Compartilhe este conteúdo agora:
Fora do centro, área bem conhecida pelos urbanos, Jaraguá do Sul esconde cenários deslumbrantes. São caminhos além das rotas comuns, massivamente percorridas, dos locais conhecidos de cor. Mas também não são lugares nunca explorados pelo homem.
São apenas limites, pontos extremos que dividem Jaraguá do Sul de outras dez cidades. Um traçado que dá representação visual para o município, com linhas e curvas invisíveis ao olho.
Uma barreira inexistente, estabelecida por coordenadas geográficas. Muitas vezes é um rio que marca o fim da extensão territorial, mas não é só este o caso: um simples passo pode significar a mudança de município.
Jaraguá do Sul tem 173,45 quilômetros de perímetro. Ao Norte, os limites com Campo Alegre se dividem também com São Bento do Sul de um lado, e Joinville, do outro.
Em certo ponto, percorrendo alguns poucos quilômetros é possível atravessar os três municípios.
Na outra ponta, na parte inferior do mapa, se encaixa Blumenau, Pomerode e Rio dos Cedros. Junto à marginal, ao leste está Corupá. Todos esses municípios se encontram com a área rural de Jaraguá.
A mescla urbana acontece apenas com Schroeder e Guaramirim, onde o Rio Itapocu é o principal responsável pela separação.
Vizinhos em cidades diferentes
Quando a aposentada Elcide Zabel Rech, decidiu se mudar de Blumenau para Jaraguá do Sul sabia que precisava encontrar um terreno para construir uma casa e finalmente se livrar do aluguel.
Acabou encontrando espaço em uma rua residencial, ao lado de um ribeirão. Lugar tranquilo, boa convivência com os vizinhos. Demorou algum tempo para ela descobrir as curiosidades do local.
As primeiras seis casas da rua Alvina Gorges Xavier, no bairro Ilha da Figueira, estão sob solo jaraguaense. A última delas é de dona Elcide, depois dela, os moradores vivem em Guaramirim.
“Eu aqui, dando oi para a minha vizinha do lado que fica em outra cidade, se torna até engraçado”, brinca Elcide.
Mas a parte divertida para por aí. A divisão da rua sem saída entre duas administrações torna a situação um pouco confusa para os moradores. Do outro lado da rua e do ribeirão, Aline Rodrigues tem contas de luz e água emitidas em Jaraguá do Sul, mas o IPTU e telefone paga para Guaramirim.
Na hora de usar os serviços de saúde, acaba recorrendo ao ponto mais próximo, no bairro jaraguaense, mas sabe que deveria ir à cidade onde a residência está cadastrada.
O limite é parte da rotina dela e dos moradores das casas seguintes. Toda vez que precisa sair, Aline atravessa essa linha imaginária traçada bem ao lado do muro que contorna seu terreno, já que o acesso é único.
O fato também dificulta na hora de conseguir melhorias. Os moradores pedem a pavimentação da rua e abertura do ribeirão que transborda e alaga as casas nos dias de chuva.
“É uma polêmica para sair essa obra, uma briga. A reunião é sempre aqui na divisa. Virou um dilema”, afirma Elcide.
- Limites urbanos exigem políticas públicas integradas
O município faz fronteira de 5,88 quilômetros com Schroeder e 20,37 quilômetros com Guaramirim.
Nesses pontos, as cidades e as necessidades dos moradores se misturam e exigem, muitas vezes, ações coordenadas do poder público – principalmente em questões como transporte coletivo, coleta de lixo e saneamento básico.
Um dos efeitos disso é a conurbação, que na síntese se refere à unificação da malha urbana de dois municípios.
Os limites rurais não trazem impacto tão grande, mas geram demandas, principalmente na manutenção de estradas e captação de água.
Caminho do Manso é permeado de belezas
No extremo Norte, um caminho permeia os limites de Jaraguá do Sul. A Estrada do Manso liga Jaraguá a Campo Alegre, em uma região conhecida como Serra do Mar. O fim do trajeto fica a 47 quilômetros do centro da cidade, em uma rota ascendente e adornada por paisagens naturais.
As chácaras tomam as margens. A maioria com portas e janelas fechadas, esperando pelo fim de semana, quando os proprietários buscam o local para descanso.
Mas as chaminés fumegantes, no meio da semana, sugerem a presença de moradores fixos que logo mostram as caras. A maioria deles, em plena atividade, com a mão na terra.
Um deles, colhendo folhas à beira da estrada era Rolando Fisher, aos 74 anos. Com botas e um chapéu para proteger a cabeça do vento frio, o aposentado acorda cedo e dorme cedo. Dedica as horas para cuidar dos animais e da plantação de milho.
Fischer morou desde cedo no Manso, passou alguns anos na cidade quando o primeiro dos seis filhos chegou à idade de frequentar a escola, mas não conseguiu ficar longe do interior. Já faz 12 anos que ele e a mulher voltaram.
“Aqui é longe de tudo, saímos só uma vez por mês. É uma opção de vida mesmo, é outro clima”, comenta.
E nessa atmosfera e vida rural, não faltam boas surpresas na subida. Rios, cachoeiras, e o azul das hortênsias vão compondo o retrato. As cercas de madeira com arame farpado têm presença constante. Animais também.
Enquanto alguns pássaros cantam timidamente na mata, surge a presença extravagante de uma boiada conduzida de um pasto a outro pelo produtor rural Rubens Bahr, 54 anos.
Cerca de 300 cabeças tomam a estrada e passam à frente do carro da equipe de reportagem do OCP.
“Desde 1989 dividimos nosso gado entre Jaraguá do Sul e Campo Alegre. Aqui é uma região bonita, que muita gente não conhece, não sabe que pertence à cidade e vale a pena conhecer”, destaca.
Conforme ganha altitude, a paisagem se transforma. Aparecem pinheiros e araucárias quase ocultados pela forte neblina. Até o solo é diferente, argiloso.
A região é rica em caulim, matéria prima utilizada para produção de cerâmica. No ponto de limite, que mistura Jaraguá do Sul com Campo Alegre e São Bento do Sul, estão instaladas pelo menos três áreas de mineração.
Família vivencia mudanças das rotas
Há mais de 300 metros acima do nível do mar, a casa da família Fiedler resiste às mudanças e ao tempo.
Por anos, era o último sinal de civilização jaraguaense antes da descida que dá acesso a Pomerode e Rio dos Cedros. Hoje, antes do ponto que divide os municípios, outras famílias se estabeleceram.
A construção simples em uma madeira nitidamente antiga com a pintura azul desbotada ganhou um puxado de alvenaria. O local foi passando de geração; do avô, ao neto Darvido Fiedler que já soma 59 anos.
A casa está assentada em meio a um vale que esconde a antiga estrada que ligava os municípios. Antes mesmo da SC-110 ser desbravada, era por ali que passavam os viajantes.
“Esse era o principal caminho entre as cidades, não tinha outra rua. Isso foi feito pelos próprios colonos, à mão. Subiam carroças e os carros maiores, as crianças desciam para a escola sem nada nos pés”, lembra.
Do antigo traçado ficaram apenas as lembranças, o terreno está totalmente coberto de grama e virou pasto para os animais. Por volta de 1966, um novo acesso pelo bairro Rio da Luz desativou a subida.
Mais do que o cenário rural nas margens da estrada, a mata também tem força. O ronco de bugios é facilmente identificado pelo aposentado. Sem os ruídos urbanos, a natureza se destaca.
Passar os dias numa frequência diferente do que se vê nas cidades é o motivo que mantém o aposentado e a esposa Úrsula em um ponto tão distante, porque a vida no campo já não é tão promissora.
Não esqueça de compartilhar:
Caixa de comentários
VOCÊ TAMBÉM VAI QUERER LER