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– Como está a casa na praia? É em Barra Velha? – afirma seu Norivaldo
– É, é em Itajuba… responde o cliente de longa data, iniciando assim a conversa que vai das temporadas até um debate sobre o preço dos imóveis no litoral
Enquanto mantém a conversa, interessado, Norivaldo Klein, 72 anos, não tira os olhos atentos por nem um instante da lâmina da navalha, com a qual faz os retoques finais no corte de cabelo.
É nesse ritmo que segue uma tarde de segunda-feira no receptivo salão. Enquanto um corte segue na primeira cadeira da esquerda, ao lado, o filho Leonardo finaliza com o cliente que chegou minutos antes e o Eduardo, o caçula do trio, dá as primeiras tesouradas.
Os três em perfeita harmonia conduzem um negócio de família que há décadas faz muitos jaraguaenses se sentirem mais alinhados, mais elegantes e até mesmo renovados.
Virando um profissional
Foi no início dos anos 60, quando tinha cerca de 15 anos, que Norivaldo Klein empunhou a navalha na intenção de se tornar barbeiro. Ele conta que o irmão Sebastião foi responsável por ensinar os primeiros movimentos.
Norivaldo diz que foi a falta de afinidade com a história de bater ponto no trabalho que despertou a vontade de aprender algo diferente, que trouxesse uma rotina menos industrial.
Ficou um tempo trabalhando com o irmão até que recebeu convite para trabalhar em uma barbearia em Curitiba, em frente a uma base aérea, onde ficou por cerca de 1 ano e meio. Foi na capital que aprendeu todas as minúcias da técnica e considera que se tornou um profissional de verdade.
“Voltei a Jaraguá do Sul e comprei a barbearia de um senhor. Ficava na Marechal, esquina com a cabo Harry Hadlich, fiquei ali até 95, quando vim para cá [Procópio Gomes de Oliveira]”, conta.
Norivaldo começou a trabalhar em 1967, atendendo a uma vasta clientela que aparecia pelo centro.
“Era mais difícil, era mais difícil. Para começar os aparelhos para cortar cabelo, as máquinas, as tesouras não eram as mesmas de hoje. Até os pentes mudaram”, comenta.
- Dia só da barba
Norivaldo conta que antigamente, sábado era o dia de se fazer a barba. Tanto é que nenhum cabeleireiro cortava o cabelo nesse dia, todas as atenções eram voltadas aos pelos.
“Tinha cliente para atender das 8h até 8h30 da noite. Quartas também era, mas não tanto. Sábado era sagrado, o dia todo cortando barba”, relembra.
O costume foi mudando com o tempo, comenta, e os cabelos também ganharam seu espaço no fim de semana.
Em família
A inspiração que motivou Norivaldo seguiu a corrente da família. O primeiro a firmar no ramo foi o filho Leonardo, 42 anos, que não pensou muito na hora de escolher a profissão que queria seguir.
“A gente cresceu vendo o pai cortar cabelo, então a gente sempre admirava e achava uma profissão bonita. Tanto que em 96 eu comecei a fazer curso e comecei a trabalhar com ele em 98, 5 de agosto”, lembra. “Eu fiz o curso e aprendi o básico e posso dizer que me tornei o profissional por causa do meu pai, tudo que eu sei ele me ensinou. Isso eu posso tirar o chapéu e dizer de boca cheia”.
Eduardo, 36 anos, via o pai, e depois o irmão. Até chegou a passar por outras áreas no comecinho da jornada profissional, mas por volta dos 18 anos já havia decidido se dedicar à área.
Com isso, a pequena sala que abrigava Norivaldo ficou um pouco maior, mas seguiu na Procópio, cunhando um endereço ativo pela família há 26 anos.
Mas como a história remonta desde o primeiro endereço, o negócio se orgulha em dizer que mantém clientes há mais de 50 anos.
- Mudanças com o tempo
Aos 72 anos, Norivaldo diz que se um dia afirmar que sabe tudo de corte de cabelo, está na hora de parar de trabalhar. Ele ressalta o quanto é preciso seguir aprendendo com as mudanças que acontecem com o passar dos anos.
Afinal de contas, foram muitos e muitos tipos de corte de cabelo e barba nesse tempo todo em atividade. É preciso estar atualizado e atento.
Ele comenta que foram muitas fases, mas lembra com nom humor dos anos 70, quando o cabelo longo virou moda e a vida ficou difícil para quem vivia de manter eles curtos.
“Foi danada aquela época”, diz, contando ainda que se manteve muito mais fazendo as barbas nesse período. “Era cabelo longo, cabelo comprido, os Beatles naquela época. Igual hoje tem o cabelo de jogador”.
Seguindo a tradição
Norivaldo aos poucos tem deixado a rotina diária e Leonardo e Eduardo vão tocando o negócio com mais intensidade.
“É gratificante porque isso vem de família. Meu pai começou e a gente está tocando e pretende continuar”, afirma Leonardo.
Para os três, o negócio seguiu por tantos anos por ser prezada sempre a qualidade do trabalho, do atendimento a cada cliente e por ser um ambiente acolhedor, de família.
“O trabalho dignifica a pessoa, e melhor ainda quando trabalha em uma profissão que gosta. Uma coisa difícil é sair de manhã e não gostar do que você faz ou do ambiente de trabalho, é difícil. Sempre gostei e gosto hoje ainda”, comenta Norivaldo.
E por serem apaixonados pela profissão, a intenção deles é manter as portas do negócio abertas por bons anos.
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