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Transformar as informações comunicadas através da fala em sinais que podem ser compreendidos pela visão. Além da precisão nos sinais feitos pela mão, muita expressão facial e linguagem corporal.
Se há alguns anos o trabalho de intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) era algo novo e raro, atualmente vem se tornando cada vez mais popular.
Lives pelas redes sociais, reuniões, vídeos institucionais e até o Festival da Canção de Jaraguá do Sul. Há mais de 25 anos atuando profissionalmente na área, a intérprete jaraguaense Clery Dreher, 43 anos, percebe na rotina profissional o reconhecimento dessa profissão.
“Há 10 anos os intérpretes de Libras estavam sendo descobertos. Esse profissional vem crescendo a cada dia”, comenta, ressaltando que esta demanda ainda caminha a passos lentos.
Segundo os últimos dados do IBGE (Instituto Braisleiro de Geografia Estatística), do censo de 2010, existem 10 milhões de pessoas surdas no Brasil que utilizam Libras. São cerca de 330 mil em Santa Catarina e, segundo Clery, em torno de 2 mil em Jaraguá do Sul.
Percebendo as oportunidades e demanda por acessibilidade, ainda mais no ambiente virtual, a própria Clery abriu a dois anos uma empresa e investiu na criação de um pequeno estúdio caseiro, onde conta com fundo verde, o chroma key, luzes e câmera.
Ali, grava textos ou faz transmissões ao vivo participando de uma infinidade de programações que tratam de temas diversos.
Assim como uma rampa que permite o acesso de uma pessoa com dificuldade de mobilidade, essa interpretação serve como instrumento de acessibilidade.
“Essa população fica fora dos conteúdos porque a sociedade esquece de colocar a língua de sinais ali. Com a pandemia vieram muitas Lives e o lado bom dessa história é que as pessoas estão pensando na acessibilidade da comunidade surda, que eles têm esse direito”, comenta. “Mas a Libras ainda precisa ser lembrada”.
Segundo a intérprete, a comunidade surda é bastante unida no município e ainda passa por situações de falta de inclusão em questões básicas.
Um exemplo, comenta ela, são vídeos institucionais de empresas, que passam informações relevantes aos trabalhadores, mas não contam com interpretação para Libras. Isso dentro de locais que contam com pessoas surdas no quadro de funcionários.
Por outro lado, ela celebra iniciativas como a da Prefeitura Municipal de Jaraguá do Sul. O Festival da Canção, transmitido esse ano pelo Youtube, foi todo interpretado. Música por música.
“Foi maravilhoso o valor que deram para a acessibilidade”, pontua sobre o trabalho realizado, que além de passar a letra das músicas, teve a interpretação de ritmo e mensagem artística.
Profissão requer especialização
Clery explica que se tornar uma intérprete de Libras requer uma longa caminhada de estudos, cursos e especializações. Mas o fundamental é o aprofundamento para realmente conseguir passar as informações de forma concreta.
Enquanto a Língua Portuguesa tem cerca de 300 mil palavras, a Libras conta com 15 mil sinais. Não é português com gestos, é toda uma nova linguagem e forma de expressão.
Uma frase “existam árvores nos dois lados da rua”, por exemplo, pode ser transmitida com apenas dois sinais: “árvore” e outro para indicar os dois lados da rua. É preciso ter prática para fazer essa interpretação, ainda mais em tempo real.
Da mesma forma que falar cansa, um intérprete também precisa de apoio em eventos longos. Clery, com experiência, consegue passar horas atuando, mas garante que isso exige um daqueles adesivos para dores e inflamações musculares no fim de uma empreitada.
“Hoje é possível afirmar que o curso de libras te faz bilíngue, não intérprete. Para ser intérprete é preciso muito mais: experiência, prática e conhecimento da cultura surda”, ressalta.
No caso dela, foi toda uma jornada. Clery começou a conhecer esse universo durante a faculdade, incentivada por uma professora que a passou um estudo de caso com um estudante surdo.
Eles acabaram tendo um relacionamento e formando uma família – apesar da separação, ficou todo o universo e experiência dos anos de convivência. “Hoje eu tenho um pé na cultura ouvinte e um pé na cultura surda”, diz.
Da mesma forma que a fluência é importante para ser um intérprete de inglês, espanhol ou qualquer língua, com o conhecimento de expressões e questões culturais, o mesmo acontece no caso das Libras.
Existe a graduação e pós-graduação em Letras-Libras e cursos de aprofundamento, além de um teste de proficiência realizado pela Federação Nacional dos Surdos, que podem ser procurados por quem quer se aprofundar.
A formação e aptidão, segundo a profissional, são fundamentais, pois no dia a dia o intérprete precisa lidar com uma pluralidade de informações. Desde conteúdos sobre economia, política, saúde à área jurídica.
“O intérprete precisa ser fidedigno aquilo que ele está ouvindo”, comenta.
A profissional ressalta que o crescimento da comunidade de intérpretes é muito incentivada por quem atua no meio, para que a Libras seja cada vez mais reconhecida em espaços de informações, serviços públicos e por empresas.
Sobre o artigo que você leu
“Na Minha Pele” é uma série que vai te levar a sentir as principais dificuldades e vantagens de exercer determinadas profissões em Jaraguá do Sul. Conheça e entenda aqui o que passam pessoas que estão direta ou indiretamente presentes na sua vida.
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