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Falar da história do rio Itapocu é voltar no tempo e entender a história da nossa região de uma forma muito mais profunda.
É voltar muito no tempo. Mais precisamente para pré-história, há cerca de 5 mil anos, quando o homem do sambaqui vivia à margem do rio e próximo do mar.
Conforme o pesquisador Fabio Krawulski Nunes, produtor do documentário “Redescobrindo o Itapocu” existem pelo menos 3 sambaquis localizados em Barra Velha próximo ao Itapocu, onde foram encontrados ferramentas de pedras e até uma ossada. Na sub bacia do rio existem ainda vestígios de sambaquis costeiros que também foram catalogados no município de Araquari.
“Todos estes sambaquis acima citados eu conheci pessoalmente os locais e as filmagens se encontram no meu documentário. No caso das datações (idade aproximada), podem chegar entre 2 mil até a 5 mil anos antes do presente (quanto mais distante do mar mais antigo é o sambaqui costeiro”, comenta.
Não sabe o que é um sambaqui? Então a gente resume. São enormes montanhas erguidas em baías, praias ou na foz de grandes rios por povos usando especialmente conchas de moluscos. São resquícios dos homens pré-históricos que habitavam o litoral do Brasil.
Com o tempo, essas comunidades desapareceram – possivelmente se misturando à cultura de outros povos.
Os indígenas viviam pela região muito antes de qualquer europeu chegar por aqui. Essas terras eram habitadas pela etnia Guarani e Xokleng.
Tanto é que o nome de praticamente tudo na região tem origem da língua tupi-guarani, a começar pelo próprio Itapocu – vai vamos por Jaraguá, Guaramirim, Massaranduba e segue o barco.
Os primeiros registros na história oficial
Como os povos originais do Brasil não mantêm a tradição da escrita, passando os fatos, acontecimentos e sabedoria especialmente através da oralidade, os mapas cartográficos europeus são considerados os primeiros registros históricos do rio Itapocu.
No documentário de Fabio Krawulski Nunes é mostrado o primeiro deles, no mapa Atlas Miller, de 1519, confeccionado por cartógrafos da coroa portuguesa.
Mas nesse registro e nos anos seguintes, o rio ainda é registrado com nomes diferentes até aparecer com destaque em mapas a partir do século 18 em que o nome indígena passa a ser usado.
Os relatos pesquisados por Nunes vão mais a fundo, trazendo os registros das primeiras expedições dos colonizadores pelo rio.
A primeira teria sido de Aleixo Garcia, que após um naufrágio próximo a Florianópolis, passou a viver na região e soube pelo povo indígena da existência de um caminho para chegar a uma terra de riquezas – ao que tudo indica parte do império Inca.
O grupo teria seguido pelo rio em 1524, tomando o emblemático Caminho do Peabiru, que era utilizado pelos povos originais.
Mas a expedição mais expressiva pelo rio Itapocu e mais documentada foi liderada por Álvar Núñez, conhecido como Cabeça de Vaca, em 1541.
Segundo o documentário, o espanhol saiu de Florianópolis com 250 homens, 2 padres franciscanos, índios e escravos, com o objetivo de chegar ao Paraguai.
A viagem teria começado em 2 de novembro daquele ano. Enquanto um matero abria caminho com os cavalos pela lateral do rio, Cabeça de Vaca seguia de canoa.
Essa comitiva passou pelas cidades da região, havendo até um desenho onde ao fundo é possível ver o Pico Jaraguá e todo Morro da Boa Vista.
Os documentos históricos apontam que o grupo seguiu 10 dias caminhando e pelo rio até chegar a um porto em Corupá, onde descansaram por 3 dias. Depois, foram pelo menos mais 4 dias para vencer a Serra do Mar e chegar a São Bento do Sul e Rio Negrinho.
Após passar pela região, o grupo seguiu essa jornada até o Paraguai.
Outra expedição que passou pelo rio Itapocu foi da espanhola Mencía Calderón de Sanabria, que levava um grupo de mulheres para formação de comunidade no Paraguai. Foi em 1555;
Parte da expedição teria seguido o caminho trilhado anos antes por Cabeça de Vaca após uma série de dificuldades encontradas. Entraram da costa brasileira pelo rio, passaram por Corupá e relataram dificuldades de vencer a serra do mar.
Do século XVII ao século XVIII teriam passados jesuítas e bandeirantes pelo rio, em tentativas fracassadas de se descobrir jazidas de ouro em alguns pontos do rio.
- Origem do nome
Segundo o pesquisador Fábio Nunes, o nome Itapocu, traduzido do tupi-guarani, significa: Pedra Alta ou Pedra Comprida e foi descrito na carta do espanhol Juan Sanchéz de Viscaya em 1554 – em alusão ao acidente geográfico Morro das Antenas e Pico do Jaraguá que é avistado defronte a foz do próprio rio com o mar.
Desembarque do fundador de Jaraguá
Foi pelo rio que chegou o fundador de Jaraguá do Sul. Era 1876 quando Emílio Carlos Jourdan desembarcou à margem direta do rio Itapocu com a tarefa de demarcar uma área de 12 hectares. A autorização para trabalhar nas terras vinha diretamente da filha de Dom Pedro II, a Princesa Isabel.
Poucos anos antes, exploradores passaram para demarcar a área, mas Jourdan acabou sendo o primeiro a oficializar a colônia três anos depois.
De origem belga, Jourdan era engenheiro e coronel do Exército Brasileira e havia conseguido a concessão para lotear a área e, consequentemente, atrair novos moradores.
Passa a colonizar os lotes e com auxílio de 60 trabalhadores que cultivam a cana-de-açúcar, constituindo-se ali um engenho de cana, serraria, olaria, engenho de fubá e mandioca. O Estabelecimento Jaraguá, em tupi-guarani Senhor do Vale, ficava entre os rios Itapocu e Jaraguá e a região pertencia ao município de Paraty.
Os tempos da colônia
Assim como Jourdan, muitas pessoas chegaram a Jaraguá do Sul naquela época pelo rio. Não tinha estrada, não tinha trem. Seguir o fluxo de água era a forma de chegar a esse destino que vinha sendo explorado tendo o Itapocu como referência.
E quem aqui estava também ia se estabelecendo pelas margens, assim era possível ter acesso a água, inclusive montando os engenheiros movidos com rodas.
Por volta de 1900, a população da Colônia Jaraguá dispunha de apenas uma opção para fazer a travessia do rio Itapocu: pela balsa.
Para transportar a sua produção, o colono era obrigado a ir até o “trapiche” ao lado do comércio de Jorge Czerniewicz, próximo de onde hoje fica a Scar. Com o intenso movimento, o local foi batizado como porto Czerniewcz.
O rio seguiu como meio de transporte até a construção da primeira ponte, bem nesse local. A primeira estrutura sobre o rio Itapocu foi construída em 1909.
A modesta ponte foi feita em madeira e era muito baixa, apenas um metro acima do leito normal do rio. Mas a melhoria não durou muito: a ponte foi destruída por uma grande enchente em 1911.
Os moradores voltaram a ter no rio o meio de transporte principal, mas após muita articulação, em março de 1913, a cidade recebeu uma ponte metálica sustentada por um pilar de pedra que até hoje pode ser visto no Itapocu.
Sobre o artigo que você leu
“Antigamente em Jaraguá do Sul” é uma série que investiga, resgata e preserva a memória de histórias, rotinas, pessoas e fatos que moldaram a identidade de nossa cidade. Tem alguma curiosidade ou dica que queira compartilhar com a gente?
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