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Publicado originalmente em outubro de 2017
A lista é grande: Mindhunter, Criminal Minds, CSI, Bones, Dexter, Hawaii 5-0, Monk, Medical Detectives… poderíamos passar um dia inteirinho citando as séries de TV que têm como foco a investigação criminal. ‘
Mas você já parou para pensar o que daquilo tudo acontece na vida real? Será que todos aqueles materiais, os aparatos e as técnicas exibidas na TV existem e são usadas pelos profissionais da criminalística?
Para descobrir, nós fomos até o Instituto Geral de Perícias (IGP) de Jaraguá do Sul, conversar com o pessoal que entende de verdade do assunto. Quem nos ajudou foi o responsável pelo Instituto, Eduardo Linhares, que é perito criminal.
Ele esclareceu que as séries de TV mostram algumas mentirinhas, sim, mas a maior parte é real. No fim, os procedimentos técnicos e científicos utilizados são praticamente os mesmos utilizados nos laboratórios, só que sem exageros.
É o chamado “Efeito CSI”, a diferença entre a percepção do público e a realidade das coisas.
Mas o que é a Perícia Criminal?
A principal função da Perícia Criminal é produzir prova técnico-científica em processos criminais. Isto significa utilizar a ciência em favor da justiça, através da investigação de crimes com uso de exames e métodos cientificamente validados.
Por essa atuação investigativa e técnica, a Perícia Criminal é também chamada de Polícia Científica.
O tipo de prova produzida pela Perícia Criminal, diferente da prova testemunhal, não pode sofrer mudanças no curso do processo, justamente por ser obtida através de métodos científicos.
O Perito Criminal utiliza as mais variadas áreas do conhecimento científico em seus exames e estudos. Sua atuação inicia na fase investigativa policial e se estende até a fase judicial dos processos, quando são apresentadas as provas em julgamento, por exemplo.
O universo de atuação desse profissional é o das Ciências Forenses, área de estudo interdisciplinar, onde se encontra a criminalística. Os conhecimentos e métodos utilizados relacionam-se às mais variadas áreas do saber científico, como biologia, a física e química.
E como funciona a Perícia Criminal em Jaraguá do Sul?
A Perícia Criminal em Santa Catarina é desvinculada da Polícia Civil desde 2005, quando foi criado o Instituto Geral de Perícias.
Essa autonomia técnica e administrativa é uma prerrogativa da Associação Brasileira de Criminalística e recomendação da ONU, pois os exames periciais devem ser isentos nos processos, buscando sempre a verdade dos fatos.
Essa isenção e imparcialidade são exigidos em razão da Perícia Oficial de Natureza Criminal ser definida como uma atividade auxiliar da justiça.
Em Jaraguá do Sul e região quem é responsável pelos exames periciais de natureza criminal é o 13º Núcleo Regional de Perícias do IGP, que conta com três institutos: Instituto de Criminalística, Instituto Médico Legal (IML) e Instituto de Identificação.
Perícia não é só sangue e exames de DNA
Não é só dos exames em locais de crime que vive a Perícia Criminal, existem diversas outras áreas de atuação do perito.
Exemplos: documentoscopia (exames relacionados a documentos falsos ou não), a balística (exames relacionados a armas de fogo), informática forense (exames em dispositivos eletrônicos, como computadores e celulares), merceologia (exames em materiais falsificados), exames em veículos adulterados, exames em locais de explosões, crimes ambientais, e outras.
Todas essas as atividades técnico-científicas são regidas por padrões metodológicos criminalísticos internacionais.
E o médico legista?
O médico legista também é perito, e seu trabalho complementa aquele iniciado no local de crime. E a análise médico legal de vítimas auxilia na tipificação e qualificação dos crimes.
Mas além de emitirem os famosos laudos explicando as causas de várias mortes, o médico legista é responsável por diversos trabalhos no IML, como exumação de cadáveres e exames de lesões corporais, por exemplo.
Tipos de exames realizados em Jaraguá do Sul
Dentre os exames periciais realizados pelo IGP de Jaraguá do Sul, estão aqueles feitos em locais de crime, os balísticos, documentoscópicos, merceológicos, de identificação veicular, etc.
Quanto aos métodos que costumamos ver na TV, são comuns – na vida real – a busca por vestígios biológicos com utilização de recursos ópticos como luzes forenses ou luminol (em locais de morte violenta) e a identificação da autoria de crimes mediante análise de DNA.
Mas é importante ressaltar que nenhum processo é tão fácil de identificar, e os resultados não saem tão rápido como nas tramas da TV.
Caso solucionado!
Pra mostrar que o IGP de Jaraguá do Sul não brinca em serviço, eles nos contaram a história de um caso de homicídio que aconteceu há algum tempo aqui na cidade.
Segundo Eduardo, o caso foi solucionado com uso de luminol, através da identificação de vestígios de sangue perto do pedal de embreagem. O veículo pertencia ao suspeito, já havia sido lavado, e não apresentava marcas a olho nu.
Uma amostra de sangue foi coletada e, após extração e análise, foi identificado o perfil genético (DNA) da vítima naquele local, conectando assim o suspeito ao crime.
Muito legal, né? É o CSI da vida real, galera! 🙂
Mito ou verdade?
1. Testes de DNA são rápidos
Mentira! Testes dessa natureza levam bastante tempo para serem conclusivos, chegando a dias ou até meses para a chegada do resultado.
2. Sangue brilha na luz ultravioleta
Não, não, não, não! Isso é mais um recurso televisivo para facilitar os enredos das histórias contadas. A luz ultravioleta pode ajudar a detectar diversos outros fluidos corporais na cena do crime, como sêmen, urina, saliva e leite materno.
“Mas e o luminol?”. Se pensou nesse produto, você está muito mais familiarizado com os recursos. O luminol faz o sangue brilhar com uma cor azulada, mas ele não é totalmente eficiente. É necessária uma escuridão quase total para isso acontecer – e o brilho dura pouco tempo.
3. O trabalho forense é pouco burocrático
Os seriados mostram os investigadores forenses com suas vidas corridas, trabalhos complexos e muitos mistérios. Porém, nenhum deles mostra a realidade: papel sobre papel, burocracia sobre burocracia e horas de investigação dentro do escritório. Toda prova coletada precisa ser selada, registrada, carimbada, avaliada e rotulada para ter algum valor. Isso requer horas e mais horas de trabalho extremamente burocrático.
4. Investigadores forenses = grandes celebridades
Ao contrário dos protagonistas das séries de investigação criminal, os profissionais forenses, como os investigadores e analistas, estão longe de serem celebridades. Na verdade eles deveriam ser reconhecidos como profissionais incríveis, pois entendem e atuam nas mais diversas áreas do conhecimento criminal; principalmente os que trabalham em cidades do interior, já que costumam realizar todos os tipos de perícias.
Para finalizar, ficou ainda mais uma dúvida: será que o pessoal que trabalha com criminalística curte as séries de investigação criminal?
Bom, a resposta foi um NÃO, bem grande! E ainda ficamos sabendo que eles preferem ficar longe de qualquer episódio, só pra não se estressar.
Pensando bem, é como se alguém fizesse uma série ou um filme retratando a sua profissão, mas acabar mostrando algo que não tem nada a ver ou é extremamente exagerado se comparado com a realidade. É compreensível! 🙂
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