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A cada passo, barulho dos carros, conversas e outros ruídos da cidade vão diminuindo. Ao fundo, o som dos pássaros e das folhas batem com o vento.
A sombra começa a dominar a rua e até o clima torna-se mais fresco. Na beira da rua, numa segunda-feira qualquer, um carro estacionado abriga um homem que cochila no intervalo do almoço.
O Morro do Carvão, localizado em pleno centro de Jaraguá do Sul, virou refúgio para quem busca sombra e silêncio para descansar entre um turno e outro, e fica lotado por motoristas que fogem do estacionamento rotativo ou que cortam caminho para buscar e levar os filhos no São Luís.
Mas é na calma e tranquilidade que esse bosque urbano revela belezas singelas.
Bastam 120 metros de caminhada, passando o portão dos fundos da Igreja Matriz São Sebastião, para sentir na pele a mudança. Mata densa de um lado e panorâmicas da cidade do outro.
Os passarinhos começam a tomar conta da trilha sonora do passeio. O ruído do trânsito some. Até mesmo os fios de iluminação se misturam com as plantas e as lajotas do calçamento ficam praticamente verdes com a umidade.
Morando desde 2015 no Centro de Formação Pré-Postulado Marista, que fica no topo do morro, o irmão Darlan afirma que a diferença de temperatura no local é nítida: costuma registrar três graus a menos em comparação com a área central.
A rotina de quem vive no topo do Morro do Carvão tem saíras sete cores, rolinhas, aracuãs, jacus e cotias diariamente no quintal.
Muito disso se deve também ao fato de a área ter sido preservada com a instalação do então Juvenato, em 1979.
“Na época, essa mata não existia. Uma parte sim, outra não. Se optou por deixar crescer. Os órgãos municipais acertaram muito em preservar um local no centro da cidade”, comenta o irmão Darlan.
Uma área de proteção ambiental urbana
De acordo com o Plano Diretor de Jaraguá do Sul, o Morro do Carvão é classificado como uma ZEIA – Zona Especial de Interesse Ambiental.
E é a única área do tipo no município que possui regulamentação específica, assinada em 2010.
A gerente de licenciamento de recursos naturais da Fujama (Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente), Fernanda Miranda da Silva, explica que o morro é uma Área de Preservação Permanente (APP), o que proíbe a retirada de vegetação ou construção no local.
A área de borda – uma faixa de 50 metros de largura – foi classificada em quatro trechos, explica Fernanda, e cada um possui regramento específico para utilização e construção, de acordo com a lei municipal.
A gerente destaca que estudos da Fujama, realizados em 2016, apontaram a importância do Morro do Carvão para a cidade.
“Algumas áreas urbanas, inclusive a ZEIA do Morro do Carvão, foram indicadas como prioritárias para minimização do efeito das ilhas de calor, bem como melhoria da qualidade do ar e aspecto paisagístico, sendo benéfico para a população a existência de áreas centrais com vegetação arbórea”, destaca.
- O que são ilhas de calor?
É um nome dado a um fenômeno climático que ocorre principalmente nas cidades com elevado grau de urbanização. Devido a grande concentração de asfalto (ruas, avenidas) e concreto (prédios, casas e outras construções), a cidade concentra mais calor, fazendo com que a temperatura fique acima da média dos municípios da região. Numa metrópole, como São Paulo, a absorção de calor chega a significativos 98% enquanto em campos verdes fica em 75%.
Uma trilha aberta ao público
O Morro do Carvão tem quase 190 mil metros quadrados – o que equivale a 21 campos de futebol como o do Maracanã.
De cima, é possível ver a vastidão da floresta. Mas o único ponto com acesso à mata que pode ser indicado fica dentro do Centro de Formação Marista, que está aberto para receber pessoas em busca de tranquilidade.
O irmão Darlan mostra a pequena trilha nos fundos da propriedade, com cerca de 80 metros. O espaço é para contemplação da natureza e conta com um clareira central, rodeada por bancos.
Pequena trilha dentro do Centro de Formação Marista pode ser conferida pela população. Um bom lugar para dar uma desconectada, ler um livro e entrar em contato com a mata
Além desse espaço, o religioso destaca que a própria estrutura do Centro de Formação está aberta para receber a comunidade durante o dia, basta se anunciar na recepção ou agendar pelo telefone 3275-0328.
“No início da construção, o pessoal vinha da cidade de manhã e final da tarde para ver o nascer e pôr do sol, não tinha a mata e se conseguia ver bem”, comenta.
Imagens do centro de Jaraguá do Sul comprovam a história. O morro aparece com áreas de pasto, bastante descampado. Os maristas, desde o início, optaram por deixar a mata se regenerar. Algo que se alinha com a espiritualidade.
“Nossa relação com a natureza é muito próxima. Nós somos parte da natureza. E entrar em contato com a terra ajuda a descarregar algumas energias, muitas tensões e estresse. Para nós é muito bom”, diz Darlan.
Por que se chama Morro do Carvão?
Muitos nem sabem que a área tem nome próprio, mas desde a época da fundação, o local começou a ser chamado de Morro do Carvão. Como bem define o historiador Ademir Pfiffer, a história faz parte do imaginário coletivo de Jaraguá do Sul.
O “carvão” vem dos vestígios encontrados no local pelos colonizadores. A área era muito utilizada por índios xokleng em temporadas de caça e coleta de frutas, tendo em vista que eram povos nômades.
“Era uma rotina anual [dos indígenas], à medida que o tempo foi passando, foi criando uma cobertura sobre esse carvão e há uma clara evidência que esses vestígios encontrados e preservados no solo eram fogueiras erguidas pelos botocudos [termo genérico dado à etnia pelos colonizadores]”, conta.
Essas memórias da época foram preservadas pelo professor e historiador Emílio da Silva, que dá nome ao museu municipal.
Donos do morro: de uma ótima babá a terras da igreja
As referências históricas são pouco claras sobre a ocupação do Morro do Carvão. Em 1917 estava erguida no local a primeira matriz da cidade, na época chamada Santa Emília, com a então Escola Paroquial São Luiz (isso, com z naquela década). O terreno já pertencia então à Mitra Diocesana.
No entanto, há referências de que Emílio Carlos Jourdan, fundador da cidade, havia doado a área a Maria Umbelina da Silva pelos bons serviços prestados como babá de seus filhos por volta da década de 1980.
O relato foi feito pelo historiador Emílio da Silva, filho de Maria Umbelina, no livro “Jaraguá do Sul: a povoação do Vale do Itapocu”.
Atualmente, além de abrigar a Igreja Matriz São Sebastião, Colégio e Centro maristas, o Morro do Carvão tem na geografia a emblemática Casa Kolbach e outras residências. Mas grande parte do território se trata de área de preservação.
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