Compartilhe este conteúdo agora:
Artigo escrito por João Chiodini
Muitos escritores talentosos, que atuam nos gêneros mais variados da literatura já passaram pela Feira do Livro de Jaraguá do Sul.
Dessa forma, para poder fazer uma indicação de “o que ler”, utilizei dois indicativos: 1- em (semi) isolamento, com a vida social restrita, principalmente nos fins de semana, acho legal dar espaço aos textos rápidos, curtos, como poesia, conto e crônica. Pois, tendo que ficar em casa grande parte do tempo, a gente fica de saco cheio de qualquer coisa.
Além disso, para quem não tem “aquele” hábito afinado de leitura, leituras rápidas são mais convidativas.
Indicativo 2 – fui cronista do OCP por muito muito tempo. Sendo assim, meu recorte é constituído de dois cronistas e duas cronistas que já estiveram na nossa cidade, falando de suas obras, indicados para ler pela manhã, tarde, noite e madrugada.
“Diálogos Impossíveis”, Luis Fernando Veríssimo
As crônicas bem-humoradas desse livro são ótimas para se ler logo pela manhã. Começar o dia com um sorriso nos lábios, lendo diálogos de personagens marcantes como Batman, Goya, Drácula, Picasso, Don Juan, em crônicas que tratam, justamente, da incomunicabilidade e de mal-entendidos, algo tão corriqueiro em tempos de Fake News e falta de interpretação de textos.
Uma vez imaginei o encontro de Batman e Drácula numa clínica geriátrica, na Suíça.
Batman não acredita que Drácula tenha mais de 500 anos. Não lhe daria mais de 200.
– Tempo demais – diz Drácula. – Estou na terceira idade do Homem. Depois da mocidade e da maturidade, a indignidade…
O cúmulo da indignidade, para o conde, é a dentadura falsa…
“Pós-F: para além do masculino e do feminino”, Fernanda Young
Embora esse seja um livro de textos (ensaios) autobiográficos da Fernanda, ele ganhou troféu póstumo do Jabuti na categoria “crônicas”. Além disso, Fernanda Young foi, por tanto tempo, colunista em vários veículos nacionalmente conhecidos.
Esse livro traz, através de textos inspirados em sua própria vida, a questão do machismo e do feminismo. Ideal para se ler a tarde e ajudar numa reflexão social.
Oi, estou bem aqui na sua frente, mas você insiste em não me ver. Tudo bem, opção sua, cada um enxerga o que quer. O problema é quando você, sem ter ideia de como sou, resolve dar a sua visão sobre mim.
“O meu melhor”, Martha Medeiros
A escritora, que abriu a Feira do Livro de Jaraguá do Sul no ano passado, reúne as 100 melhores crônicas dos 25 anos de carreira neste livro que tem tudo para ser lido após o pôr-do-sol, permeando assuntos como relacionamentos (amorosos e consigo mesmo).
Trancar o dedo numa porta dói. Bater o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra do rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira de infância. Saudade de uma fruta que não se encontra mais…
“Me ajude a chorar”, Fabrício Carpinejar
Esse é o livro para ler de madrugada. Naquela noite de insônia, onde somos visitados pelos fantasmas das coisas não ditas, dos arrependimentos, dos momentos que poderíamos ter sido melhores humanos, melhores companheiros, melhores filhos.
No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:
– Deixa que eu ajudo.
Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.
Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.
Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro.
Aninhou o pai.
Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:
– Estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.
Não esqueça de compartilhar:
Caixa de comentários
VOCÊ TAMBÉM VAI QUERER LER