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Se no século passado a passagem do trem era um acontecimento que mexia profundamente com a rotina de Jaraguá do Sul, nos últimos 30 anos a relação direta da população com esse meio de transporte perdeu aquele brilho.
As discussões para tirar os trilhos da área central se arrastam desde 2000 – enquanto isso, o vai e vem de trens segue bloqueando o trânsito e soando a alarmante buzina, levando e trazendo itens que muitos devem ficar imaginando ao olhar para os vagões de ferro passando.
Apenas no ano passado, um volume de 1,7 milhão de toneladas em cargas passou pelos trilhos de Jaraguá do Sul segundo a Rumo Logística, concessionária da linha férrea. O transporte é utilizado especialmente para agricultura: os produtos carregados com maior frequência são adubo, milho e soja.
O trecho de 212 quilômetros que o trem percorre atualmente vai do porto de São Francisco do Sul até Mafra. A cidade é um importante ponto de cruzamento, ligando essa linha férrea com o Tronco Principal Sul – ferrovia que vai da Estação Pinhalzinho, na divisa dos estados de São Paulo e Paraná, até a Estação General Luz da Linha Porto Alegre-Uruguaiana, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Atualmente o transporte sobre trilhos está distante da população por não ter mais o caráter de abastecer as cidades, propriamente, mas por mover grandes cargas para exportação. Segundo a Rumo Logística, o transporte sobre trilhos tem importância por ligar os principais centros produtores aos portos.
“A Rumo cobre 80% das regiões exportadoras do País, ligando os principais centros produtores aos portos e vem prestando uma significativa contribuição para uma participação cada vez mais expressiva do Brasil no trade global de grãos, que hoje gira em torno de 40%”, destaca a empresa em nota.
Um aspecto que de fato impacta a vida da população é a redução de tráfego nas rodovias. Na cidade, a parada para o trem passar muitas vezes piora as coisas, mas no plano geral, para o mesmo volume transportado em 100 vagões, por exemplo, seriam necessários 357 caminhões bitrem.
Crescimento ao redor dos trilhos
Como seria Jaraguá do Sul sem a chegada do trem em 1907? Difícil prever, mas é imaginar que a cidade talvez tivesse um outro centro. Foi o movimento gerado pelas idas e vindas da locomotiva que deu um novo ritmo para a Colônia Jaraguá – que antes recebia uns poucos visitantes pela estrada de terra e uns aventureiros pelo rio.
A ferrovia tornou-se uma contribuição decisiva no desenvolvimento da Colônia Jaraguá, é o que afirma a responsável pelo Arquivo Histórico Municipal Eugênio Victor Schmöckel, Silvia Kitta. Isso porque facilitou os deslocamentos das pessoas para as grandes cidades, além do transporte da produção agrícola, industrial e da madeira da região.
O trem de passageiros possibilitava a viagem entre Jaraguá do Sul e os grandes centros, como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.
“E, como muitos vinham a Jaraguá, de passagem para outros municípios da região, pernoitavam no município, nos diversos hotéis que floresceram neste período, entre eles: Hotel Central, Brasil, Wensersky, Becker. Na cidade, nos áureos tempos da ferrovia, era ali o centro das atenções, dos debates, das notícias, dos encontros e desencontros”, narra Silvia.
Esse movimento foi ainda mais intenso entre 1944 e o início de 1991, quando a “Litorina” fazia o percurso diariamente, em diversos horários, entre Corupá e São Francisco do Sul.
Trilhos longe da cidade
Como trem foi responsável direto pelo crescimento urbano, logicamente estabelecimentos comerciais nasceram e se desenvolveram ao redor dos trilhos, concentrando até hoje as ruas de maior movimentação.
Se na época a chegada no trem significava movimento de clientes, produtos vindos dos grandes centros, notícias vindas por cartas, atualmente ele está apenas de passagem e significa uma parada nessas ruas principais – por mais que seja por breves minutos, em horários de pico as filas se tornam inevitáveis.
Faz 20 anos que se fala efetivamente de fazer um contorno ferroviário, um projeto para levar os trilhos para longe das estradas. A primeira movimentação foi em 2000 pela Prefeitura de Jaraguá do Sul, com um novo estudo em anos seguintes – mas nada saiu do papel.
Recentemente, a coordenação ferroviária do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) teria apresentado um estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental para implantação de uma variante de contorno ferroviário entre Guaramirim e Jaraguá do Sul, num total de 34 quilômetros, paralelos ao novo traçado da BR-280.
Mas não existe nenhuma perspectiva para o projeto sair do papel.
O trem atualmente
- A linha férrea que passa por Jaraguá do Sul liga São Francisco do Sul, no litoral catarinense, a Porto União, na divisa com o Uruguai. São 453 quilômetros.
- Mas o trecho atualmente em operação vai de São Francisco do Sul até Mafra, com 212 quilômetros.
- Entre São Francisco e Mafra, são 12 estações – duas delas estão em Jaraguá do Sul: uma no Centro Histórico e outra em Nereu Ramos.
Cerca de 80 colaboradores diretos e indiretos trabalham nesse trecho, que movimenta em torno de quatro trens por dia.
No ano passado, aproximadamente 1.522 trens percorreram essa região.
O volume total movimentado em 2019 foi de 1,7 milhão de toneladas.
Os principais produtos transportados foram adubo, milho e soja.
O transporte de passageiros foi retomado nos últimos anos com caráter turístico pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária.
O trem antigamente
- Em 1889 é fundada a Cia. Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, que em 1901 obtém a concessão para construção do ramal São Francisco do Sul.
Em 1905 iniciam os trabalhos e o material para a construção chega através do porto de São Francisco.
- A chegada do trem no Distrito de Jaraguá pela primeira vez aconteceu no dia 23 de junho de 1907. A locomotiva “Lauro Müller” chegou até a pequena estação telegráfica, local de embarque do pessoal da ferrovia.
Em julho de 1909 foi finalizada a estação de Jaraguá. Também estavam construídas as estações de São Francisco, Joinville e Hansa, como era chamada Corupá.
Em 1914 era explorado o tráfego normal de cargas e passageiros – haviam vagões para pessoas, para animais, outros para mercadorias e correios.
- Em 17 de setembro de 1917 foi entregue a obra completa de Porto União a São Francisco do Sul.
O trem de passageiros possibilitava a viagem entre Jaraguá e os grandes centros, como Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro.
A partir de fevereiro de 1944 até o início de 1991, a “Litorina” fazia o percurso diariamente, em diversos horários, entre Corupá e São Francisco do Sul.
Sobre o artigo que você leu
“Antigamente em Jaraguá do Sul” é uma série que investiga, resgata e preserva a memória de histórias, rotinas, pessoas e fatos que moldaram a identidade de nossa cidade. Tem alguma curiosidade ou dica que queira compartilhar com a gente?
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