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O olhar para a natureza sempre fez parte da vida de Anderson Kassner Filho, 28 anos. Tamanha atenção para os detalhes, especialmente das plantas, levou o jaraguaense a descobrir uma nova espécie em Santa Catarina: a Oxypetalum kassneri.
A descoberta aconteceu em São Joaquim, durante uma jornada de campo trabalhando para o IFFSC (Inventário Florístico e Florestal de Santa Catarina). Apesar de sua missão dentro desse projeto ser coletar e catalogar espécies, a descoberta aconteceu em decorrência dessa visão apurada.
O biólogo especialista botânica conta que era o último dia de trabalho, fim da tarde de uma sexta-feira, e a equipe se preparava para um churrasco. No caminho entre o mercado e o alojamento, ele notou uma área que parecia ter potencial para coleta.
“Eu procuro coletar muitas plantas para ter ideia da distribuição das várias espécies, para ter ideia tenho mais de 6 mil amostras. Naquele dia eu vi como potencial local e andando me deparei com uma espécie nova, na hora não tinha certeza”, comenta.
O botânico revela que fazer uma descoberta como essa faz parte do sonho de muitos botânicos – mas em Santa Catarina é tarefa difícil, dado o extenso trabalho de catalogação feito no século passado.
Mesmo na dúvida, Anderson enviou as amostras para o colega e amigo Luís A. Funez, que com um amplo conhecimento de espécies, ainda não havia visto aquela. Foi o primeiro sinal positivo.
Daí, a amostra foi enviada para um especialista no gênero, o argentino H.A. Keller, que confirmou ser uma nova espécie. Isso foi ainda em 2019, e desde então a equipe foi trabalhando em segredo no material que reconheceria a descoberta no mundo científico. A publicação aconteceu na edição deste ano da revista Rodriguésia.
Anderson comenta que já na confirmação dos colegas a sensação foi de muita alegria por ter realizado um sonho e deixar uma contribuição científica.
O botânico comenta que essa realização veio com muitas frustrações. Como ele realiza esse trabalho em campo há quatro anos com o IFFSC, já tinha se deparado muitas vezes com espécies raras que ao primeiro olhar pareciam descobertas.
“Bati na trave, mas nunca desanimei, sempre com aquela vontade de um dia conseguir”, conta.
Um nova planta
Anderson comenta que a Oxypetalum kassneri é endêmica da serra catarinense. Essa foi a primeira população da espécie encontrada, então uma das missões dele será buscar outras plantas pelos arredores.
Como não existem mais informações sobre a situação dessa planta, ela é catalogada como ameaçada. Especialmente por estar em uma área de pasto que sofre negativamente com a criação de gado e as queimadas que são realizadas para abertura dos campos.
Olhar para a natureza
Atualmente dentro do projeto IFFSC, Anderson atua com uma equipe que avalia como estão os remanescentes florestais nativos por todo estado.
Nos pontos de medição, como são chamadas as áreas delimitadas para estudo, são coletadas informações que servem como base para criar ações eficientes de manejo das florestas.
“Paralelo a essa medição de floresta a gente faz coletas botânicas em estado fértil para se conhecer o que a gente tem de espécie em Santa Catarina, qual a distribuição delas e eventualmente encontrar espécies que não foram descritas pela ciência”, destaca.
Anderson se formou em ciências biológicas e sempre buscou estágios que garantissem experiência e conhecimento prático, de campo. Uma forma de fazer algo que ele sempre gostou.
“Sempre tive esse interesse em saber os nomes, conhecer as espécies, vem desde a minha infância, quando meus pais iam em exposição de flores, orquídeas, eu comprei e ganhei algumas e começou meu interesse. Queria saber como cultivava”, conta.
Anderson chegou a ter um orquidário com 2 mil plantas no sítio da família. Para quem sempre teve essa conexão com a natureza, o momento é único.
“Eu sempre quis achar uma espécie nova, é o sonho de todo biólogo que trabalha em campo, colocar o nome na história da ciência, especialmente aqui da região”.
Além dessa contribuição, Anderson comenta que esse trabalho de reconhecimento das florestas catarinenses contribui para a sustentabilidade. Se descobre o que precisa ser preservado e como isso deve acontecer.
“Com essas pesquisas vamos tendo mais informações para proteger mais o que a gente tem de tão valioso que são nossas florestas”, finaliza.
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