresso de ayurveda do mundo”.
Cuidados com alimentação, rotinas, tratamentos naturais com preparos ayurvédicos, massagens, são muitas abordagens trazidas por essa ciência milenar – mas tudo é levado de uma forma simples, prática e fácil para realmente conversar com as pessoas.
“A ayurveda é algo que é nosso, do nosso íntimo, é universal”.
Sobre o artigo que você leu
“Larguei tudo para…” é uma série que conta as histórias de pessoas que tomaram a iniciativa de deixar um caminho seguro para perseguir um sonho. Aqui vamos compartilhar muita inspiração, experiências, perspectivas interessantes e disrupção. Conhece alguém com uma história legal?
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