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Do alto da palmeira, os pequenos frutos redondos que se penduram no cacho são colhidos. As mãos ficam roxas, coloridas pelo pigmento que facilmente sai da casca.
Para muita gente pode parecer que seja apenas comida de passarinho, mas nas mãos dos engenheiros agrônomos Arthur Miranda, 33 anos, e Luiz Fernando Zin Battisti, 32 anos, as frutinhas viram o saboroso açaí-juçara.
Para muita gente da roça, não é novidade esse preparo de açaí utilizando os frutos da palmeira juçara, mais conhecida pelo seu palmito. Mas na cidade, as pessoas imaginam que esse alimento tem como fonte única as palmeiras nordestinas.
Arthur e Luiz tiveram contato com esse feitio durante a faculdade, em programas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). O Arthur chegou a fazer o trabalho de conclusão de curso sobre o potencial da polpa do açaí-juçara para geração de renda extra na agricultura familiar.
“Aprendi a colher e despolpar na faculdade o professor Rick Müller e com amigos veteranos que já haviam colhido algumas vezes, como sou escalador me dei bem com a escalada da palmeira para coletar as cachos, e como tinha comprado uma despolpadora de frutos de Açaí do Pará eu podia colher e fazer o meu próprio açaí em casa, isso me deixava muito satisfeito e como todos sempre queriam, comecei a vender para amigos”, conta Arthur.
Da demanda, veio a ideia de empreender na área. Em 2017, ele convidou o Luís, que era colega da faculdade, para iniciar o negócio que se tornou a marca Açaí-Juçara da Montanha.
Sustentabilidade e preservação ambiental
Mostrando o potencial que existe no quintal e nas matas da área rural, o projeto busca destacar a preservação ambiental.
“Acreditamos que a conservação através do uso é uma boa estratégia para proteger as espécies nativas da extinção. Quando as pessoas conhecem e experimentam o açaí-juçara, e descobrem que a espécie está em risco de extinção, se sensibilizam para protegê-la de alguma forma. E a palmeira juçara foi dizimada nos últimos séculos, para extração do seu delicioso palmito, processo que levou à espécie à lista de espécies ameaçadas de extinção”, comenta Luiz.
Atualmente, a população das palmeira juçaras foi recomposta justamente por ações de conscientização de quem utiliza elas, como no caso de quem retira polpa.
Arthur explica que depois de ser retirada a polpa que envolve a semente, elas são lavadas, colocadas para germinação e semeadas na Mata Atlântica. Segundo ele, esse fruto é um dos mais consumidos pelos animais nativos.
“Vale ressaltar que uma observação da prática de coleta é sempre deixar 30% dos cachos na palmeira para alimentar a fauna e dispersar a semente naturalmente”, ressalta.
Outro aspecto interessante citado por Luís é que a produção do açaí-juçara é essencial para abastecer o mercado local e reduzir a dependência do açaí amazônico. O fruto chega a cruzar 3.500 quilômetros para chegar em Santa Catarina – gerando impacto ambiental com a poluição por combustíveis fósseis.
“Se temos açaí aqui em SC, para que trazer da Amazônia? Além disso, hoje, a população mais carente da Amazônia não está tendo mais acesso ao consumo do seu açaí diário, pois o preço para eles vem aumentando cada vez mais, devido ao aumento da demanda mundial”, revela, ponderando que o consumo mais local poderia restaurar esse equilíbrio.
A produção
Na produção do sorbet de açaí, além de aproveitar esse potencial das palmeiras, Arthur e Luiz recorreram a outra riqueza local: a banana. O produto utiliza esses dois ingredientes e espessantes naturais como a biomassa da banana verde. Também é embalado em recipientes de papel para evitar a geração de resíduos
A mini agroindústria fica em meio à Mata Atlântica e os sócios são responsáveis por todo o processo.
“É um alimento super nutritivo e saudável que garante pra população que quer se alimentar de um “sorvete” delicioso que apresenta muitos nutrientes como ferro, zinco, fibras e gorduras boas será melhor do que procurar esses nutrientes em suplementos alimentares”, pontua Arthur.
Eles fazem algumas coletas e também conta com parceiros em Corupá, JAraguá do Sul, Biguaçu, Nova Trento e Florianópolis que comercializam o fruto – assim conseguem manter uma logística de coleta aproveitando as épocas de maturação do fruto em cada região.
Arthur ressalta que pessoas que tenham cachos com os frutos totalmente maduros em casa, podem procurar eles para a comercialização.
“Temos parceiros que fazem a coleta para nós e compramos os frutos deles, assim também ajudando a população a gerar uma renda extra no ano. Essa ideia é nossa meta, ter uma ‘cooperativa’ em que agricultores colhem os frutos e vendem para nós”, comenta Arthur.
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