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É quem dá nome ao Museu? Sim, resposta certa, mas muita gente não sabe muito bem quem foi de fato Emílio da Silva, figura por trás desse reconhecimento histórico.
Não é exagero afirmar que o registro da história de Jaraguá do Sul não seria o mesmo sem essa importante figura. Especialmente porque ele, nascido nos primeiros anos da colonização, foi responsável por registrar muitas das memórias orais dos primeiros moradores. Foi um historiador autodidata, chamado por muitos de Mestre Emílio.
A história dele começa com a chegada daquele que é considerado fundador do município, Emílio Carlos Jourdan. Quando a família europeia de colonizadores chegou ao então chamado Estabelecimento Jaraguá, trouxe junto deles Maria Umbelina da Silva – mulher filha de escravos, contratada em Araquari para ser babá da família Jourdan.
Quando os fundadores foram embora da cidade após o empreendimento não dar certo, Maria Umbelina ficou por aqui. Em novembro de 1900, deu à luz gêmeos: Emílio e Paula da Silva.
Ambos levaram o sobrenome da mãe, que era viúva e não foi casada com o pai de Emílio e Paula, que segundo relato do historiador foi Afonso Alves de Siqueira – de uma família de canoeiros que trabalhavam no Estabelecimento Jaraguá.
Ainda garoto, com cerca de um ano de idade, Emílio foi adotado por um casal da cidade: Carlos e Claresdina Lehmert – que não podiam ter filhos.
Passando a viver com o casal de origem europeia, teve acesso à educação, livros, aprendeu a falar alemão, se desenvolvendo inclusive como autodidata.
Para trazer brevemente essa história, separamos algumas curiosidades encontradas no livro “Emílio da Silva e seu Século”, de autoria de José Alberto Barbosa.
Educador pioneiro
Conta a história que Emílio da Silva foi conhecido como um grande mestre, não só por ter sido professor, mas por ter compartilhado conhecimento por onde passava.
Mas um dos fatos emblemáticos da história dele foi a passagem pela escola Hercílio P. da Luz, na chamada Schroederstrasse, como era chamada Schroeder na época.
Emílio foi nomeado para dar aulas na cidade em 1922, na época com 22 anos havia recém retornado a região após viver com a família adotiva em Rio Negrio por muitos anos.
Nomeação para o cargo com o professor estava feita, mas a estrutura onde iria dar aulas não havia sido levantada. Com isso, ele mesmo se encarregou da construção com as próprias mãos, recursos e apoio de algumas famílias.
O trabalho dele na comunidade foi muito reconhecido, ainda mais porque se tratava da primeira escola ecumênica e pública da cidade.
“Sem dúvida um dos aspectos mais relevantes da rica vida de Emílio da Silva foi o seu profícuo e oportuno trabalho como educador, mestre-escola, como professor do curso primário, quando foi dos pioneiros do ensino público(…)”, descreve o autor José Alberto Barbosa.
Ele permaneceu lecionando na unidade até 1929, quando foi transferido para Jaraguá do Sul.
Anos mais tarde, passou por várias outras experiências profissionais, na área da educação ainda foi Inspetor Escolar nomeado pelo então prefeito Waldemar Grubba, em 1951.
Homem de "sete instrumentos"
Assim era chamado Emílio da Silva por ser uma pessoa de muitas, muitas habilidades mesmo.
Foi professor, músico, trabalhou como pintor, alfaiate, marceneiro e sapateiro nos primeiros anos de Schroeder. Também foi agrimensor, topógrafo e cartógrafo, tendo produzido vários mapas de Jaraguá do Sul e do Vale do Itapocu.
Também contam de suas habilidades como eletricista, tendo trabalhado na área em Rio negro, e como mecânico, sendo capaz de montar e desmontar carros.
E não para por aí, além de erguer aquela escola em Schroeder, foi arquiteto para várias famílias.
“Ele era procurado para isso, conversava sobre as características desejadas; em seguida esboçava, media, calculava e desenhava as plantas, sendo que seus clientes, então, contratavam por si os construtores para as execuções das respectivas obras”, conta Barbosa.
Essa polivalência, imagina-se, veio da vida com o pai adotivo Carlos Lehmert que era engenheiro. Emílio ainda pequeno viajou junto com a família Serra acima, uma vez que o pai foi um dos engenheiros na construção da ferrovia que corta a região.
Dono de comércio e do Salão Silva
Nos primeiros anos como professor em Schroeder, Emílio conheceu a esposa Magdalena Salomon e se casaram em 1924.
A casa dos dois ficava logo no começo da Estrada Schroeder, próximo a onde hoje fica a conexão com a Avenida Waldemar Grubba.
Ali, abriram um comércio de secos e molhados, em que Magdalena e os filhos atendiam os clientes.
Já apreciador de boa música e tendo habilidades com os instrumentos, ele abriu ao lado de casa o Salão Emílio da Silva, ontem aconteciam bailes e festas.
Contam também que Emílio levava seu gramafone para festas, a bordo da sua clássica bicicleta, animando os ambientes.
Na vida musical, anos mais tarde também foi um dos movimentadores da Sociedade Cultura Artística (Scar), sendo descrito como um exímio violinista e violoncelista, além de tocar trompete, clarinete e contrabaixo.
É pai do fundador da WEG
A família Silva pouco a pouco foi crescendo trazendo 7 filhos ao mundo: Emilio da Silva Junior, Eugênio José da Silva, Edgard da Silva, Eggon João da Silva, Edith da Silva, Érica da Silva e Elvira da Silva.
A história de um dos filhos de Emílio é notória e fala por si mesma: Eggon foi um dos fundadores da multinacional WEG.
Integrou movimento político conservador
Emílio da Silva foi um dos líderes do movimento Integralista no Vale do Itapocu. Em momento histórico tenso para a política brasileira, a Ação Integralista Brasileira (AIB) tinha uma bandeira nacionalista, tradicionalista e de extrema-direita.
O historiador chegou a ser eleito vereador pela AIB, mas perdeu o mandato e chegou a ser preso político por ter participado da solenidade Noite dos Tambores Silenciosos, em 1936, quando havia uma ordem nacional que impedia reuniões.
Registrou a história em fotos e fatos
Emílio da Silva desde pequeno gostava de contemplar o passado. Foi um leitor ávido e pessoa de muitas habilidades, vide todas as profissões que exerceu – e segundo as narrativas, em todas elas como exímio.
Entre seus assuntos de interesse estava história, arqueologia e antropologia. Emílio foi responsável por registrar em fotografias e preservar imagens feitas por outros fotógrafos da região.
Tirar fotos era um hobby que eternizou muitas imagens de como era o Vale do Itapocu na época.
“Se tinha alguma dúvida, alguma questão, ia ver de perto, entrevistar, verificar, medir. Tinha interesse por tudo. E especialmente por pessoas. Por vidas e vivências”, relata Barbosa.
Foi esse espírito que fez Emílio da Silva se tornar o grande historiador do Vale do Itapocu. Pesquisava datas nos cartórios, até mesmo nas lápides de cemitérios para construir e registrar as narrativas.
Um fruto desse interesse ele deixou registrado no “Segundo Livro de Jaraguá do Sul – Um Capítulo da Povoação do Vale do Itapocu”, tendo redação final em 1975, que conta com biografias de diversas pessoas da cidade.
Além disso, ajudou a montar exposições históricas dado seu conhecimento da região e doou seu acervo pessoal para constituir o primeiro museu de Jaraguá do Sul – não é à toa que leva o nome dele.
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