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Garantir que um ser humano tenha acesso a direitos básicos. Uma simples motivação que levou a advogada jaraguaense Amanda Pimenta da Silva, 27 anos, para uma jornada profissional no Cairo, Egito. Desde 2018, ela aprofunda estudos em direito internacional através de um mestrado e recentemente passou à prática, trabalhando em uma ONG que acolhe refugiados.
Amanda conta que sempre teve interesse pela história e cultura do oriente médio e os estudos acabaram reforçando essa direção. Quando terminou o curso de Direito, na Furb, logo engatou uma pós-graduação em Relações Internacionais e Diplomacia, em Curitiba, seguindo esse profundo interesse.
“Durante este tempo eu estudava para concursos públicos e tinha um estágio de pós-graduação que pagava razoavelmente bem. Eu trabalhei por 6 meses no gabinete do Presidente do TJPR, e por um ano e meio na assessorial de uma juíza substituta. Fazia trabalhos de gabinete, cheguei a atuar em diversas áreas do Direito”, comenta.
E mesmo seguindo bem nas áreas mais tradicionais, ela seguia aquela ideia inicial focando nas oportunidades que surgiam. “Naquela época, sempre que surgia oportunidade eu voluntariava com refugiados (cheguei a fazer traduções do francês para o português em um workshop voltado para refugiados em Curitiba)”, relembra.
A virada de chave que trouxe o sonho para o mundo real aconteceu em 2016, quando participou de uma competição internacional na Holanda que simulava um procedimento jurídico perante um Tribunal Penal Internacional. Amanda conta que esse contato direto a fez pesquisar e se aprofundar mais na área.
No ano seguinte, uma viagem turística ao Egito guiada por amigos locais, a fez decidir pela mudança para aproveitar as experiências que o país poderia oferecer.
“Passei a buscar programas de mestrado na área de direito internacional, e encontrei o mestrado na American University in Cairo (Universidade Americana no Cairo), onde eu me inscrevi e fui aceita com bolsa integral e ajuda mensal de custos básicos”, conta. “Quando recebi o aceite da universidade precisei devolver o apartamento que tinha alugado em Curitiba, conversar com meus pais sobre o mestrado e sobre meu sonho de atuar com direitos humanos fora do país, tendo como o grande sonho trabalhar tanto em campo como nas Nações Unidas”.
Foi menos de um mês entre receber o e-mail sobre a bolsa de estudos e o dia do embarque para o Egito, em agosto de 2018.
Vida no Egito
Amanda já havia pisado em solo egípcio uma vez, mas nessa segunda seria como moradora. Para ficar. Uma mudança de continente, claro, trouxe um frio na barriga.
Especialmente porque ficaria tanto tempo longe de casa. “A adaptação foi difícil, acredito que levou cerca de um ano até eu me sentir totalmente segura, confiante e ter um grupo de amigos solido, pois foi a primeira vez que passei tanto tempo longe da família”, revela.
No dia a dia, dá para viver bem com um bom inglês. Amanda conta que o idioma local é o “árabe egípcio”, uma variação do árabe, mas como se trata de uma metrópole, rádio, sinalização e placas nas ruas, até outdoors costumam ser em inglês.
Apesar de toda carga que costumamos ver na cultura muçulmana, a advogada acredita que o assédio a mulheres acaba se equiparando com o Brasil. “Os egípcios são parecidos com brasileiros quando fazem piadas na rua, tentam chamar atenção da mulher ou mulheres andando sozinhas ou sem a companhia de um homem”, comenta.
No entanto, a atenção em relação à forma de se vestir ainda precisa ser redobrada por lá. Amanda costuma respeitar essa tradição para evitar chamar atenção.
“No geral, me sinto um pouco mais segura aqui, considerando o índice de criminalidade quando comparado com outras cidades do mesmo porte”, revela.
- Jejum e orações
Sobre as diferenças culturais entre os países, Amanda conta que a mudança de rotina durante o mês do Ramadã foi o que mais chama atenção. Nesse mês lunar, uma vez que o calendário islâmico segue as transições da lua, os muçulmanos realizam jejum entro o nascer e o pôr-do-sol. A celebração termina com festa.
Outro impacto foram as chamadas para oração cinco vezes ao dia. “Em alguns lugares existem tantas mesquitas juntas que parece que ouvindo dezenas de vozes ao mesmo tempo, e nem sempre o sistema de som é o melhor”, comenta.
Trabalho humanitário
Amanda conta que desde que começou os estudos do mestrado em Cairo, conheceu a ONG cristã que atua com refugiados, desde assistência financeira, médica, psico-social e jurídica – onde ela atua como consultora.
É a maior organização deste tipo no Egito e conta com reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Tinha vontade de fazer parte, pois acredito ser a melhor maneira de iniciar minha carreira atuando com direito internacional e direitos humanos. As Nações Unidas valorizam bastante atuação em campo, e eu sempre gostei da ideia de atuar na linha de frente com refugiados”, conta.
São pessoas que fugiram de seus países de origem por diversos motivos diferentes, mas o principal são as guerras civis e opressão militar como é o caso do Sudão, Sudão do Sul e Eritreia.
A realidade do trabalho de Amanda é dar encaminhamento a pessoas que vem desses países para o Egito, mas estão em busca de reassentamento em um terceiro país, como Canadá, Alemanha, Suécia, Portugal, entre outros.
“Eu entrevisto essas pessoas pessoalmente, a maioria das vezes com a ajuda de um intérprete para as línguas nativas, e dou encaminhamento no processo de reassentamento perante o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Se durante a entrevista ficamos sabendo de casos de abuso, perseguição ou qualquer outra vulnerabilidade, também damos o encaminhamento necessário, seja para os Médicos Sem Fronteiras ou outras ONGs e organizações internacionais que vão prestar o auxílio necessário ao refugiado”, explica.
A intenção da jaraguaense é permanecer no Egito até 2022, aprendendo tudo que puder sobre direito internacional e ganhando experiência trabalhando na linha de frente na proteção de refugiados.
Sobre o artigo que você leu
“Jaraguaenses Pelo Mundo” é uma série que compartilha com vocês tudo que passaram pessoas que optaram sair de nossa cidade para viver no exterior, e assim inspirar quem mais tem esse sonho. Conhece alguém com uma história legal pra compartilhar?
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