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Os membros da comunidade luterana realizaram diversas contribuições para o desenvolvimento de Jaraguá do Sul. Na saúde, eles foram protagonistas na administração do Hospital Jaraguá – um das duas unidades de saúde de referência na cidade; e na educação, a construção e manutenção do Colégio Evangélico Jaraguá é um dos marcos históricos.
Neste artigo da série “Antigamente em Jaraguá”, o Por Acaso busca a história de outra grande obra dos luteranos no município: a Paróquia Apóstolo Pedro, no Centro.
Os primeiros luteranos chegaram no Norte de Santa Catarina em 1886. Vindos da Boêmia (atual República Tcheca), eles se estabeleceram no Oeste de Joinville, na comunidade de Brüdertal, no limite com as cidades de Guaramirim e Schroeder.
Avançando no tempo, um acontecimento marca o início da história da igreja. A fundação da Comunidade Evangélica Luterana de Jaraguá do Sul, em 1º de abril de 1907, é o ponto de partida para as principais ações dos luteranos na cidade.
Naquela época, a comunidade havia recebido um terreno doado por Domingos da Nova.
Construção árdua
O grande lote disponibilizado por Nova fica entre as ruas Epitácio Pessoa e Getúlio Vargas, em uma faixa que compreende toda a extensão da rua Esthéria Lenzi Friedrich.
A escola e a casa paroquial foram as duas primeiras estruturas construídas no terreno, mas essa não foi uma tarefa fácil para os luteranos.
“Difícil foi conseguir os meios para construir uma escola e uma casa para o pastor, pois todos os membros da comunidade estavam num começo de vida, procurando arrancar da terra o necessário para a sua subsistência”, conta o livro “75 Anos – Comunidade Evangélica Luterana de Jaraguá do Sul”.
Com um grande esforço coletivo, a então Escola Jaraguá ficou pronta em 28 de julho de 1907. A construção em estilo enxaimel também recebeu os primeiros cultos religiosos nos domingos e feriados. No início da década de 20, visto o aumento no número de jovens luteranos, foi construída uma segunda escola.
O local tinha duas salas com paredes internas removíveis. Quando as paredes eram removidas, uma ampla sala servia para a realização das celebrações. A relação próxima entre a escola e a igreja era selada pelo fato de o mentor educacional ser o pastor.
A construção de uma sede para a igreja era uma ideia que permeava a mente de todos os luteranos. Mas as dificuldades financeiras e a necessidade de construções prioritárias fizeram com que os planos fossem adiados.
A escola precisou ser ampliada em 1924. Com o crescente aumento no número de jovens membros da comunidade luterana, o prédio ganhou mais uma sala.
Uma nova casa paroquial também foi construída na época. Com a superação dessas necessidades e a comunidade livre de dívidas, a construção da igreja começou a ser discutida em 1929.
Polêmica na construção da igreja
A construção da igreja causou uma grande polêmica na comunidade luterana. Parte dos fiéis achava que a construção deveria ser grande, bonita e imponente. Outra parcela dos luteranos desejava que a igreja fosse modesta, ou seja, um templo pequeno e humilde, que se aproximasse do perfil da comunidade na época.
“Em assembleia dramática no dia 29 de outubro de 1929, houve debates acalourados entre os membros da comunidade”, comenta o livro que comemora 75 anos de história dos luteranos em Jaraguá do Sul.
O impasse foi decidido após a intervenção do pastor Ferdinand Schlünzen, líder dos luteranos de Jaraguá do Sul por muitos anos, que censurou a discussão.
Na ocasião, Schülzen expressou o sentimento de dor por não conseguir que a igreja fosse construída durante o seu trabalho na comunidade. Por fim, o pastor resolveu o impasse e convenceu a todos com um simples argumento. “Eu não construo pra mim, e sim para vocês e seus descendentes”, disse.
Enfim os detalhes da construção da igreja foram decididos no dia 27 de novembro de 1929. Ao todo, foram doados 8 mil contos de réis em dinheiro para a construção do prédio. A pedra fundamental foi lançada em 8 de dezembro daquele ano.
Após seis meses, a fundação da igreja estava pronta, mas uma dívida de 4 mil contos de réis deixada pela obra preocupou alguns membros da comunidade.
Por fim, pago o valor, os luteranos voltaram a se reunir em novembro para decidir sobre o futuro da obra – o encontro serviu para decidir sobre sua continuação ou não.
“Novamente apareceram votos a favor e contra ‘os enormes débitos que a comunidade tinha que assumir ao longo dos anos'”. Para baratear o custo da obra, o pastor Schlünzen chegou a sugerir que a enorme torre de 35 metros de altura não fosse construída.
No fim, os luteranos decidiram que a obra continuaria com os meios disponíveis, mas desta vez em etapas.
Empréstimos e doações
Apesar do grande esforço dos luteranos para angariar recursos, o dinheiro não era suficiente para dar andamento para a obra. Como em qualquer associação, os luteranos pertenciam a camadas sociais diferentes, mas todos faziam contribuições. Afinal, era imprescindível que todos os membros da comunidade participassem e todo donativo era bem vindo.
“Muitas vezes faltava o dinheiro para continuar, mas sempre apareceram subsídios e a obra continuava paulatinamente”.
Após quatro anos, a obra avançava e os andaimes ficavam cada vez maiores. Com a falta de recursos para a finalização das obras da igreja, alguns luteranos foram para o exterior. Eles buscavam doações, dinheiro emprestado com amigos e parentes para custear a construção da igreja.
“(…) Alguns abnegados entusiastas resolveram procurar doações com conhecidos, parentes e amigos. Tomaram dinheiro emprestado em seu próprio nome, não obstante as vozes que diziam que nunca mais veriam o dinheiro voltar. Mas eles venceram”.
Em fevereiro de 1935, a Oase (Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas) teve papel crucial na obtenção de recursos para a construção da igreja. Quatro anos após a sua criação, a entidade emprestou mil contos de réis para a comunidade.
O dinheiro foi empregado nas obras finais do prédio. Segundo o livro “Presença e Atuação da Igreja Evangélica Luterana em Jaraguá do Sul”, o valor foi emprestado com juros de 7% ao ano.
A igreja ficou finalmente pronta em maio de 1935. ”No radioso Domingo Jubilate do ano de 1935, a comunidade pode admirar, sob jubilo, a igreja concluída e na celebração agradecer. Lembrar aqueles que se tinham empenhado com sacrifício para a sua conclusão”, descreve o livro que comemora 75 anos da comunidade luterana.
Na assembleia geral realizada em 4 de agosto de 1935, após ganhar o título de praeses (o mesmo que bispo) do Sinodo Evangélico Luterano no Brasil, o pastor Ferdinand Schlünzen anunciou que deixaria o comando do grupo para voltar à Alemanha. Schlünzen havia completado 33 anos no cargo e considerou a finalização da igreja a coroação do seu trabalho no Brasil.
- Curiosidades
- Os primeiros luteranos a vir para a região Norte de Santa Catarina desembarcaram no Porto de São Francisco do Sul;
- O grupo era formado por aproximadamente 140 pessoas;
- Os luteranos jaraguaeneses se concentraram inicialmente na região que hoje compreende o bairro Ilha da Figueira;
- O sino e o relógio foram inaugurados em 26 de setembro de 1946, ou seja, 11 anos após a construção da igreja;
- Os sinos foram trazidos de Curitiba e o relógio importado da Alemanha;
- – Os sinos foram pagos com doações da Oase;
- O famoso órgão que faz parte da igreja foi inaugurado em 10 de agosto de 1958;
- Há atualmente 40 comunidades luteranas em Jaraguá do Sul;
- Cerca de 30 mil pessoas frequentam essas comunidades.
Sobre o artigo que você leu
“Antigamente em Jaraguá do Sul” é uma série que investiga, resgata e preserva a memória de histórias, rotinas, pessoas e fatos que moldaram a identidade de nossa cidade. Tem alguma curiosidade ou dica que queira compartilhar com a gente?
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