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Quando o fundador de Jaraguá do Sul pisou pela primeira vez no território que iria colonizar, ele não chegou sozinho: Emílio Carlos Jourdan trouxe 66 trabalhadores para iniciar o Estabelecimento Jaraguá. Desses, 35 eram homens negros que foram pioneiros nesse início oficial da cidade.
Nossa rica fonte de pesquisa para essa matéria é o livro “Memórias do Povoado Morro da África e a História dos Negros em Jaraguá do Sul”, escrito por Egon Lotário Jagnow com colaboração de Beatriz de Lima Alves, lançado em 2019.
Se debruçando sobre a história oral e poucos registros escritos, o papel dos negros na colonização do município foi resgatado por iniciativa de uma comissão aqui da cidade.
Quem foram os 35 trabalhadores?
Pouco se sabe sobre a maioria desses pioneiros que chegaram junto com Jourdan. Muitos trabalhadores foram trazidos do Rio de Janeiro, de onde o fundador veio, e outros eram aqui de Santa Catarina.
Apesar de ser anos antes do fim definitivo da escravidão no país, relatos da época referem-se a esses trabalhadores como homens livres, contratados para esse trabalho.
Mas o registro desses nomes não foi feito com o afinco que se registrava o nome de quem chegava com dinheiro e títulos, e muito dessa história se perdeu. Os que foram gravados, são apresentados nas páginas do livro.
O canoeiro chefe
Filho de uma escrava alforriada e um português, nascido em Santa Catarina, Calixto Domingos Borges foi um dos cinco canoeiros da primeira expedição do empreendimento pelo rio Itapocu.
Partiram com a finalidade de verificar o local onde seria erguido o Estabelecimento Jaraguá, saindo do porto do Sertão do Itapocu.
Domingos também teria feito outras viagens pelo rio para trazer equipamentos que seriam usados para a construção e funcionamento do engenho. Também teria sido quem levou Helena, esposa de Jourdan para o Itapocu em 1883, para ter a filha.
Conta a história que aqui ele teve 11 filhos e morou na localidade de Tifa Teresinha, onde cultivava café e cana para produzir cachaça e açúcar, além de ter um engenho de mandioca.
A produção, ele levava pelo rio de canoa até o comércio de Bernardo Grubba.
A avó do fundador da WEG
Com apenas 20 anos de idade, Maria Umbelina da Silva teria chegado a Jaraguá como babá dos filhos de Emílio Carlos Jourdan. Era nascida onde hoje é Araquari, na localidade Rainha.
Quando a família Jourdan voltou ao Rio de Janeiro, em 1900, Maria permaneceu por aqui.
Ao todo, ela teve sete filhos e dois casamentos. O primeiro marido faleceu em um acidente no rio Itapocu e o segundo teria desaparecido.
O notório pesquisador Emílio da Silva, que dá nome ao nosso museu municipal, é um dos sete filhos de Maria Umbelina e foi responsável por registrar grande parte da história de Jaraguá do Sul na década de 70.
O legado seguiu com o filho de Emílio, Eggon João da Silva. Sim, o fundador da WEG era neto de Maria.
Um pedreiro profissional
Joaquim Francisco de Paulo nasceu em um navio negreiro que atravessava o oceano.
Não se sabe como se tornou um homem livre, mas Jognow acredita que poderia ter comprado a liberdade dada sua habilidade como pedreiro ou ter sido liberto após ter lutado pelo Brasil na Guerra do Paraguai.
Chico de Paulo, que batiza um bairro da cidade, chegou aqui trazido por Jourdan como um pedreiro profissional. Foi quem fez os trabalhos de alvenaria do Engenho Jaraguá e construiu a casa de Jourdan.
Com o fim do Estabelecimento e retorno do fundador ao Rio de Janeiro, teria ido morar em um lote às margens de um ribeirão onde hoje é o bairro Chico de Paulo. Trabalhou como pedreiro e vivia da agricultura.
Os irmãos Rosa
Os três irmãos Domingos, Marcos e Custódio Rosa teriam chegado a Jaraguá do Sul entre os primeiros trabalhadores.
As principais referências históricas trazem informações sobre Domingos, que teria sido muito estimado por suas habilidades. Era ele, por exemplo, um dos responsáveis por ferver a garapa para fazer o açúcar e lambiscar a cachaça no Engenho Jaraguá.
Em um livro de Emílio da Silva, é relatado que Domingos ensinou muitos imigrantes a fazer balaio para pegar peixes, a cozinhar e temperar o inhame, ou seja, conhecia muito bem como era a vida por aqui e compartilhava sobre as riquezas da natureza.
A família Rosa foi uma das fundadoras da comunidade no Morro da Boa Vista e era figura de liderança.
Desbravador das matas
O paulista Justino de Oliveira atuou nos trabalhos de desmatamento do Estabelecimento Jaraguá para efetuar a plantação de cana-de-açúcar.
Ele teria sido um dos moradores expulso das terras que habitavam, por volta de 1907, quando Jaraguá passou a ser distrito de Joinville.
Provavelmente Oliveira teria recebido a permissão de continuar em sua casa como muitos outros trabalhadores em compensação pela falta de pagamento dos salários, mas não havia provas. Foram despejados judicialmente e tiveram as casas queimadas.
Teria, junto com Domingo da Rosa, pleitear a aquisição de terras no Morro Boa Vista junto ao Governo do Estado. Eles teriam sido atendidos, mas segundo relata Jagnow no livro, não existem documentos.
Muitos outros pioneiros
A história de muitos outros trabalhadores que chegaram na cidade muito antes de todo processo oficial de colonização se perdeu no tempo.
O trabalho da Comissão de Pesquisa e Resgate Histórico da População Negra de Jaraguá do Sul traz um retrato parcial, que segue aberto para novas pesquisas que possam descobrir novos fatos.
Pra quem ficou curioso, recomendamos a leitura porque o livro tem muito mais história, inclusive discorrendo sobre as dificuldades enfrentadas por esses trabalhadores quando o empreendimento de Jourdan deu errado e ele decidiu voltar ao Rio de Janeiro.
Sobre o artigo que você leu
“Antigamente em Jaraguá do Sul” é uma série que investiga, resgata e preserva a memória de histórias, rotinas, pessoas e fatos que moldaram a identidade de nossa cidade. Tem alguma curiosidade ou dica que queira compartilhar com a gente?
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